Cientista político e diretor da Arko Advice fala sobre a situação atual do Brasil, nas relações internas e, também, internacionais. Governo Bolsonaro, cultura política dos brasileiros e comércio com EUA e China são assuntos em debate
Por Jeferson Santana*r
Em meio à pandemia de Covid-19, juntamente com o setor da saúde, o futuro do cenário econômico mundial é tema de grande debates e prognósticos. O que será feito após esse período de reclusão e enfraquecimento econômico, quais previsões para o futuro e a visão dos estrangeiros interessados em investir no Brasil?
São temas abordados pelo diretor da Arko Advice e cientista político, Thiago de Aragão, convidado da live promovida pelo coordenador do Núcleo de Práticas em Economia e Relações Internacionais (Neri), o sociólogo Felippe Ramos, nesta segunda-feira (18).
Criada em 1982, a Arko Advice é considerada a principal empresa de análise política e estratégia do Brasil. Com sedes em três cidades brasileiras e países como Inglaterra e Estados Unidos a empresa formada por cientistas políticos, sociólogos, jornalistas, economistas, publicitários e advogados, prevê riscos e promove táticas de alto impacto.
Aragão explica que a prática de análise de mercado sempre foi um hábito mais utilizado pelos estrangeiros, pois “há uma grande negação da sociedade brasileira em relação ao peso da política no Brasil”.
“É muito fácil ouvir narrativas de pessoas que não gostam da política, porém é uma posição equivocada, pois se você não participar, alguém estará fazendo política por você, utilizando o seu vácuo”, explica o diretor.
Futebol e política se discutem?
A relação entre política e futebol é a analogia utilizada pelo convidado para tentar significar a fragilidade das opiniões no Brasil. “Observamos que assim como no futebol, as opiniões políticas no Brasil são absolutas e corretas. Reconhecer outras visões, o que pode parecer uma fraqueza, pode significar um fortalecimento”, alerta.
Para o especialista, as paixões visíveis nas análises políticas podem ser “interessantes ou inúteis”, já que não seguem uma linha de interpretação, mas sim de confirmação. Por isso, “torna-se muito difícil desenvolver uma crítica sadia”, complete Aragão.
Política: A arte de unificar os lados
A busca pela convergência de opiniões durante debates é considerada como o ponto chave para o fim de uma discussão política. Ao observar o comportamento humano, é necessário abrir mão de convicções defendidas anteriormente, ignorando o posicionamento político do outro envolvido. Para Aragão, “nem tudo que é óbvio para um ponto, é para o outro”.
“A incerteza cria um problema maior, pois ela não te oferece a proteção ou a oportunidade de aproveitar das boas decisões”, diz Aragão. No cenário analítico, “a incerteza é considerada pior que a tomada de decisão ruim”, complementa.
Brasil na visão estrangeira
“O Brasil é confuso e caótico dentro dos limites constitucionais. Na Argentina a incerteza vem da estrutura, no Brasil da conjuntura. Quando o estrangeiro olha para o Brasil, ele observa a relação entre executivo e judiciário, a dinâmica e os parâmetros de negociação tomada pelo Congresso Nacional, antes de colocar dinheiro no país”, relata o especialista.
Expectativa pós pandemia
No contexto da grande crise gerada pela pandemia no Brasil, se encaixam os pequenos conflitos internos criados pelo Governo, como a saída de dois ministros da Saúde.
Segundo o pesquisador, o ambiente é de terra arrasada, não só no Brasil, mas em todo mundo. As estratégias políticas de cada país é que irão definir o desenvolvimento ou não.
“Quando o investidor observa isso, ele cria uma dúvida sobre a agenda pragmática que será adotada pelo Governo”, explica.
A estratégia de recondução do país para uma readequação política ou a confrontação contra as críticas ao Governo Bolsonaro, são fatores analisados pelos investidores, de acordo com o especialista.
Posicionamento
Dando o exemplo da situação da China, considerada em estado crítico, Aragão considera que o Brasil terá que definir um posicionamento caso os chineses decidam comprar muitas commodities (matéria-prima).
“Ao negociar com China, o Brasil terá que se alinhar com os Estados Unidos, parceiro comercial brasileiro, porém rival econômico dos asiáticos”, analisa. O especialista em economia classifica as escolhas como “um verdadeiro jogo de domino”.
Base política e Corrupção
A formação da base aliada de Bolsonaro, seguindo uma lógica antiga, também é assunto abordado por Aragão.
“A fluidez dessa base não significa garantia de sucesso. A reunião do ‘centrão’ (partidos de centro) não pode ser vista como um monstro na máquina pública. Não é certo, porém todo grupo deseja ampliar sua presença no poder”, avalia o especialista.
Ao falar sobre a corrupção histórica e sistêmica da política brasileira, o mestre em Relações Internacionais explica que o o papel da sociedade é inibir a corrupção. “O processo de compreensão política é o ponto de convergência”, explica.
*Sob supervisão de Antonio Netto, Professor de Jornalismo da UNIFACS e Coordenador da AVERA.