A prática é uma forma de democratizar o esporte, trazendo acessibilidade e transformação para muitos jovens em periferias
Por Fábio Saldanha
Revisão: Luís Guimarães
O futebol de várzea é praticado por milhares de jovens de periferias afora, tendo como combustível para a prática algo em comum: o sonho. Para além da prática, o esporte tem um peso na sociedade, sendo ele, um importante fator social e um primeiro passo para uma mudança de vida para vários jovens.
Luis Araújo, 25, nascido e criado no bairro de Paripe, que faz parte do Subúrbio Ferroviário de Salvador, contou um pouco sobre a importância de existir a prática do futebol de várzea em bairros periféricos. “Isso ajuda muito, né? Inclusive na socialização e na integração das pessoas que estão ali reunidas, estão interagindo, saindo de suas casas, conhecendo outras pessoas. Isso ajuda bastante. Ali, o intuito é você estar jogando um campeonato de várzea, você quer ganhar, né? E isso te dá uma certa alegria”, contou o jovem.
No entanto, ele também ponderou que não somente o futebol se faz necessário, mas, também, outros esportes, como o boxe, muay thai, jiu-jitsu e capoeira. “Todo esporte é muito bom, eu mesmo já tive: capoeira, boxe, aulas de esportes. Isso ajuda o jovem da periferia que está sem fazer nada”, completou.
Luis, que tem uma bagagem extensa no futebol, conta que já jogou com vários atletas que jogam atualmente por times profissionais, tendo como destaque Junior Santos, atacante sensação do Botafogo do Rio de Janeiro. “Joguei com ele pela seleção de Eunápolis. A gente tinha uma certa amizade”, concluiu Luis, que também foi colega de campo de outros jogadores como Guilherme Rende que jogou pelo Vitória entre 2019 e 2020.
Para Wanderson de Oliveira, 21, o futebol de várzea é de suma importância no quesito social, pois acaba sendo um fator importante na luta às drogas. “O esporte é acolhedor, ajuda a crianças e adolescentes a ficarem longe das drogas, do tráfico, e isso ajuda no desenvolvimento social de todos eles”, pontuou o jovem.
Wanderson, assim com Luis, tem um grande repertório de clubes que já passou no futebol de várzea, mas, também, já teve algumas oportunidades na base de clubes profissionais, como: Vitória e Internacional. Ele ainda contou que continua jogando de maneira amadora e que não pretende desistir do seu sonho. “Não pretendo largar o futebol, se não der no profissional seguirei na várzea”, comentou Wanderson.
Campeonatos de Várzea
Os campeonatos de várzea além de ajudarem na descoberta de jovens talentos e ser um importante indicador da luta por uma igualdade e dignidade da população, serve, também, como uma forma de movimentar o mercado local.
Como exemplo, em Salvador tem a Copa Cajazeiras, que mobiliza centenas de jovens talentosos e que amam o futebol, bem como chama a atenção de várias empresas que desejam patrocinar o evento, que, inclusive, conta com a presença da emissora TV ARATU, filial do SBT na Bahia, que faz a cobertura do evento, dando ainda mais visibilidade.
Excepcionalmente, a edição de 2024, que estava prevista para ter início no dia 7 de abril, foi cancelada devido às precárias condições do Campo da Pronaica em Cajazeiras 10, local onde acontecem os jogos do campeonato.
O campo chegou a esse estado depois da instalação de um parque de diversões na época do Carnaval 2024, o que gerou muita revolta de parte da população da região. Essa situação acabou ficando ainda mais tensa depois do acidente que ocorreu com um jovem em um dos brinquedos da instalação. O jovem precisou ter o braço amputado depois do incidente.
Necessidade do esporte
O futebol de várzea é uma forma de democratizar o esporte, trazendo acessibilidade e transformação para muitos jovens em periferias. É válido, falar, também, do número de atletas que saem dos bairros periféricos e várzeas diretamente para os holofotes do campeonato brasileiro e dos maiores campeonatos internacionais, podendo ser citado Bruno Henrique, 33, ponta esquerda do Flamengo e que foi Bi-Campeão da Copa Libertadores nos anos de 2019 e 2022 e saiu dos Campos de barro em Belo Horizonte (MG) para bilhar no Rubro-Negro Carioca.
Trazendo para o estado da Bahia, pode-se citar Eric Ramires, 23, meia que atualmente está no RedBull Bragantino de São Paulo, mas que teve o início de sua carreira nos campos de barro de Salvador, antes de ir à base do Bahia, seu clube formador. O futebol, como sendo um importante fator social, tem o poder de mudar a vida de milhares de jovens moradores de periferias.
Foto da capa: Luis Araújo jogando pelo Big Apple, em 2017. Foto: Acervo pessoal