Pesquisas e práticas ajudam a entender os impactos e as necessidades sobre a problemática
Por Luís Felipe Guimarães
Revisão: Luisa Mendes
A Pobreza menstrual é a falta de infraestrutura, recursos e conhecimento das pessoas que menstruam acerca dos cuidados e informações que englobam a própria menstruação.
No Brasil, de acordo com pesquisa realizada pela UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), mais de quatro milhões de meninas não possuem acesso a itens higiênicos básicos, como absorventes nas escolas.
Com isso, o Grupo de Pesquisa Saneamento e Saúde Ambiental da UFBA (GESAM), que já atuava no âmbito do saneamento além domicílio, iniciou a desenvolver pesquisas sobre a pobreza menstrual.
Idealizado pela Professora Patrícia Campos, e liderado por Alice Borges, 19, estudante do 4º semestre de Engenharia Sanitária e Ambiental, o projeto começou a sair da teoria e ir para prática.
“Tudo se iniciou com muita leitura de artigo, a gente conseguiu enxergar além da nossa realidade e, através dessa realidade muito distante do que eu vivo, a gente desenvolveu um questionário”, conta Borges.
Com aproximadamente 55 questões, as perguntas foram aplicadas para alunas de 4 escolas públicas de Cruz das Almas, com o objetivo de identificar as principais carências dessas escolas. Dentre elas, como essas meninas realizavam a higiene menstrual e seus conhecimentos acerca do assunto.
A partir dessa pesquisa, a prática evoluiu para uma oficina de absorvente, realizada no Colégio Estadual Dr. Lauro Passos, em Cruz das Almas.
Nessa oficina, foi ministrada, pela estudante Alice Borges, uma palestra sobre a vulnerabilidade menstrual, e posteriormente, foi aplicado um questionário sobre a temática.
Borges conta que essas perguntas serviram pra mostrar também as falhas que o Sistema Educacional e Governamental tem com essas meninas, as quais tem garantido pela Lei 14.214/2021, absorventes de forma gratuita.
Após a palestra, juntamente com as professoras Lidiane Lordelo e Patrícia Campos, as meninas receberam instruções para confeccionarem seus próprios absorventes. Feitos com tecidos e enchimentos, as alunas escolheram as cores, estampas, e cada uma saiu com seu.
Os absorventes de tecido são uma ótima alternativa aos descartáveis de plástico, tanto financeiramente, pelo baixo custo de produção, quanto sustentavelmente, pelo fato de durarem de 5 a 6 anos. Além disso, não possuem produtos químicos na sua confecção, reduzindo o risco de doenças e infecções.
Borges diz que a ausência de posicionamento do Estado no que tange à pobreza menstrual resulta em várias consequências, como a diminuição do desempenho e evasão escolar, aumento da desigualdade de gênero, impactos na saúde mental e íntima feminina.
“É necessário muito mais, do que adianta a gente distribuir absorventes para as meninas, mas elas não se sentirem seguras no banheiro? Não terem água? Terem luz, mas não terem papel higiênico? Terem porta, mas não terem tranca? Terem vaso, mas a descarga não funcionar?”, ressalta a Borges. “É tudo um conjunto de coisas que precisam acontecer pro extermínio da pobreza menstrual”, completa.
O feedback dessas palestras foi tão positivo que o GESAM continua realizando essas oficinas e palestras em escolas e universidades.
De acordo com a estudante de 19 anos, a coleta das informações registradas nos questionários e práticas serão fundamentais para o desenvolvimento de um relatório que vai ser passado para as Secretarias, como a de Infraestrutura, e para desenvolvimento de artigos, que carecem sobre esse tema.
Borges ainda expõe que o sentimento de participar desse projeto foi além do que imaginava e que com essas ações a realidade das pessoas podem ser mudadas.
“Eu tomo consciência da realidade de outras mulheres e fico com mais vontade de lutar pelo direito delas. Isso pode influenciar mais pessoas também, pode dar essa vontade de mudança a outras pessoas”, relata a estudante.