“As pessoas não precisam ter um padrão para dançar, apenas precisam ter vontade de estar dançando” revela Silene Mercuri, professora de dança inclusiva, nascida em Salvador, que tem como objetivo levar essa arte para pessoas com deficiência.
Por Beatriz Amorim
Revisão por Gabriel Ornelas
Com a crescente expansão da inclusão em diversos setores sociais, torna-se imperativo ampliar ainda mais essa abrangência, proporcionando atividades de lazer inclusivas para pessoas com deficiência. Nesse contexto, a dança, que historicamente tem sido um meio de união entre as pessoas, torna-se agora acessível a todos os públicos. Na busca incessante por formas inovadoras de inclusão e expressão artística, a equipe do Avera Notícias conversou com Silene Mercuri, soteropolitana, formada em dança pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora, professora e diretora do grupo AURORA, cujo foco é proporcionar uma dança de maneira inclusiva para portadores de deficiência.
Confira a entrevista abaixo:
Como surgiu o interesse e a motivação para lecionar dança para as pessoas com deficiência?
Então, quando eu iniciei a faculdade de dança, eu iniciei sem ter a pretensão de trabalhar com dança como uma forma de inclusão, até porque a minha vivência era com danças populares e folclóricas. No decorrer do meu trabalho e dos meus estudos, eu pude perceber que havia algo lá dentro de mim que ainda faltava.
Dessa forma, o que faltava era permitir que a dança chegasse para todas as pessoas, corpos diferentes, lugares diferentes.
Quais são os desafios específicos enfrentados ao adaptar as aulas de dança para atender às necessidades de portadores de deficiência?
O maior desafio que enfrentei foi pela inexperiência. Eu fui adquirindo experiência e conhecimento no decorrer das minhas vivências e com observações de professores que já trabalhavam de alguma forma com dança inclusiva. Então, eu tive muitos desafios e medos, principalmente de não conseguir chegar até uma realidade que eles estavam repassando para mim, uma realidade diferenciada. E eu queria atender essa realidade da melhor maneira, construindo um lugar onde eles pudessem desenvolver o seu potencial, através dos movimentos e da expressão artística da realidade que eles estavam vivenciando.
Como as aulas de dança inclusiva impactam positivamente a vida dos alunos com deficiência, tanto física quanto emocionalmente?
A aula de dança inclusiva constrói meios para que essas pessoas possam se desenvolver dentro da sua realidade corporal. A aula de dança proporciona um caminho em que o sujeito pode buscar um bem estar. Dentro do seu caminho, buscando a autovalorização e o autoconhecimento, levando a memórias desse corpo e se expressando de uma forma mais saudável. Como eu posso dizer, a aula de dança, é prazerosa. Então, o corpo, ele precisa ter essa expressão, essa linguagem não falada, mas sim uma linguagem sentida e poder proporcionar uma relação com o outro.
Quais estratégias você utiliza para criar um ambiente inclusivo e acolhedor nas aulas de dança?
Eu percebo que os espaços, eles não estão preparados para receber essas pessoas, certo? E nós, profissionais, temos que ter esse desafio. Temos que ter esse olhar e buscar meios que proporcionem a quebra da rotina para que essas pessoas tenham acesso às aulas. Então, geralmente, eu atendo à domicílio, ou senão, quando é um trabalho em grupo, a gente busca a ajuda de pessoas que possam dar esse acesso àquelas que não têm possibilidade de locomoção. E além disso, sempre levo elementos que possam dar mais conforto para esses alunos. São desafios que você precisa como profissional estudar para poder beneficiar a todos.
Como as aulas de dança para pessoas com deficiência contribuem para a quebra de estigmas e promovem a inclusão social?
Para as pessoas com necessidades especiais, elas se sentem acolhidas. Esse sentimento de acolhimento, de pertencer a um lugar que proporcione essa autovalorização. O momento onde o dançar é a maneira de poder se comunicar com a sociedade e com pessoas que convivem no dia a dia com eles. Então, a AURORA é um grupo de dança inclusiva que além de estarmos dançando nós somos motivadoras e fazemos palestras. Além disso, fazemos um trabalho de sensibilização em escolas e em alguns ambientes de trabalho, para que essas pessoas que têm deficiência, até no seu trabalho, saibam o quanto a dança e o movimento do corpo podem proporcionar uma qualidade melhor de vida.
Que conselhos você daria a outros professores de dança que desejam iniciar ou aprimorar suas práticas inclusivas?
O melhor conselho é se permitir, é se permitir levar a dança a esses corpos que estão adormecidos ou que não possuem acesso à prática. Eu acredito que dançar é para todos, pois isso vai se tornando uma terapia. Uma terapia do corpo, uma terapia da espiritualidade, uma terapia das emoções e todas as pessoas precisam ter acesso. As pessoas não precisam ter um padrão para dançar, apenas precisam ter vontade de estar dançando. Aos profissionais, a prática da inclusão é realmente adquirida no convívio, nas suas descobertas enquanto pesquisadores, enquanto professores. Se inclua, dance se incluindo na vida do outro, tenha empatia e cuidado com pessoas portadoras de deficiência.