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Letalidade policial na Bahia: até quando vamos naturalizar o inaceitável? 

Da Redação
7 de junho de 20257 de junho de 2025 No Comments

Por Paloma Simina

Revisão Kátia Borges

Fotos: Mateus Medina/DPE-BA

“Não é bala perdida quando sempre encontra o mesmo corpo.” Essa frase, ouvida na audiência pública promovida pela Defensoria Pública da Bahia, ecoa como um grito coletivo das famílias que perderam filhos, irmãos, pais — todos mortos por uma política de segurança que mira, quase sempre, os mesmos alvos: jovens, negros, pobres e moradores das periferias.

A Bahia está entre os estados com os maiores índices de letalidade policial no Brasil. Segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado, em parceria com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense, somente em 2023 o estado registrou 230 operações policiais com tiroteios, resultando em 261 mortes. Esses números colocam a Bahia na liderança nacional em mortes por ações do Estado — uma posição trágica que deveria gerar indignação e medidas urgentes. No entanto, ano após ano, vemos o aprofundamento de práticas violentas, racistas e ineficazes, sustentadas por discursos que transformam a dor em estatística e a morte em rotina.

O caso de Victor Cerqueira, conhecido como Vitinho de Luzia, é um dos rostos dessa tragédia anunciada. Negro, jovem e morador do sul da Bahia, ele foi assassinado durante uma operação policial em maio deste ano. Seu corpo apresentava sinais de tortura, e até agora o caso permanece sem resolução. 

Luzia Cerqueira, mãe de Vitinho de Luzia. Foto de: Mateus Medina/ DPE-BA

Audiência pública

Na audiência pública realizada na última sexta-feira (30), a dor ganhou voz: sua mãe, emocionada, esteve presente e entregou às autoridades uma petição com mais de 30 mil assinaturas cobrando justiça. Sua presença não foi apenas um ato simbólico, foi um grito contra a naturalização da morte de corpos negros nas periferias baianas.

Um dos relatos mais fortes da audiência, uma voz da comunidade trouxe à tona o peso do estigma: “Ah, é envolvido, por isso que morreu. Todo mundo aceitou. Passou a ser? É traficante? O mundo aceitou até o final do momento. Os veículos de comunicação continuam colocando a cara do jovem preto como bicho, como vilão.”

Essa fala denuncia o ciclo perverso da criminalização da juventude negra, onde a mídia e o discurso institucional reforçam o imaginário de que toda pessoa negra morta pela polícia “devia estar fazendo algo errado”. Quando o estigma se antecipa ao direito, a violência se institucionaliza.

O militante Antônio Ramon Silva também fez um alerta incisivo sobre a linguagem que desumaniza e transforma comunidades inteiras em zonas de guerra: “As comunidades deixaram de ser bairros e passaram a ser chamadas de localidades. Não é mais o bairro de Paripe, é a localidade de Paripe. Tudo isso para justificar que ali é lugar de marginal, lugar de confronto.” 

          Antônio Ramon. Foto de: Matheus Medina

Mudança de vocabulário

Essa mudança de vocabulário não é ingênua. Ela serve para reforçar a ideia de que certos territórios estão à margem da sociedade e, por isso, podem ser alvos de operações violentas — sem escândalo, sem comoção, sem responsabilização.

Durante a audiência, a delegada Simone Moutinho, representante da Secretaria de Segurança Pública (SSP) apresentou dados oficiais indicando uma suposta redução da letalidade policial na Bahia. Mas esses números foram duramente questionados por representantes dos movimentos sociais presentes, que apontaram o abismo entre os dados apresentados e a realidade vivida nas periferias. “Esses números não batem com o que vemos nas comunidades. A sensação é que querem silenciar a dor com estatísticas desconectadas do chão da favela”, afirmou a ativista Laura Soares da rede de proteção à juventude negra.

Relatos de mães

Ao ouvir os relatos de mães, militantes e profissionais, não há como se manter neutro. O jornalismo não pode ser cúmplice do silêncio. O Estado não pode continuar premiando a lógica do confronto em detrimento da vida. E a sociedade precisa entender que, enquanto aceitarmos a morte de alguns como preço da segurança de outros, não haverá justiça — apenas massacre legitimado.

A letalidade é um projeto. E, como todo projeto, pode ser interrompido. Mas isso exige coragem política, compromisso com a vida e pressão social. O debate iniciado na Defensoria Pública precisa ecoar nas ruas, nas escolas, nas universidades e nos parlamentos. Porque, no fundo, a pergunta que precisamos responder é simples: Quantos mais vão precisar morrer até que algo mude?

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