Mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre 1965 e 2014 foram escritos por homens
Por Monique Sousa
Revisão: Vinícius Daniel
Leia Mulheres é um Clube de Leitura que se propõe a discutir livros escritos por mulheres e que possuam um conteúdo que traga à tona discussões sobre o universo feminino ou questões que a ele tangenciam.
O Leia Mulheres Salvador tem 7 anos de existência, seu primeiro encontro foi em janeiro de 2016. Surgiu a partir do Leia Mulheres criado em São Paulo, que foi inspirado no projeto #readwomen2014 de Joanna Walsh. O projeto conta com mais de 400 mediadoras, em mais de 100 cidades.
“Um clube de leitura também é um espaço que possibilita a discussão sobre os livros. A leitura é um hábito solitário, participar de um clube de leitura possibilita a ampliação da leitura, conhecer novos pontos de vista e pessoas que também compartilham o gosto pela literatura”, relata Ellen Guerra, mediadora do Leia.
A proposta do clube é conhecer e ler mais autoras mulheres, além de construir um espaço de debate aberto à opinião de todos, com lugar para pessoas de todos os gêneros, classes sociais, credos etc.
Entenda a importância
Para entender o conceito do projeto, vale resgatar alguns resultados coletados a partir de uma pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, vinculado à Universidade de Brasília (UNB), que mostram que mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre 1965 e 2014 foram escritos por homens.
Além disso, 90% foram escritos por pessoas brancas e pelo menos metade vem do eixo Rio-São Paulo. A pesquisa ainda apontou que, em 115 anos de existência do prêmio Nobel de Literatura, apenas 13 mulheres foram vencedoras, e que entre os 40 membros da Academia Brasileira de Letras, atualmente só cinco são mulheres (Rachel de Queiroz, a primeira a ocupar um dos postos, em 1977, só conquistou a cadeira 80 anos depois da criação da instituição).
“Até há pouco tempo as mulheres não tinham muito espaço no mercado editorial, seus escritos não eram levados à sério. Muitas escritoras assinavam seus livros com nomes masculinos para serem lidas”, comenta Olívia Biasin, participante do clube.
Ler livros escritos por mulheres não é um hábito muito comum. Na mesma pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UNB), os dados mostraram que a maioria dos romancistas brasileiros publicados por grandes editoras são homens brancos, heterossexuais, de classe média e moradores de grandes cidades.
“Leia Mulheres em todo o país colaborou para ampliar o espaço das escritoras no mercado editorial’’, afirma Glaucia Ventura, mediadora do Leia.
O clube também traz uma reflexão sobre o quanto as estantes podem estar masculinas e a importância de conhecer e ler escritoras.
As reuniões acontecem no último sábado de cada mês, no Museu de Arte da Bahia (MAB), no Corredor da Vitória. O livro que será discutido é definido com antecedência e informado no instagram, (@leiamulheres_ssa), para que haja tempo hábil para a sua aquisição e leitura.
O encontro do mês de maio será no dia 27/05/2023, às 14:30h. O livro abordado é “Caderno de memórias coloniais”, da jornalista e escritora Isabela Figueiredo.