Monitoramento de mídas digitais, analytic e fake news. Jornalista e professor universitário conta os desafios da área de dados aplicada ao jornalismo
Por Eduardo Bastos
Revisão: Ismael Encarnação
O Jornalismo de Dados é a análise de informações disponibilizadas online, seja em pesquisas, documentos ou monitoramento, e que podem ajudar na construção da notícia. A respeito dessa cada integração jornalística entre os dados e a comunicação, Antônio Netto, professor e jornalista, responde nossas perguntas.
Antônio Netto é jornalista, graduado pela Universidade Nova de Lisboa, de Portugal. Possui especialização em Ciências da Comunicação e MBA em Comunicação e Marketing em Mídias digitais. Possui bagagem internacional no âmbito da Comunicação, com experiências em órgãos importantes da área, em Portugal e na Alemanha.
De que forma a sua atuação na profissão usa a área do Jornalismo de Dados em seu dia a dia? É um elemento rotineiro ou incomum?
Jornalismo de Dados hoje em dia é mais comum do que se pensa. ferramentas digitais, como o Google Analytics, que vai analisar as páginas mais visitadas do portal, ferramentas que vão monitorar as mídias sociais e ainda o próprio olhar crítico do jornalista sobre os assuntos que estão sendo mais falados nas redes sociais.
Nisso tudo, a gente pode considerar o uso dos dados para a geração de ideias, de pautas, de análises. Do que é mais lido, do que é menos lido, do que funciona mais. Então, já virou uma rotina no trabalho do jornalista. Então, se a gente fala de Jornalismo de Dados, a gente está falando do cotidiano de qualquer redação de Jornalismo.
Como começar a trabalhar com Jornalismo de Dados? Quais aptidões o jornalista deve ter para formular matérias nesse estilo?
A gente falava que antigamente o jornalista pautava e escrevia, apenas. Hoje, o jornalista precisa entender muito sobre ferramentas de monitoramento, ferramentas de Google Analytics. Saber e entender métricas.
Existem cursos específicos de Jornalismo de Dados, alguns cursos que vão levar este conhecimento um pouquinho mais técnico para um jornalista, mas também na prática de rotina de mercado, isso pode ir sendo aprendido.
Acho que cabe muito mais ao jornalista buscar essas informações, muitas delas disponíveis na internet, como ele pode se adequar a este mercado. E as instituições de ensino, hoje, como as faculdades de Jornalismo, já estão inserindo disciplinas voltadas para a área de Jornalismo de Dados.
O Jornalismo de Dados traz elementos e números que corroboram com a apuração da notícia. Na sua opinião, como a forma de se fazer notícia mudou com o advento desses elementos?
Acho que o Jornalismo de Dados e o acesso à informação vêm muito impulsionado realmente pelas ferramentas digitais. Os dados são muito mais acessíveis do que antes. Você vê, por exemplo, o portal da transparência, que dá o acesso às contas, aos gastos públicos, isso para dar um exemplo.
Mas as instituições, por exemplo, a própria Transalvador disponibiliza no site várias informações dos dados que vão coletando e processando, das atividades de trânsito e de acidente. Então, o acesso ao dado ficou facilitado. Talvez essa seja uma das maiores mudanças que a gente tem hoje em dia, que antes havia uma dependência muito maior de instituições, daquela demora da resposta.
Também dados abertos, como exemplo, o próprio monitoramento de redes sociais, que pode gerar ideias de pauta e lá pode entender o que o público está falando em relação a um assunto.
Na sua opinião profissional, como essa área contribui em uma era de pós-verdades, principalmente, levando em conta a alta de fake news?
A partir do momento que a gente está falando de dados, a gente está falando também de checagem, de verificação de números e da informação, da interpretação desses dados para se transformar em notícias.
Isso é exatamente o conceito contrário da fake news, que casa justamente com a inverdade, ou, para ser mais direto, com a mentira. Seja por má interpretação, por má instrução ou até mesmo por mau-caratismo de criar uma inverdade.
Então, acho que nesse sentido, o Jornalismo de Dados, assim como as outras áreas do jornalismo sério, interferem diretamente no combate dessas fake news.
Entre o uso de dados públicos, dados privados, qual seria a forma mais meticulosa de pegar informações com clareza?
Hoje em dia tudo é dado na internet. Desde o nosso acesso, onde os algoritmos coletam dados sobre a nossa navegação… e todos os sites coletam dados. Quando se acessa um site, lá tem os cookies.
Existem inúmeras ferramentas para captura de dados, para análise de dados, como próprio Analytics, que se instala nos portais. As plataformas digitais como Facebook, Instagram, Twitter e LinkedIn, também geram dados, elas têm seus analytics internos.
Então, os dados estão aí, e acho que nesse ponto entra a capacitação de um profissional para entender como capturar esses dados e processá-los. Como fazer a coleta dessas informações e processá-las para transformar em uma informação e, consequentemente, em uma notícia.
Então, não é na verdade a ferramenta, simplesmente, mas a forma como se usa, a forma como vai se interpretar esses dados. Talvez essa seja uma das partes mais importantes desse trabalho de Jornalismo de Dados
Como conhecer programação e saber utilizar códigos de programação diferenciam o mercado e o trabalho de jornalista?
Não necessariamente o jornalista precisa saber de programação ou utilizar códigos HTML para atuar na área. Claro que, no jornalismo de dados, muitas das ferramentas utilizadas, ferramentas de monitoramento, ferramentas que precisam ser instaladas no site, isso tudo normalmente é configurado por um programador.
As equipes de jornalismo contratam um programador para trabalhar nas suas redações ou para fazer pelo menos as configurações iniciais. Depois o jornalista vai precisar saber utilizar essas ferramentas e aí dentro disso, tudo bem, eu preciso entender, mas não necessariamente ter o conhecimento de programação, especificamente.
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Produção e coordenação de pautas: Márcio Walter Machado