A baiana jogará pela primeira vez em solo baiano: “Eu falei que é o jogo da minha vida”
Por Anna Gherardi
Revisão por Airton São Pedro
Rafaelle Souza nasceu e cresceu em Cipó, uma cidade do interior da Bahia. Desde pequena, sempre gostou de futebol e sua brincadeira favorita na infância era brincar de bola com os meninos, seja na praça, na rua ou na quadra de sua escola. Uma de suas memórias inesquecíveis de infância é o seu aniversário de sete anos, em 1998. Como fazia aniversário em junho, sempre coincidia com a Copa do Mundo e neste ano sua mãe decorou a festa com o tema “Seleções”, fechando até mesmo a rua em que morava para que Rafaelle e seus amigos brincarem de futebol.
Ainda assim, a paixão pelo futebol não a impediu de ouvir comentários maldosos de seus vizinhos que não aceitavam que uma garota gostasse de jogar bola. Em sua entrevista para a Nike, Rafaelle contou que os vizinhos proibiram suas amigas de andar com ela: “e proibiam as filhas deles de brincar comigo porque eu estava com os meninos jogando. Pediam para elas não se misturarem comigo, como se eu fosse uma coisa negativa”.
Mesmo em meio ao preconceito, a atleta persistiu e aos 15 anos começou a jogar no time adulto do São Francisco do Conde, logo após foi convocada para jogar na Seleção sub-17, convocação inédita da Seleção Feminina. Após isso, foi para o sub-20, contudo, passou para engenharia, na Universidade Estadual da Bahia, e pelas suas condições financeiras, era quase como uma obrigação escolher a engenharia.
Porém, o pai de uma amiga a aconselhou a conseguir uma bolsa de estudos nos Estados Unidos para estudar, enquanto jogava futebol. Ao se mudar, Rafaelle diz ter tido muitas dificuldades para se adaptar ao novo cenário. “Eu não falava nada de inglês. Mal conseguia dizer “how are you” (“como você está?”). Fui dois meses antes pra fazer um curso intensivo porque eu tinha que passar na prova pra fazer faculdade – se eu não passasse, teria que estudar seis meses só de inglês e, sem a faculdade, eu não poderia jogar. Passei com a nota limite. Meu curso era Engenharia Civil, peguei só as matérias de Cálculo, coisas que tinham só números e contas, pra me virar. Foi difícil, adaptação da cultura, da língua, comida”, conta a jogadora.
A carreira de Rafaelle começou a ganhar destaque quando ela se mudou para os Estados Unidos. Lá, ela brilhou, o que a levou a ingressar no futebol profissional, jogando em ligas de destaque. Sua habilidade como zagueira e sua liderança nata a tornaram uma peça fundamental na Seleção Brasileira Feminina.
Hoje, Rafaelle Souza é mais do que uma jogadora talentosa; ela é a capitã da Seleção Brasileira Feminina. Sua liderança dentro e fora de campo é inquestionável, inspirando suas companheiras de equipe e jovens jogadoras em todo o país. Rafaelle é conhecida por sua dedicação e, acima de tudo, por nunca esquecer suas origens.
Na próxima terça-feira, 4 de junho, a Arena Fonte Nova, em Salvador, será palco do confronto entre a Seleção Brasileira Feminina de Futebol em um amistoso contra a Jamaica. Em suas redes sociais, Rafaelle compartilhou: “Eu como baiana, ‘tô’ muito feliz de jogar no meu estado que eu tanto amo”.
A Seleção Brasileira desembarcou em Salvador neste domingo (2), os fãs receberam as atletas no aeroporto e em especial, a baiana Fafá. Este é um momento de celebração não apenas para ela, mas para toda a Bahia, que vê uma de suas filhas se destacar no cenário nacional e internacional.