Há mais de 12 anos, a organização social oferece qualidade de vida para as pessoas marginalizadas
Por Airton Santos
Revisão: Beatrice Magalhães
A Associação Pleno Cidadão (ASPEC) surgiu em 2009, e, desde então, trabalha na recepção e abrigo de homens e mulheres que estão à margem da sociedade, sendo estes moradores de rua, desempregados sem perspectiva financeira e até mesmo dependentes químicos. A organização não tem fins lucrativos e possui como essência o trabalho coletivo para o auxílio dos cidadãos acolhidos.
Como o nome da fundação diz, o seu objetivo é buscar a plenitude social do indivíduo que é recebido nas casas de acolhimento ou lares sociais.
Ao todo, são sete unidades acolhedoras em Salvador e três lares sociais em Lauro de Freitas. A diferença dessas sedes se dá pelo perfil auxiliado.
Enquanto nas casas os beneficiados são homens, mulheres, casais ou famílias em condições de vulnerabilidade, nos lares o trabalho é feito para pessoas com transtorno e/ou deficiência mental/intelectual.
Além do mais, nos lares, o tempo de acolhimento é maior, dadas as circunstâncias deste público, que além da deficiência, rompem seus vínculos familiares e passam a depender totalmente dos cuidados da associação.
Isso não necessariamente ocorre nas casas. Nessa situação os acolhidos têm autonomia de seguir com suas rotinas, além de estarem em condição de ganhos financeiros vindos dos auxílios governamentais, melhorando suas condições sociais.
A Associação Pleno Cidadão atua em parceria com a Prefeitura de Salvador, a SEMPRE (Secretaria de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer) e o Governo do Estado.
Há o fornecimento de diversos serviços, incluindo psicologia, atendimento e educação social, arte e educação física.
Para o público jovem, também há a possibilidade de estagiar na fundação ou ser jovem aprendiz, com cursos profissionalizantes na área de auxiliar administrativo.
Flávio Leite, coordenador na unidade da Liberdade, está nesta casa desde sua fundação, em abril de 2020. Esta unidade atualmente é a que mais abriga pessoas solteiras, sendo 80 ao todo, com 68 homens e 12 mulheres.
Segundo Leite, é extremamente desafiador trabalhar com esse quantitativo “pois são 80 universos totalmente distintos”, afirma.
Trabalhar na ASPEC para o gestor da casa é sobretudo uma tarefa com imprevistos que pedem cuidado e atenção.
“O trabalho na ASPEC é uma verdadeira montanha russa. Ao mesmo tempo que tá tudo tranquilo, surge um conflito pra mediar e etc. Porém é um trabalho renovador, por ajudar a retomar a autonomia das pessoas que viviam em situação de vulnerabilidade social”, confessa o coordenador.
“Como coordenador tenho a responsabilidade de organizar a equipe para desempenhar um melhor serviço, e também, no trato com os acolhidos, a coordenação é de extrema importância para mantimento da ordem e cumprimento da garantia de direitos”, relata Leite.
Sobre a organização, Flávio Leite ainda comenta como é importante sua atuação para o ser-humano atendido.
“O social nunca foi uma prioridade para as lideranças políticas, logo o trabalho que a ASPEC executa tem em vista acolher, empoderar e encaminhar os assistidos, sendo de extrema importância a existência da Associação Pleno Cidadão”, explica Leite.
“Os acolhidos necessitam dos serviços da ASPEC em parceria com a prefeitura municipal para retomarem os direitos violados, se reorganizarem na sociedade e terem um novo sentido para vida”, completa.
A sede da Ribeira possui uma característica particular, pois, diferentemente das outras, possui dois departamentos no mesmo prédio, com diferentes coordenadores responsáveis por eles.
Numa área, ficam apenas homens, em outra, apenas casais. Além dos funcionários, cerca de 100 acolhidos convivem no espaço, número recorde.
O coordenador da instalação com casais, Alexandre Barreto, é membro veterano, fazendo parte da ASPEC desde o ano de sua fundação, em 2009.
Sobre a questão de lidar com casais, ele afirma ser uma experiência diferente de qualquer outra vivida.
“Lidar com casais numa casa de acolhimento é bem complexo, tanto que a nossa unidade desenvolve seu trabalho no aspecto de alta complexidade, onde você vai ter diversas intervenções num público variado”, explica o coordenador da instalação.
“Reconstruir a noção de cidadão ou indivíduo social que muitos dos abrigados perderam aqui numa casa de acolhimento é muito difícil, ainda mais com casais, alguns tendo tantas diferenças”, complementa Barreto.
Além do mais, Alexandre ressalta a eficácia da atuação coletiva com os colegas de trabalho para lidar com os desafios de um público diversificado.
“Com a equipe técnica e pessoas habilitadas a gente consegue mapear o pré-comportamento deles e criar ações preventivas, com atividades como rodas de conversas, discursos sobre a realidade que eles viveram na rua e o que fazer pra mudar isso, sempre na ideia de prevenção”, pontua o veterano.
Barreto também fala sobre como os hospedados são impactados positivamente com o abrigo na casa, já que muitos vêm de uma situação extremamente hostil e instável. É a partir de um conforto e disponibilidade de serviços essenciais que eles encontram tranquilidade para se organizarem novamente e buscarem seus direitos e benefícios.
“A ASPEC impacta não só na parte social, mas também na parte moral, ética e mental desses indivíduos”.
Edílio Mattos, que gere a área exclusiva para o público masculino, antes de assumir tal função atuou como educador social dentro da própria organização, na sede de Pituaçu.
Hoje, num cargo maior, Edílio comenta como a sua outra experiência de carreira o fez um gestor mais capacitado:
“Eu falo sempre que quando você consegue entender um pouco mais da área de educador, que é o início de tudo, você consegue ter uma visão melhor pra desenvolver esse trabalho com as pessoas”, diz Mattos.
No aspecto de trabalho com pessoas, Edílio comenta sobre como esse contato muda a vida de qualquer funcionário, trazendo ainda sua paixão pelo que faz.
“Você entra de um jeito e vai sair de uma outra forma, mudado, pois você tá lidando com pessoas em várias situações, e se consegue conhecer o ser humano profundamente, em várias versões. Eu faço isso porque eu gosto, reerguer alguém que em algum momento estava na miséria e perdeu sua dignidade é muito bom”, comenta o coordenador.
Dentre todos os serviços disponibilizados na Ribeira, assim como nas demais casas, o social acaba sendo o mais impactante, com atuação de educadores sociais, atendentes sociais e psicólogos.
Márcio Americano é psicólogo dessa sede desde 2019 e caracteriza sua posição como a de mais alta dificuldade para resolução de problemas, já que muitos indivíduos entram na casa com o emocional totalmente fragilizado.
“Acompanhar 50 pessoas é um desafio muito grande, pois são 50 histórias, 50 sujeitos diferentes”, declara Americano.
Falando a respeito do seu impacto para o sucesso da ORG, Marcio deixa claro que não assume protagonismo na casa, pois é o trabalho em equipe que potencializa os resultados do serviço em questão.
“É um trabalho em conjunto, e é pela equipe que a gente vê o impacto na vida do acolhido. Porque se eu trabalho apenas a saúde mental daquele indivíduo e não se resolve também a questão da documentação dele de nada adianta”, reforça o psicólogo.
As casas estão distribuídas em seis bairros:
Boca do Rio, atendendo casais;
Itapuã, atendendo casais;
Pituaçu, atendendo homens;
Ribeira, com duas unidades no mesmo prédio, atendendo homens e casais;
Liberdade, atendendo homens e mulheres;
Roma, atendendo casais;
Os lares distribuem-se em três localidades de Lauro de Freitas, sendo eles:
Lar Social Florescer, em Abrantes, Camaçari;
Lar Social Polarys, em Itinga;
Lar Social Pleno Cidadão, em Itinga.
Reforça-se que os lares atendem homens e mulheres com transtornos ou deficiências mentais.
A Associação Pleno Cidadão segue seu trabalho de acolhimento, com demais informações e abas para inscrição em estágio ou jovem aprendiz, além de espaço para doações em https://www.plenocidadao.org.