Convidadas especiais promoveram discussões sobre empoderamento, representatividade e resistência negra
Por Isadora Vila Nova
Revisão por: Daniel Freitas
Nesta sexta-feira (1º), ocorreu o segundo e último dia do 3º Colóquio Plurais: Culturas Negras no Auditório da UNIFACS, Campus Tancredo Neves, em Salvador. A partir do tema macro “A ancestralidade ecoa em nossas vozes”, a primeira mesa de debate do dia, mediada por Jan Góes, contou com a participação de Linda Bezerra, Gabriela Cruz e Vanessa Balbina.
O encontro iniciou os diálogos sobre Tecnologia, Moda e Afrofuturismo a partir de reflexões sobre Salvador, cidade que se tornou uma verdadeira passarela de representatividade, inovações e expressões artísticas. O uso de turbantes, roupas étnicas tradicionais e cortes modernos vem criando visuais que interligam a ancestralidade, a contemporaneidade e o futuro das culturas negras.
Linda Bezerra, editora chefe da redação do Correio, trouxe os aspectos da construção do Afro Fashion Day, projeto do Jornal Correio que promove espaços de visibilidade, crescimento e empoderamento de modelos, estilistas e empreendedores negros baianos.
“As nove edições carregam um legado, uma identidade própria que representa a pluralidade. O Jornal tem um cuidado de fazer conteúdo que não mostra o negro só nas páginas policiais, na violência. A gente brinca que no Afro Fashion Day é da Bahia pro mundo, porque é realmente o que acontece quando trazemos oportunidades e espaços para essas pessoas se transformarem” disse Linda.
Gabriela Cruz, jornalista e organizadora do Afro Fashion Day, também destacou o tamanho e a importância do evento para as comunidades negras, principalmente no aspecto do empreendedorismo.
“A gente lida com todo tipo de criação. Temos desde marcas com loja em shoppings, até os estilistas sob medida, de ateliê próprio, que criaram suas identidades dentro dos bairros em que moram e não sabem como comercializar seus produtos. Não é uma logística fácil, mas corremos atrás porque queremos dar voz às narrativas, e fazemos isso com muito amor e afeto”, comentou Gabriela.
Após um momento de abertura para perguntas do público, o debate prosseguiu com Vanessa Balbina, professora, pesquisadora e idealizadora da metodologia “Boamática”. Citando o processo de decolonialidade e desconstrução em sua fala, ela destacou a tecnologia e a educação como facilitadores da expressão afrofuturista.
“Eu tenho sim esse desafio de desconstruir as dificuldades, de aumentar os índices de melhora em sala de aula, mas a matemática é África, e eu busco sempre trazer uma visão inclusiva e histórica dos assuntos antes de partir pra prática. Quero que os meus alunos tenham essa sensação de pertencimento, que vejam em mim e na educação uma esperança, uma resistência”, afirmou Vanessa.
A intersecção entre a tecnologia e a desconstrução dos paradigmas impostos pelo colonialismo possibilita a inovação cultural, a equidade e a representatividade, abrindo portas para o fortalecimento das comunidades negras ao redor do mundo.