Falta de apoio financeiro obriga atletas a terem jornadas conjugadas de trabalho, que interfere na qualidade dos treinos e nos resultados
Por Cleison Santiago
Revisão: Antônio Netto
Para além dos desafios esportivos, os atletas brasileiros têm ainda mais um problema: falta de investimento e patrocínios em suas carreiras. Por isso, muitos esportistas precisam se virar com pouca infraestrutura ou dividir o tempo do treinamento com outros empregos.
Além disso, devido a pandemia do coronavírus, vários atletas, até mesmo profissionais, perderam patrocinadores e tiveram dificuldades pela suspensão de eventos.
Para os atletas amadores ou semiprofissionais, que já não tinham patrocínios e contavam com ajudas de pessoas próximas, apoiadores ou através de levantamento receitas, como rifas para ajudar nos custos, muitos precisaram se desdobram em múltiplos trabalhos, impactando a rotina de treinos.
A falta de receitas e os altos investimento para as competições torna o processo de profissionalização dentro do esporte inacessível para muitos atletas.
Darlan dos Santos é professor e atleta de MMA. Para ele, a maior dificuldade para manter os treinos está em não ter patrocínios, não só no amador, mas também no esporte profissional.
“A rotina de treinos é muito intensa e para um atleta sem patrocínio ter que se dedicar a treinar intensamente, ter o tempo certo de descanso para recuperação, e isso com estudos e trabalho, tudo ao mesmo tempo, acaba desgastando muito mais aquele atleta que não tem os patrocinadores e tem que correr atrás dos gastos em viagens, campeonatos, alimentação, hospedagem, dificulta muito”, relata Santos.
Wesley da Silva, atleta de Kickboxing e MMA, também relata dificuldade para conseguir patrocinadores. O atleta relembra o momento, ainda jovem na sua jornada como lutador, em que precisou disputar um campeonato, mas por não ter apoio financeiro para viajar, seus professores de academia o ajudaram com transporte e alimentação.
Entretanto, seus professores, que também trabalhavam em outras lugares para se manter, não puderam acompanhá-lo no campeonato, mesmo ele ainda sendo menor de idade na época. Um relato que ainda hoje marca o atleta, que teve que se virar completamente sozinho.
“Eles tinham que ir trabalhar para poder pagar minha inscrição no campeonato, alimentação e transporte”, conta Silva.
Falta de apoio governamental
“Sinto falta de alguém que olhe para a gente. Recentemente teve o Campeonato Brasileiro de Kickboxing e a Bahia, pela primeira vez, foi para um evento grande assim representada, porque foram em torno de 25 atletas e voltamos com 18 pódios. Alguns tiveram patrocínios da prefeitura e de alguns políticos, então pense no geral quantas medalhas a Bahia não podia trazer?”, questiona Santos.
O Governo Federal tem programas de bolsas de apoio financeiro para atletas, como Bolsa Atleta ou Faz Atleta, entretanto, para conseguir alguns desses auxílios o atleta precisa ter ranking nacional ou ainda contar com parcerias empresariais, através de benefícios fiscais que são revertidos ao Esporte, que muitas vezes apostam em modalidades mais populares.
“O Governo acaba não olhando muito para a gente que faz artes marciais, eles acabam denominando o Brasil como o país do futebol e tudo acaba rodando em torno disso, então não só o MMA, mas os outros esportes ficam abandonados”, opina Silva.
Força de vontade para se manter no esporte
A falta de incentivo financeiro e apoio acarreta na desistência de muitos atletas, principalmente aqueles que estão no início da sua jornada. Mas o professor e atleta Darlan dos Santos incentiva quem está começando a carreira como atleta:
“Nunca desista dos seus sonhos, se você quer, batalhe, corra atrás. Porém nunca se esqueça, nunca desista dos seus sonhos. Se os outros conseguiram porque você não vai conseguir? Eu sou o exemplo disso, não cheguei ainda onde quero, mas estou mais perto do que ontem.”