Evento foi marcado conexões, vivências ancestralidade e pela presença de importantes figuras do ecossistema Afroempreendedor da Bahia
Por Ana Carolina Araújo
Revisão: Beatrice Magalhães
Aconteceu nesta última quinta-feira, dia 27/04, a quarta edição do evento “Vozes do Afroempreendedorismo”, um encontro que tem como ponto central promover e dar visibilidade aos empreendedores negros da Bahia e do Brasil.
O evento foi promovido pela Associação de Jovens Empreendedores da Bahia (AJE BA) em parceria com o Sebrae, na busca por incentivar a inclusão e a diversidade no ambiente empresarial, bem como fomentar o empreendedorismo entre a população afrodescendente.
Uma de suas premissas do evento é a conexão entre empreendedores, uma grande oportunidade para ampliar as redes de contatos, trocar ideias e conhecer histórias inspiradoras de empreendedores afrodescendentes bem-sucedidos.
Pela primeira vez tendo uma Presidente mulher e preta à frente da AJE BA, o Vozes tocou em pontos ainda mais fortes, como o feminismo negro e a ancestralidade.
“Se Salvador é, possivelmente, a cidade mais negra fora da África e nós somos maioria, porque a desigualdade e os índices criminais são tão grandes? Entre tantos motivos, o maior deles é porque o preto não está no lugar que ele merece estar”, explica Alana Sales, Empresária, Palestrante e Presidente Eleita da AJE BA.
“Falar de empreendedorismo é o que me move, mas falar de Afroempreendedorismo é a minha missão, e eu irei honrá-la nesses dois anos de mandato”, completa Sales.
O Evento foi dividido em quatro pilares, sendo eles: Diversidade e Inclusão – Pessoas Pretas e Negócios de pessoas Pretas; Referência e Legado Jovem; Impacto Positivo para economia; e Sem fronteiras – Interação com países Africanos.
Tais tópicos se segmentaram em rodas de conversas, agradecimentos e por fim, a premiação.
Diversos empreendedores de segmentos variados compartilharam suas experiências e dicas para outros empreendedores ou pessoas pretas que sonham em começar.
Além disso, também são discutidos temas como acesso ao crédito, desenvolvimento de negócios e inovação, como o exemplo da Conta Black, banco digital focado em pessoas pretas, fundado pelo empresário Sérgio All – que contou sobre sua trajetória até abrir sua própria Startup financeira em um dos painéis no evento.
Criação do Evento
Marcus Casaes, ex-vice-Presidente da AJE BA, primeiro homem preto nesse cargo a nível estadual e o segundo de executivo a nível nacional, dividiu com os convidados um pouco do processo e o despertar para criação do evento.
“Quando entrei para a AJE, logo percebi uma baixa representatividade neste espaço, que é um espaço de aprendizagem de como se acessa poder; poder institucional, político, cooperativista e financeiro”, contextualiza o fundador.
“Vendo o que eu vi, eu ficava muito instigado a mostrar à outros que isso existia, pois o cenário era de 300 associados, mas apenas 10 sendo pessoa preta, além de ter 95% dos associados sendo homens cis. Aquilo ali me incomodava bastante, mas também me dava vontade de dividir, e foi daí que veio a ideia de se construir um evento para trazer a pauta racial à AJE”, explica Casaes.
Eu desenhei todo o projeto do que se tornaria o Vozes do Afroempreendedorismo e então fui adiante para executar”, finaliza o ex-vice presidente.
Prêmio Mario Nelson de Carvalho
Pela quarta vez, afroempreendedores é condecorados pelo prêmio Mario Nelson de Carvalho, que carrega esse nome por ser uma homenagem ao Economista, AfroEmpreendedor, Consultor Empresarial, Conselheiro Fundador da Universidade Zumbi dos Palmares/AfroBras/SPaulo e Ativista do Movimento Negro, por sua grande contribuição no movimento negro.
Além disso, Mário foi o criador do termo Afroempreendedorismo e um dos precursores do Prouni.
No evento, ele contou sobre sua história de vida, acadêmica, política e empreendedora.
“Influenciado pelo afro-americanismo, Martin Luther King, eu comecei – na tentativa de ter espaço na sala de aula – a utilizar essa palavra afroempreendedorismo, que por muito tempo foi vista como palavrão e que me levou a uma quase prisão na época da ditadura”, relatou o economista baiano.
“Nunca fiz nada esperando recompensa, nunca sonhei com homenagens, mas essa é a quarta edição que sou homenageado por esse prêmio, e mesmo cada uma delas sendo uma emoção diferente, a gratidão é a mesma de estar aqui com você, vendo esses olhares de pessoas batalhadoras, vencedores, pessoas que nos motivam só no olhar”, se emociona o ativista.
Cinco Afroempreendedores receberam o prêmio desta edição do evento, sendo um deles o próprio Mário Nelson, pelos seus feitos na área do empreendedorismo preto.
Os vencedores tiveram um espaço para divulgação dos seus trabalhos e enfatizaram, novamente, questões como herança ancestral, vivências e dores que os fizeram chegar até ali.