Ainda que o número de indígenas tenha tido um aumento de quase 700% em cursos de ensino superior, povos lutam contra o racismo e visões limitadas
Por Maria Luiza Escobar
Revisão: Cristiano Sales
Ressignificar a visão estabelecida pelos colonizadores e trazer a intelectualidade indígena para o campus acadêmico são alguns dos desafios enfrentados pelos universitários nativos da Bahia.
A chegada do Dia do Índio, celebrado em 19 de abril, traz à tona adversidades vividas na Universidade Federal da Bahia (UFBA) pelos estudantes indígenas, em vez das típicas celebrações.
Segundo dados do Censo da Educação Superior do Instituto de Pesquisas Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), o salto de 695% no número de indígenas em cursos de ensino superior marca o fechamento da última década no ensino brasileiro.
Os obstáculos, porém, começam antes da graduação, segundo Claudia Hermano, indígena da aldeia Pataxó e recém formada no curso de economia na UFBA.
“A visão eurocêntrica sobre o indígena é de que a gente continua no mato, que não pode estudar, ter um celular, mas isso está longe de ser verdade. Hoje em dia, a gente pode ser o que a gente quiser e continuar na nossa cultura. Podemos ser estudantes universitários, mas quando nós voltamos para nossas aldeias nós também somos aldeados; então é uma mistura. Não perdemos a nossa identidade só porquê estamos em uma universidade”, afirma. اللاعب دي ماريا
Ao total, cerca de 80 indígenas aldeados integram o atual corpo discente da UFBA, distribuídos em 43 cursos diferentes de graduação, segundo dados da Pró-Reitora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil (Proae).
Durante a graduação, Claudia relembra as dificuldades em permanecer no ensino superior, sobretudo, com relação ao acesso ao campus. في اي فريق يلعب كريستيانو رونالدو
“Nós viemos de escolas públicas que já possuem uma educação defasada, então para a gente, concorrer com pessoas que já vem de escolas privadas, com um ensino melhor, já é uma dificuldade. Mas temos corrido atrás, alcançando patamares de nível superior que antes era impensável: tudo isso também é luta dos nossos antepassados. Nossos anciões, mesmo que eles não estivessem estudando, sempre lutaram por esse direito, para que nós pudéssemos estar em uma universidade hoje em dia”, enfatiza. تونتي تو اون لاين
Durante o período da graduação, o racismo institucional e a projeção de estereótipos são as “principais queixas dos nativos”, afirma a representante.
“Sofremos racismo de pessoas que acham que nós somos indígenas e não podemos pensar, mas a gente tem enfrentado essas pessoas para garantir nosso espaço”, conclui a Pataxó.
Além das salas de aula
Institucionalizado em 1943, pelo então 17º presidente do Brasil, Getúlio Vargas, o “Dia do Índio” foi lançado por meio do Decreto-lei nº 5.540, com o objetivo de valorizar as diferentes práticas culturais das etnias indígenas e mostrar à população brasileira o quanto o povo nativo foi importante na formação da identidade brasileira.
Embora a celebração ocorra em diversas regiões do país, a defasagem no auxílio à população indígena vem sendo debatida por teólogos e pesquisadores.
Esse é o caso de Ademario Ribeiro Payayá, filho de mãe indígena e autor do livro Oré-îandé, apoiador da causa indígena no Brasil. Para o escritor, comemorar o Dia do Índio (19) não faz com que direitos a saúde pública de qualidade, demarcação de terras e uma boa educação sejam garantidos a esses povos.
“As terras não são demarcadas, os direitos a uma educação bilingue ou até multilíngue não existe”, relata o autor.
Ademario também afirma que o termo “Índio” deu início a uma série de equívocos e estereótipos ainda pouco discutida em território nacional.
“O termo foi usado pelos invasores que com sua miopia, carimbaram a diversidade de povos encontrados nas terras de Abya Yala e Pindorama e que tem outros nomes. Somos indígenas porque nascidos do lugar, originários da terra.
Cada povo tem sua cultura e nela a compreensão de ser e se compreender, por exemplo, como Payayá, Tuxá, Tupi, Kiriri, Fulni-ô, Krahô, Kamaywrá, Xacriabá, Pataxó, Kariri-Xocó, Guarani, Maxacali, etc”, elucida.
Atualmente no Brasil, a termologia “índio” não é mais capaz de abranger a diversidade de povos e etnias. Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mais de 305 aldeias em território nacional e falantes de mais de 270 línguas diferentes, dessa forma, passaram a ser chamados de “indígenas”.
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