Com o intuito de celebrar o título de “Cidade da Música”, recebido por Salvador pela Unesco, o espaço aposta na história, na tecnologia e interatividade com o público
O Museu “Cidade da Música na Bahia”, na região do Comércio, em Salvador, foi construído no antigo Casarão dos Azulejos Azuis, que por mais de três anos passou por obras de recuperação.
A casa, que foi feita sob a curadoria do antropólogo Antonio Risério e do renomado artista Gringo Cardia, celebra o título de “Cidade da Música”, recebido por Salvador através da Unesco, em setembro de 2020.
Durante a inauguração do museu, que aconteceu em setembro deste ano, o prefeito da capital baiana, Bruno Reis (DEM), frisou a importância da música para a história de Salvador e o quanto a criação desse novo espaço será importante para a projeção da cidade.
Foram R$19,2 milhões investidos no museu. Até o momento, a atração já recebeu mais de 20 mil visitantes.
De acordo com os curadores do projeto, a ideia é representar a música na sua forma mais real, sem fazer distinção de ritmos. Eles também afirmam que o objetivo é trazer a história além daquelas contadas através das mídias tradicionais, dando visibilidade às influências reais que formaram a rica musicalidade da Bahia.
Sobre o museu
O local conta com quatro pavimentos de atrações carregadas de história e significado, nos quais a imersão dos visitantes acontece de forma moderna e interativa. Logo ao entrar, o visitante pode logar na rede Wi-Fi do museu e através disso, controlar a grande maioria das atrações. نادى روما
O primeiro andar do equipamento é reservado para a exposição “A cidade de Salvador e Sua Música”. Nela, é retratada a cultura e a música dos bairros da capital baiana, contando a sua história e trazendo o depoimento de personalidades. عدد القوارير في البولينج Já os andares superiores são dedicados à instalação de acervos permanentes.
A Cidade da Música da Bahia acolhe diversas exposições específicas dentro do seu espaço. Um deles é o chamado “História da Música na Bahia”, que conta com nove cabines de vídeos e três salas. 777 casino Em cada uma dessas divisões são exibidas produções voltadas para ritmos específicos, como o caso da música clássica, que é representada por um vídeo da Orquestra Sinfônica da Bahia.
Já a sala “A Nova Música da Cidade” apresenta uma proposta imponente: um telão de 80 polegadas mostra um pouco dos novos grupos que têm se destacado no cenário musical.
Ali, por exemplo, novos talentos são revelados e grupos que representam a arte da periferia são expostos. Isso acontece de forma imersiva, com jogos de som, luz e imagens que fazem o visitante ter a impressão de estar em um show.
Ainda dentro da formulação de um museu não só contemplativo, mas com ênfase na apreciação interativa, o último andar do equipamento conta com cabines de mixagem para o visitante produzir o seu próprio material, além de uma sala voltada apenas para a percussão. Nela, os profissionais explicam a função dos instrumentos e mostram como eles podem ser manuseados.
O último andar ainda conta com o karaokê, uma das atrações mais populares da casa. Com uma lista de músicas conhecidas por todo o povo baiano, a atração permite que os visitantes se tornarem cantores por um dia. Os vídeos gravados são enviados para os e-mails cadastrados no ato da entrada e podem ser utilizados como os usuários preferirem.
Curadoria
Nossa equipe conversou com Gringo Cardia, artista e arquiteto brasileiro, que foi curador do Museu da Música. Gringo também foi responsável pela curadoria do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e foi atuante em projetos de alcance mundial, como o Cirque du Soleil.
O arquiteto confidenciou que esse projeto na capital baiana foi um dos que ele mais gostou de fazer durante sua carreira.
“Olha, pra mim um dos museus mais legais que eu já fiz foi a Cidade da Música da Bahia porque eu acho que a maior expressão do Brasil é a nossa música e a música do Brasil nasce na Bahia”, relata. E continua: “Era muito importante ter esse museu porque ele mostra a importância que a cultura tem na vida das pessoas”.
Cardia conta que todo o processo de construção do museu se deu durante a pandemia. “Foi muito legal, junto com o meu parceiro Antônio Risério, que é um grande intelectual, na verdade, pensador sobre o Brasil. Ele estruturou o que a gente deveria falar e a partir dali eu fui elaborando o projeto artístico. E, vamos dizer assim, um museu interativo, um museu moderno dentro de um prédio maravilhoso e simbólico para a cidade de Salvador, que é a Casa dos Azulejos Azuis”, detalha.
A ideia de criar um museu interativo surgiu com a proposta de prender a atenção da nova geração. De acordo com o arquiteto, o conhecimento, atualmente, está sendo posto de outra maneira.
“Eu acho que a nova linguagem dos museus contemporâneos é uma linguagem que a pessoa tem que participar do conhecimento, do conteúdo, então a minha pesquisa – porque eu faço museu há uns 15, 20 anos, vários no Brasil e fora do Brasil – é conversar com a nova geração, uma geração que, na verdade, não consegue ler um texto escrito na parede, tem que ser uma coisa que o conhecimento seja colocado de outra maneira”, explica.
“O grande desafio da gente foi, primeiro, ‘como vai caber toda a música da Bahia em um edifício?’, não cabe. A música da Bahia é infinita, imensa e enorme. Então, o desafio foi a gente mostrar a história grandiosa que tem a música da Bahia com todos os movimentos, os grandes artistas, as histórias de cada um deles e, ao mesmo tempo, colocar a galera contemporânea que está fazendo música. Eu acho que o importante é o museu confrontar o passado com o presente”, relata.
Sobre os artistas contemporâneos, Cardia conta que a elaboração desta parte do museu teve colaborações de peso:
“Eu tive a parceria de um artista que é importante, o Vandal de Verdade, ele trouxe toda essa produção da periferia de Salvador que está sendo feita e a gente colocou isso dentro do museu. Então, o museu ficou muito vivo, ficou com histórias reais do que acontece em Salvador, na Bahia, e mostrando que, na verdade, são nos guetos e nas periferias que acontecem os grandes movimentos de música no Brasil. Foi muito bacana, as pessoas contaram suas histórias, e eu acho que tá dando certo porque a gente tá muito feliz com a receptividade de todo mundo”.
Para o arquiteto, o museu não está pronto, mas sim, em construção. De acordo com ele, sempre serão somados artistas e histórias no equipamento:
“A gente fez um primeiro conteúdo que está apresentando o museu, mas a ideia é que cada ano seja complementado com outras pessoas que não entraram, enfim, por problemas na pandemia – porque não podiam ter entrevistas, os arquivos eram mais difíceis. A ideia era exatamente isso, pegar as músicas novas que vão aparecendo, os novos movimentos e a cada ano eles serem incluídos. A gente não tira, só soma”.
E acrescenta: “Isso é muito bacana porque eu acho que esse museu deu uma ênfase para todo aquele lado invisível da música, que a gente não conhece. A gente colocou desde pessoas que fazem instrumentos até pessoas que têm relação com a música, que estão no backstage, e que, na verdade, fazem a importância da indústria da música ser talvez a indústria cultural mais importante da Bahia”.
Para além do Museu da Casa da Música, Cardia também foi responsável pelo Museu Casa do Carnaval, também em Salvador. “Acho que os dois museus são complementares. A nossa ideia foi essa. Porque toda a música do axé a gente explica e conta a história na Casa do Carnaval e a outra gigantesca parte da música fica na Casa da Música. Então, eles são museus complementares. A ideia é que, como tem o Plano Inclinado ali, você compra o ingresso para um e pode ir no outro, interagir com as duas casas”, convida o arquiteto.
“Você vê que a música é infinita. Você sai dali, passa no Pelourinho, já tem música na rua, quer dizer, Salvador respira música, Salvador cria música e é uma inspiração paro Brasil inteiro. Então, todo mundo que vai passear em Salvador já sente a música por todos os lugares. Quando vê a história fica muito emocionado porque vê que é uma história de luta, de afirmação de uma identidade muito forte”, finaliza.
Visitantes
Para Brisa Araújo (21), soteropolitana que visitou o museu, o projeto é extremamente importante para a cultura baiana.
“Quando a gente fala de música, apesar de ser algo muito presente no nosso dia a dia, por ser uma coisa imaterial , é difícil conseguir dar conta de conservar aquilo tudo na memória da gente, então a iniciativa da Cidade da Música é incrível porque ela faz um apanhado de toda a música baiana e dos mais diversos gêneros musicais”, opina a Araújo.
E acrescenta: “Acho que isso é muito importante, tanto no sentido do turismo, quanto de nós mesmos que moramos aqui, porque um povo precisa conhecer sua própria história e ter esse espaço com esse diferencial, de ter um acervo que não vai ficar parado no tempo, só mostrando uma época específica, é muito bom porque vai crescendo conforme o passar do tempo”.
A jovem relata a experiência que é a visitação da Casa da Música: “Assim que você entra você já fica encantado e imerso no local, em toda a questão das luzes, da decoração, do cenário, sabe? Mas o que eu acabei gostando mais foi a sala de percussão e o estúdio com o Karaokê, são super descontraídos e rendem ótimas risadas”, relata.
Jéssica Reis (21), outra visitante local, destaca a importância social da casa. “Acho muito importante a presença de um local tão interativo que valorize a cultura do nosso estado, de forma que mencione a arte contemporânea e explique as suas origens, além de abordar a importância do espaço artístico na periferia e da arte como instrumento de expressão e resistência de muitos grupos sociais”, conta.
Para ela, a abordagem mais contemporânea, com interação e recursos tecnológicos, é um atrativo para trazer a população de volta aos museus, como projetou Gringo Cardia ao pensar no Cidade da Música..
Já para Lígia Évora (37), moradora de Campinas, em São Paulo, que já residiu em Salvador, o museu é uma oportunidade para que os turistas conheçam a cidade além dos estereótipos.
“Eu fiz a visita junto com meu namorado, que não conhecia praticamente nada sobre Salvador, então esse momento acabou sendo bem interessante, porque pude vê-lo descobrindo a cidade, entendendo que Salvador tem muito mais que Barra-Ondina e Campo Grande, que é o que se mostra na mídia hoje sobre a cidade”, conta.
Évora conta que considera essencial para o turista ter contato não só com a história, mas com as novas tendências da música na Bahia:
“Há uma sala em que se pode assistir um pequeno documentário sobre o que tem sido produzido mais recentemente em Salvador. Pro turista eu acho fundamental poder conhecer tudo o que é apresentado nesse andar porque dá um panorama bem completo do quanto a música baiana é rica e diversa.”
O museu, situado na Praça Visconde de Cayru, nº 19, está aberto a visitação todos os dias, mediante agendamento através do site. Os ingressos têm preços de R$10,00 para moradores de Salvador, estudantes e idosos, e R$20,00 para os demais visitantes. A visitação deve ser agendada através do site do Museu.
Repórteres: Ana Clara Marques de Araújo, Bruna Ferraz, Melissa Lima e Milena Ribeiro
Revisão: Antônio Netto