Jovens relatam dificuldades em continuar estudos após agressões e assédio
Por Melissa Lima
Revisão: Carolina Papa
No meio acadêmico tem se tornando cada vez mais comum relatos de mulheres que foram vítimas de agressões, sejam elas física, moral ou sexual, dentro das universidades. Com os abusos sofridos, muitas abandonam a graduação e levam as sequelas da violência para o resto da vida.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% das mulheres em todo o mundo já sofreram algum tipo de agressão. Em pesquisas feitas pelo órgão no ambiente universitário, uma em cada cinco mulheres sofreram violência sexual durante a faculdade.
No Brasil, dados emitidos pelo Datafollha, em 2019, apontam que 22 milhões de brasileiras foram vítimas de assédio. Como consequência das agressões, os danos físicos e mentais acabam dificultando o retorno da vítima para suas atividades do dia a dia, entre elas, o estudo.
Em entrevista a Avera Notícias, uma fisioterapeuta, que prefere não se identificar, relatou que durante a faculdade foi vítima de assédio e que as constantes agressões a fizeram mudar de instituição.
“Durante a minha primeira graduação eu sofri assédio de um homem, que também fazia o mesmo curso na mesma faculdade que eu. Ele começou cordial, querendo ser meu colega, mas depois foi evoluindo para conversas pesadas, querendo me propor situações constrangedoras, chegou a passar a mão em mim e eu fiquei com muito medo. Fiquei uma semana sem ir à aula para não encontrá-lo, perdi provas e acabei perdendo em uma matéria por conta disso, mas ele continuava a mandar mensagens cada vez mais invasivas para mim e eu não respondia ou ameaçava ele e nada adiantava. Optei por trocar de faculdade, o que atrasou um semestre da minha graduação”, declarou.
A agressão e a violência sexual são as principais causas do desenvolvimento de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TSPT) em mulheres. Essa condição está associada à diminuição das funções cerebrais relacionadas ao aprendizado e à memória, sendo difícil de ser superada nos âmbitos físicos e mentais.
“Eu vivia assustada, não conseguia me concentrar e a todo o momento as cenas vinham de novo na minha cabeça. Eu lembrava de tudo o tempo todo e isso me causava uma sensação de pânico, minhas mãos tremiam e eu tinha constantes crises de choro”, conta Beatriz Cisneiros, vítima de violência sexual aos 18 anos.
De acordo com estudos feitos pela Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, as vítimas que não são diagnosticadas com o TSPT apresentam sequelas que podem afetar a capacidade cognitiva e de concentração.
“Eu era 2ª série na época e estudava em colégio público. Eu era assediada por uns três meninos que eram 4ª série. Um deles me tocava de forma estranha e eu me via totalmente desconfortável, os outros dois me agrediam verbalmente. Fui contar para a diretora do colégio e ela não tomou providência nenhuma. Como eu era novinha, eu não entendia muito bem, só não gostava daquilo. Um dia me levaram pra diretoria e a própria diretora me disse que eu não poderia contar para meu pai. Eu fiquei uns dias segurando isso, só que meu pai percebeu que eu estava estranha e acabou sabendo. Ele foi ao colégio tomar as devidas providências. Um dos meninos ameaçava me bater, me empurrava, e isso tudo só terminou quando meu pai me mudou de escola, mas a essa altura eu já tinha perdido muitas aulas, provas, não conseguia mais me concentrar nem ter animado para estudar e tive que repetir o ano”, relatou uma jovem de 17 anos que prefere não se identificar.
Casos de agressões contra as mulheres estão se tornando cada vez mais frequentes no dia a dia da população. Em caso de violência, seja ela de qualquer natureza, com você ou com outras mulheres, ligue 180. O serviço é gratuito, confidencial e funciona 24h, recebendo denúncias e orientando as vítimas. Se a situação envolver menores, o Conselho Tutelar mais próximo também deve ser acionado.