A exigência de manter notas altas, somada a um volume intenso de atividades e prazos, pode gerar um enorme estresse | Foto Reprodução/TV Globo
Em meio a provas, competições e expectativas, os estudantes lutam para manter o equilíbrio entre o bom desempenho acadêmico e o bem-estar mental
Por Catarina Gramosa
Revisão Ana Carolina Araújo
A cada 10 de outubro, celebramos o Dia Mundial da Saúde Mental, um momento oportuno para refletirmos sobre essa questão no contexto universitário. Entre provas, competições acirradas e expectativas desmedidas, os estudantes enfrentam o desafio constante de equilibrar o desempenho acadêmico com a saúde mental. Essa pressão gera sérios problemas emocionais e psicológicos que afetam não apenas o rendimento, mas também o bem-estar geral.
A vida universitária é, geralmente, vista como um período de descobertas e crescimento, tanto profissional quanto pessoal. No entanto, para muitos, essa fase é marcada por uma pressão difícil de suportar. A exigência de manter notas altas, somada a um volume intenso de atividades e prazos, pode gerar um enorme estresse. Ana Vitória, estudante de biomedicina, compartilha que todas essas questões afetam, principalmente, a autoestima. “A pressão para estudar e ter notas altas impacta muito minha autoestima, tanto mental quanto fisicamente. É como sentir satisfação por realizar algo, mas ao mesmo tempo questionar se o sacrifício valeu a pena”, usando a expressão “uma faca de dois gumes” para ilustrar sua situação.
Competição intensa
Além do peso acadêmico, o ambiente universitário se tornou um cenário de competição intensa, onde a necessidade de se destacar entre os colegas para garantir as melhores oportunidades de estágio e construir um currículo exemplar torna a comparação inevitável. A cada conquista, muitos alunos sentem que nunca estão à altura e que sempre há mais a fazer.
Essa corrida silenciosa pode resultar em profunda ansiedade e, em casos extremos, comprometer o senso de valor pessoal. A psicóloga Victória Moura observa: “A pressão psicológica pode levar à ansiedade, bloqueios mentais e rivalidades. Contudo, é possível desenvolver motivação por meio de atividades inclusivas, reconhecendo que cada indivíduo tem uma forma única de aprender.”
Com o tempo, a competição acirrada pode evoluir para uma crise vocacional, comum a muitos estudantes que, em algum momento de sua formação, se perguntam: “Fiz a escolha certa? Este curso é realmente para mim?”. Esse questionamento surge não apenas da pressão externa, mas também das exigências do próprio curso, que levam muitos a duvidar de suas decisões.
Ana Vitória desabafa: “Meu curso é na área de saúde e é exaustivo; pelo menos uma vez por semana, eu me pergunto se fiz a escolha certa.” A estudante explica que essas dúvidas são normais em momentos decisivos, mas podem causar angústia e desmotivação. “Se prolongadas, essas sensações podem levar ao adoecimento”, alerta.
Irritabilidade constante
Diante de toda essa pressão, é crucial identificar sinais de que algo não está bem. “Irritabilidade e nervosismo constantes, além de focar mais em impressionar os outros do que em aprender e crescer, são sinais de alerta”, afirma a psicóloga. Ela enfatiza que tanto os alunos quanto as universidades devem estar atentos a esses sinais e implementar estratégias de acolhimento. Moura sugere: “As instituições podem oferecer melhor apoio aos alunos por meio de escuta ativa, atividades inclusivas e supervisão, construindo planos de ensino mais sensíveis e eficazes.”
Para os estudantes que enfrentam crises de identidade ou esgotamento emocional, a psicóloga recomenda a criação de uma rotina saudável. “É importante estabelecer uma rotina que inclua estudos, alimentação equilibrada, atividade física, psicoterapia, exercícios de respiração, momentos de reflexão, lazer e descanso.
Essa rotina deve ser adaptada à realidade de cada um para ter sentido.” Quanto à competição entre colegas, Victória destaca que pode haver efeitos tanto positivos quanto negativos na saúde mental: “Uma competição saudável é benéfica; a rivalidade, não. Criar ambientes plurais e inclusivos é essencial para um aprendizado leve e satisfatório.”
É claro que, embora a universidade seja um espaço de crescimento, também pode desafiar a saúde mental dos estudantes. A pressão por resultados e as dúvidas vocacionais podem levar ao esgotamento. No entanto, com o apoio das instituições e o desenvolvimento de ambientes acolhedores, é possível equilibrar sucesso acadêmico e bem-estar. A saúde mental deve ser uma prioridade, pois, sem ela, o esforço acadêmico perde seu valor. O futuro não pode custar a saúde emocional.