
Membros da “Torcida LGBTricolor” / Foto: Divulgação Mídia Ninja
Organização que acolhe e dá espaço à comunidade LGBTQIAP+ no esporte, movimenta a cena cultural de Salvador
Por Gabriele Sá
Revisão Luana Malena Franco
Atualização Luis Gabriel Ornelas
O espaço das torcidas organizadas deveria ser um ambiente de celebração para todos, porém ainda é marcado pela presença de comportamentos violentos dentro e fora dos estádios. Com o objetivo de construir uma comunidade de torcedores que apoiam a diversidade no futebol, a “Torcida LGBTricolor” surgiu como uma rede de apoio a torcedores da comunidade LGBTQIAP+, incentivando a luta por um ambiente seguro e inclusivo para o público.
Tainá Sena, diretora e gestora das redes sociais da torcida, em entrevista para a Avera, destacou a importância do coletivo no acolhimento dessa comunidade.
“Criamos um espaço seguro, uma bolha de conforto. Ao estarmos ali, uniformizados, mostramos que somos parte da arquibancada, que nosso amor pelo Bahia é tão válido quanto o de qualquer outro torcedor. Isso não só acolhe quem já está, mas também empodera e inspira quem ainda não se sente à vontade para ir ao estádio, mostrando que há um lugar para eles. É uma forma de dizer: ‘você não está só’”, explicou Sena.
ESPAÇO SEGURO PARA TORCER
O combate e a denúncia dos atos de preconceito e violência, além do incentivo à presença de pessoas historicamente excluídas do futebol, estão entre as principais atividades do coletivo. Com essas ações, os seus integrantes buscam transformar a cultura do esporte e da sociedade.
A “LGBTricolor” se insere em um cenário social e cultural que desmistifica a relação entre futebol e diversidade. O grupo atua para além das arquibancadas — promovendo encontros, ações sociais e campanhas nas redes —, utilizando a paixão pelo time como ponte para discutir inclusão, respeito e direitos. É uma quebra de paradigma que influencia positivamente a cultura da cidade e amplia o debate sobre diversidade no esporte.

Torcedores e membros da “Torcida LGBTricolor” / Foto: Divulgação @lgbtricolor
Ao contrário de muitas torcidas tradicionais, que funcionam de forma independente e com estrutura hierárquica própria, o projeto baiano mantém um diálogo constante com a diretoria do Esporte Clube Bahia, participando de campanhas, eventos no estádio e lançamentos de produtos temáticos.
“Para mim, como diretora da torcida, o engajamento do Bahia nesta pauta é um orgulho imenso e um diferencial histórico no futebol brasileiro. É um alinhamento de valores que nos motiva e nos dá a certeza de que escolhemos o lado certo, dentro e fora de campo: o lado da democracia, da inclusão e da luta contra o preconceito. É um sentimento de pertencimento mútuo e de profunda admiração pela postura institucional do clube”, complementa Sena.
Um dos marcos dessa parceria foi o sucesso em vendas da camisa da torcida na loja oficial do clube — produto que esgotou rapidamente e tornou-se símbolo da inclusão no futebol brasileiro. A iniciativa inspirou outras torcidas e se consolidou como um dos exemplos mais bem-sucedidos de integração e diversidade no esporte.
“A relevância de um movimento como a LGBTricolor é de natureza política e social. Política, porque é um ato de resistência e visibilidade em um espaço que tenta nos invisibilizar. Social, porque mobiliza a comunidade e educa, mesmo que indiretamente, o entorno, forçando o debate sobre o respeito em um espaço de grande alcance como o futebol. Defender essa bandeira é crucial porque nosso direito de amar e torcer não é negociável. Enquanto houver preconceito, é nosso dever levantar essa bandeira para mostrar que a diversidade é uma força e que o futebol é para todos”, concluiu a diretora.