Por Alanilson Ribeiro
Estudante de Jornalismo da UNIFACS
De um lugar considerado infértil, há 30 anos atrás, para a terra do tesouro branco do cerrado, o oeste da Bahia vem se transformando no maior e mais importante polo da cotonicultura do país. Atualmente o estado baiano é o segundo maior produtor de algodão no Brasil que chega a exportar 40% da produção baiana para países asiáticos como Indonésia, Bangladesh, Vietnã e Coreia do Sul. Cidades baianas como Luiz Eduardo Magalhães, Barreiras e Correntina são algumas das responsáveis por essa mudança no agronegócio.
Só em 2018, de acordo com a Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa), 21% da produção exportada brasileira partiu da Bahia. Em 2019, a expectativa é de superar esse número. No levantamento feito pela associação, de janeiro até agosto, os produtos exportados já chegam a 17%. Além disso, o agronegócio corresponde 24% da atividade econômica do estado.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a expectativa na produção de algodão para 2018 e 2019 é de superar essa marca de 2,1 milhões de toneladas de pluma, colhidas em uma área de, aproximadamente, 1,1 milhão de hectares no ano passado, com a colheita histórica de 2,5 milhões de toneladas neste ano, das quais, em torno de 1,5 milhões deverão ser exportadas.
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Mesmo com toda aposta e a fase boa em que vive o agronegócio baiano, o diretor executivo da Abapa, Lidervan Moraes, aponta algumas necessidades para um melhor escoamento do algodão baiano. “O Brasil produz 2,7 milhões toneladas, a indústria local consome 700 mil toneladas, então, nós precisamos escoar 2 milhões de toneladas.
O principal porto de escoamento, hoje, é Santos, porque tem facilidade da chegada de vários navios de várias partes do mundo. Nós estamos trabalhando há dois anos para levar via Salvador, por ser mais viável pela distância e custo acaba sendo menor”, destaca.
Lidervan ainda fala sobre os pontos cruciais para uma melhor agilidade de entrega da commodity em outros países. “Em Salvador não há rota de navios suficientes para levar o algodão, principalmente, para Ásia que é o nosso principal comprador. Saindo de Santos até a Ásia, são 35 dias, já de Salvador até o comprador, seria de 60 a 70 dias em média, e quando você vende o algodão, existe um prazo para a entrega, se chegar fora do prazo o comprador pode não querer mais o produto por ter descumprido o contrato”, frisa o diretor.
HISTÓRICO
Dados levantados pela Abapa, mostram que a cotonicultura baiana, entre os anos de 2016 e 2017, viveu um dos piores momentos das últimas duas décadas, por causa da seca que castigou o estado. Nos dados informados sobre o período, a área plantada de 417 mil hectares caiu para pouco menos da metade, 201,6 mil hectares.
A maior parte do impacto gerado foi absorvida pelos produtores rurais, em virtude do elevado nível de investimentos na atividade agroindustrial, expandindo a área plantada e adquirindo mais tecnologias.
Além das condições climáticas, o algodão também sofre com a presença de algumas pragas, tendo como o seu principal inimigo, o bicudo. Na década de 1980, a cotonicultura brasileira conheceu o bicudo-do-algodoeiro, que devastou lavouras inteiras na região nordeste. Esta é a principal praga do algodão nas Américas e gera um aumento de custos da ordem de US$ 100 a US$ 150 por hectare.
No início da década de 1990, o Estado do Paraná era responsável por mais da metade da produção de algodão no Brasil. Agora, o cultivo paranaense não supre a demanda do próprio Estado. O bicudo-do-algodoeiro é o inseto de maior incidência e com o maior potencial de dano nessa cultura.
O bicudo foi responsável por atingir, na mesma época, as áreas produtoras do Nordeste e aniquilou a produção pela dificuldade de controle químico, o que fez a cultura migrar das suas regiões tradicionais, Paraná e São Paulo, para o Centro-Oeste do país.
Segundo os cotonicultores da região oeste da Bahia, o algodão comparado a outros insumos é mais sensível e precisa de maiores cuidados e investimento, o que o faz ser uma produção de alto risco. O produtor Fábio Ricardi, fala um pouco do risco e os cuidados.
“Agricultura é uma atividade de alto risco, tem vezes que você tem prejuízo e em outros momentos o lucro dobrado, só que tem anos que se o prejuízo muito grande e demora de 4 a 5 anos para poder se recuperar. A agricultura é uma atividade a céu aberto e a gente não tem uma linha de produção e acaba sendo uma atividade de risco”, afirma.
Por conta desta e outra pragas como a lagarta falsa-medideira, o pulgão, os ácaros, o percevejo marrom e a mosca-branca, que os produtores passaram a investir em programas de para defesa da lavoura, como a utilização de produtos fitossanitários. Além desses mecanismos de defesa, foram feitos grandes investimentos para criar melhores condições, desde a plantação até a colheita do algodão.
AVANÇO COM O TESOURO BRANCO
A Bahia que já foi o berço do ouro negro (o petróleo), agora dá lugar ao desenvolvimento econômico do ouro branco do agronegócio. No oeste baiano são 150 produtores entre as cidades de Baianópolis, Barreiras, Correntina, Formosa do Rio Preto, Jaborandí, Luís Eduardo Magalhães, Muquém do São Francisco, Riachão Das Neves, São Desidério e Wanderley e chega a gerar cerca de 30 mil empregos diretos.
Investimento em máquinas para a colheita, capacitação dos colaboradores, tecnologias para pesquisa, laboratórios de análise para verificar a qualidade dos grãos, são alguns dos aspectos que contribuem para que a região avance como a segunda principal produtora.
“A colheita é feita por máquinas, hoje já existem colheitadeiras modernas que precisam apenas da pessoa para operá-las e gera quatro vezes mais emprego”, afirma Fábio Ricardi, produtor da região oeste da Bahia.
Com o crescimento da agroindústria no oeste baiano e as oportunidades de empregos sendo geradas, a busca pela oportunidade de trabalho vem de todas as partes do país.
Um exemplo é o do piauiense José Benedito, 39, pai de quatro filhos e que há 5 anos trabalha como operador de máquina, em Luís Eduardo Magalhães, no período da safra e ele garante que graças a tecnologia o trabalho fica melhor. “Cada vez mais a gente vai aprendendo mais coisas novas aqui, nós recebemos curso para o melhor desempenho com o maquinário”, confessa.
Apesar da distância de casa durante os quatro meses da colheita, o operador comemora poder trabalhar e poder ajudar a família. “Eu passo quatro meses aqui e vale a pena financeiramente falando, vir do Piauí para cá”, ressalta.
Também na área da formação profissional, o oeste da Bahia já conta com cursos de agronomia e produção nas universidades federal e estadual (UFOB e UNEB), além das instituições privadas. De acordo com o diretor da Abapa, Lidervan Moraes, esse estímulo no preparo dos jovens para entrar no mercado trabalho é de extrema importância, visto que hoje toda a agricultura depende da tecnologia.
“A tecnologia é presente no setor, hoje se fala na agricultura 4.0, que é uma agricultura interligada, ou seja, a pessoa tem que conhecer a ciência da computação, entender sobre as tecnologias disponíveis e todas as coisas que estão ligadas, a conectividade precisa de gente no campo, hoje”, destaca.
E com todo esse avanço, quem ganha é a população local. Segundo o presidente da associação, Júlio Bosato, o agronegócio é um contribuinte para o desenvolvimento da cidade de Luís Eduardo Magalhães, que no seu histórico começou de um posto de gasolina e hoje conta com 87 mil habitantes, de acordo com dados do IBGE, levantados em 2019.
Para o diretor executivo da Abapa, Lidervan, os benefícios que chegaram na região oeste da Bahia e fizeram a diferença para as pessoas, foram o desenvolvimento social e o econômico.
“Se conseguimos atrair várias pessoas de outras partes do país para morar aqui em Luís Eduardo e em Barreiras, que são as duas cidades principais, o crescimento populacional que estas tiveram foi muito grande. A vinda de universidades, geração de indústria e empregos, foram graças a esse desenvolvimento”, ressalta.
Ele ainda lembra que a projeção para este ano de geração de renda decorrente da venda do algodão e dos seus subprodutos, como pluma e caroço, giram em torno de R$ 4,5 bilhões. “Então esse valor injetado na economia é bastante significativo”, comemora.
O diferencial do tesouro do oeste baiano é que pode ser aproveitado em sua totalidade, caroço, algodão, pluma e fibrila, gerando o reaproveitamento da fibra.
Além dos produtos popularmente conhecidos na indústria têxtil, dele se produz óleo para a cozinha, margarina e comida para animais ruminantes. “Do algodão não se perde nada, tudo se aproveita”, diz Leandro Henrique Borges, gestor da Zanoto Cotton, uma das algodoeiras responsáveis pelo beneficiamento do algodão na região.
Para os trabalhadores é só orgulho. Cléber Desidério, Gerente de produção da empresa Icofort Agroindustrial, há 17 anos, revela seu apreço pelo produto que vem mudando a realidade das famílias daquele local, que nunca deixou de ser o cantinho mimoso do Oeste.
“O algodão está presente em várias etapas da vida das pessoas, desde o alimento, nutrição animal, cosméticos e, para mim que trabalho com este produto, é um orgulho”, finaliza.