Por Camila Carrera
Produzido pela “Maria Farinha Filmes”, o documentário “Tarja Branca” aborda a importância do brincar e a ideia de preservação do espírito lúdico abandonado na fase adulta.
A abordagem dos temas se passa através de entrevistas feitas à pedagogos, atores, músicos, palhaços, filósofos e jornalistas, que ao narrar suas experiências vividas na infância, enaltecem o quão fundamental é o incentivo às brincadeiras e às consequências de não pratica-las.
Além disso, críticas ao atual sistema social também são manifestadas, as quais afirmam como os padrões atuais tem imposto viver de maneira apressada e robotizada, difundindo a falsa ideia que assemelha o Ser adulto a um alguém sem autenticidade, espontaneidade, inocência e alegria.
Acordar cedo, se arrumar correndo, engolir o café da manhã para não ficar preso no trânsito e chegar atrasado ao trabalho, é realidade de muitos. Aceitar a condição de tristeza e a não satisfação pelo que se faz, se tornou um hábito mundano. Reclamar da vida, dos problemas e postergar todas as soluções, sem dúvidas, é atualmente o novo mantra social.
Tendo em vista que grande parte da população tem vivido às custas de massacres diários, pode-se constatar que a maioria de nós tem sobrevivido à vida, e não a vivido. E aí me veem um questionamento, o que isso tem a ver com as referências de nossas infâncias? Tudo, tem tudo a ver.
Durante o documentário nota-se quanto o costume de brincar ao ar livre e em companhia mudou, sendo substituído por práticas eletrônicas e introspectivas que muitas vezes não são equilibradas pelas crianças. No mais, o longa metragem aponta a metodologia tradicional de ensino como uma das propulsoras da causa, já que ao estimular cada vez menos atividades criativas e encurtar o tempo dos intervalos nas escolas, a criança tem suas asas podadas e é condicionada a seguir uma série de regras institucionais as quais violam a sua individualidade.
Ao crer que o aprendizado se resume em conteúdos disciplinares e em provas, o ensino repetitivo e massacrante não desenvolve seres humanos, e sim máquinas.
Essa forma medíocre de se ensinar cria adultos desgastados e tendenciosos a serem vazios em autoconhecimento e reféns de um sistema que os põe a viver vidas que não são suas, centrando-os apenas em seus trabalhos e obrigações sociais não questionadas por si mesmos, afinal, não foram ensinados a isso. Foram ensinando a obedecer e a seguir regras.
Às consequências do não brincar na infância começam a surgir no futuro, já que a época da construção da personalidade, valores e prioridades não foi aproveitada e estimulada, originando assim, o resultado do que se foi e não ensinado. E é dessa forma que a máquina da sociedade se mantém, induzindo pessoas a fazerem o que não gostam para que permaneça ativa.
O filme possui um ótimo enredo, direção de fotografia e trilha sonora. Nos oferece a oportunidade de questionar valores, rever vivências e hábitos a fim de ampliar consciências a respeito de fatos da vida, frisando o quão valiosa ela é para ser desperdiçada na correria e submissão a imposições do meio social.
Brincar na infância é imprescindível para o autoconhecimento. Brincar na infância é sinônimo de futura nostalgia e boas lembranças. É sinônimo de liberdade. Já, o brincar na fase adulta, é a certeza de que você não deixou os problemas diários invadirem a sua integridade. É o modo que você tem como identificar que está cada vez mais próximo de ser o que é.
Brincar não é coisa de criança, brincar é coisa de gente livre, de gente viva. E aí? Já brincou hoje?