Desde o apoio financeiro até uma equipe formada por homens, a escola soteropolitana de dança cria ambiente confortável para a prática masculina de dança
Por Beatriz Soares, Daniel Freitas e João Gabriel Passos
Revisão: Antônio Netto
O mercado da dança é comumente um espaço ocupado por mulheres. As barreiras sociais e os preconceitos de gênero são fatores que acabam afastando os homens da participação desta prática.
Estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas e da Universidade Católica de Pelotas, em 2011, comprovaram que em um total de 1.727 praticantes de Dança em Academias e Escolas Públicas e Particulares do município 76,6% eram do sexo feminino e 23,3% do masculino.
Quando se fala na capital baiana, escolas de dança se consagram como parte importante no rompimento desse paradigma. É o caso do Studio A, um dos espaços que está aberto para recepcionar homens interessados nessa prática.
Com um time composto por seis professores homens, o Studio A tornou-se um “espaço seguro” para os diversos homensque desejamse aventurar e se expressar através da dança.
Este é o caso de Eliezer Santiago, pai e advogado de 50 anos, estudante de Street jazz na escola de dança. Santiago conta que a dança sempre foi uma paixão antiga, mas que só voltou à prática na vida adulta, através do FitDance e com sua entrada no Studio.
“Na época da faculdade e as exigências do curso atrapalhavam a continuidade da prática, aí ficava entrando e saindo da academia durante anos. Depois vieram alguns empregos que exigiam bastante do meu tempo e a dança ficou relegada para escanteio durante muito tempo. Até que, aos 42 anos, resolvi voltar para não mais parar”, relata Santiago.
Com projeto de incentivo e motivação para a prática masculina, o Studio A se fez um espaço seguro e certeiro na hora do retorno do advogado para a dança. Apresentando propostas de descontos nas mensalidades, a escola tenta assim atrair mais estudantes e entusiastas.
André Amorim, um dos fundadores da escola de dança e professor, começou a escola em 2012. Por ser homem e saber da dificuldade da inserção masculina, sempre buscou deixar o Studio, um espaço seguro para esta forma de expressão, de uma forma simbólica através de descontos.
“A gente tenta tudo isso para poder incentivar que eles participem mesmo. E criar um ambiente que eles se sintam bem, sabe? Independente se eles façam jazz, hip hop, façam street jazz. É um ambiente de acolhimento. A gente tenta não ter aquela coisa de julgamentos”, relata Amorim.
A escola também realizou alguns festivais ao longo de sua história, com coreografias inteiramente masculinas, também como forma de mostrar a expressividade dos homens na dança e como forma de incentivo.
Da paixão para a profissão
Rodrigo Ferreira, 21, é um exemplo do trabalho em parceria do Studio A com a Cidade da Luz, que visa incentivar a prática da dança entre jovens de baixa renda.
Contemplado por uma bolsa integral, Ferreira acabou se tornando assistente de professores na escola de dança e atualmente ministra aulas próprias pelo Studio A, no mesmo projeto que saiu.
“Eu percebi que queria me tornar professor a partir do momento que eu entrei no Studio, ao ver os professores fazendo isso, eu percebi que era isso que queria pra mim. A Cidade da Luz meio que abraçou esse sonho e me deu essa oportunidade de me tornar professor”, conta Ferreira.
Amorim, que apesar das dificuldades, também optou pela dança como profissão, diz que como professor observa que os homens vêm se permitindo mais a estar dentro do universo da dança, do que quando ele começou.
“Hoje os homens estão se permitindo muito, muito mais do que vinte anos atrás. Quando eu comecei eram poucos, eu posso dizer que eu fui o pioneiro aqui na Bahia, de danças urbanas. Esses meninos todos que têm no Instagram hoje, todos da Bahia, não existia ninguém. Quase todo mundo que trabalha com isso hoje foi meu aluno”, declara Amorim.
Para o fundador da escola, é muito gratificante notar essa diferença ao longo do tempo e ver o que começou em 2010, se perpetua.
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