Palestras e bate-papo com internas marcaram a ação do outubro rosa
Por Olga Maria Vieira e Silva
Revisão: Elisa Brotto
Em meio à pandemia, muitos projetos sociais se depararam com dificuldades que impediram o prosseguimento das atividades. Por conta disso, os organizadores desses projetos tiveram que reinventar os métodos para não pararem com as intervenções.
Esse foi o caso da Profª Suzana Coelho, coordenadora do curso de Serviço Social da UNIFACS e atual presidenta do Conselho de Respeito a Cultura da Paz, Diversidade e Direitos Humanos da UNIFACS.
Em conjunto com a turma do curso de Medicina, a professora coordena o projeto de intervenção Sala de Espera Interativa, no Presídio Feminino de Salvador: nesse projeto, os alunos realizam palestras e bate-papo com as internas. Esse mês, o tema foi Outubro Rosa.
Professora Suzana conta que a ideia surgiu a partir de um projeto de intervenção de uma turma de Medicina, para o PISCO – Projeto de Integração Saúde e Comunidade. Na disciplina, os alunos fazem trabalho ambulatorial, médico e socio-educativo, visando a saúde coletiva.
No modelo presencial, essa disciplina é desenvolvida em unidades de saúde. Porém, com o advento da pandemia, não existia a possibilidade de executar as atividades. Então, para não deixar a parte de saúde coletiva inativa, surgiu a ideia.
Como possui parceria com um complexo penal de Salvador por conta de um projeto desenvolvido pela UNIFACS chamado ‘A academia vai ao cárcere’, professora Suzana entrou em contato com o promotor de justiça Edmundo Reis, que apoiou a ideia, explica a professora.
“Pela primeira vez, fizemos uma visita remota: a diretora do complexo, Karina Matos da Silva, fez alguns encontros virtuais conosco para explicar aos alunos a realidade do sistema, como as mulheres em cárcere vivem. Depois, com o celular dela mesmo, conseguiu nos mostrar toda a parte interna do presídio. Num segundo momento, fizemos uma roda com as internas para saber as demandas delas, e como poderíamos ajudar”, explica Coelho.
A partir daí foi criado o projeto “Sala de Espera Interativa”: o presídio disponibilizou uma sala com um computador conectado a internet, e nela entram 7 internas por vez. Uma funcionária fica responsável pelo manejo do computador e pela condução dentro da sala. Então, a sala acontece de maneira interativa e remota.
Os alunos, cada um de sua casa, apresentam slides sobre o tema, e conversam com as mulheres via vídeo conferência. “Essa semana, fiz a sala presencialmente, pois tive autorização para entrar atendendo aos protocolos de segurança, e de lá conduzimos a sala de espera sobre o câncer de mama. Elas (as internas) foram bastante interativas, inclusive já sugeriram novos temas para serem trabalhados nas próximas salas”, conta Coelho.
Quando se trata das demandas analisadas por eles, professora Suzana conta que a questão que surgiu com mais frequência foi a do isolamento social. “As visitas foram suspensas, estão sendo retomadas agora de maneira muito cuidadosa e com número limitado. A gente sabe que a realidade das mulheres no sistema prisional, independente da pandemia, é um processo mais solitário, elas recebem muito menos visitas que os homens”.
Coelho também comentou que algumas estão sem ver suas famílias, filhos e filhas, há mais de sete meses – uma delas tem uma filha bebê. Por conta disso, o projeto encontrou questões muito sérias relacionadas á saúde mental: muitas delas desenvolveram síndrome do pânico, depressão e ansiedade nesse período.
Por conta dessa alta demanda psicossocial, a turma de Psicologia foi convidada a integrar o projeto, juntamente com a professora Cíntia, condutora da Clínica do Feminino da UNIFACS.
A professora Cíntia conta que os resultados tem sido muito positivos, “Os alunos têm dado um feedback muito positivo da experiência. Eles que conduzem tudo: criam material, escolhem a metodologia a ser utilizada, definem quem vai fazer o quê, eu apenas faço a avaliação do material e a supervisão”.
Durante as conversas as internas levantaram diversas outras demandas nesse encontro do Outubro Rosa, como ISTs, câncer de colo de útero, saúde mental e violência, que serão desenvolvidas nas próximas reuniões até o final do ano.
Além disso, as salas foram expandidas para as agentes prisionais também, pois elas apresentam demandas igualmente necessárias nesse momento de pandemia. Então, com a autorização do presídio, agora são feitas reuniões incluindo-as.
“Entendemos que mesmo nesse momento de pandemia, precisamos e conseguimos chegar a algumas pessoas. Somos profissionais de saúde, e mesmo no formato remoto, é possível construirmos formatos e metodologias para que o trabalho social não pare”, completa professora Suzana Coelho.
Global Days of Service
Criado em 2006, o evento Global Days of Service começou na Walden University, nos Estados Unidos, como um único dia para professores e estudantes participarem de atividades em suas comunidades.
Em 2012, o dia de serviço cresceu para incluir toda a rede Laureate International Universities, a qual a Universidade Salvador (Unifacs) faz parte. Em 2016, o projeto foi ampliado para realizar ações durante todo o mês de Outubro.
Muito além de oferecer educação de qualidade, a Unifacs também realiza diversas ações sociais para a comunidade. Através dos projetos de extensão, professores, alunos e todo o corpo docente se engaja em ações que melhoram a realidade das comunidades em que a instituição está localizada.
Para conhecer algumas das ações realizadas pela Unifacs na edição do Global Days of Service 2020, clique aqui.
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