Foto: Chaos P.A

De Camaçari para o mundo, Thug2Beats desliza entre a batida do rap e o ritmo do skate

Por Ludmila Santana

Revisão por Anna Gherardi

A fusão entre a cultura do skate e o ritmo pulsante do hip-hop encontra sua personificação em Thug2Beats, um jovem talento baiano que vem redefinindo o conceito de artista completo.

Natural de Camaçari, Thug2Beats não é apenas um skatista amador de destaque, mas também um rapper em ascensão que transformou suas vivências em arte, resistência e, mais recentemente, em fonte de renda.

A música que virou propósito

Para entender como a fusão entre skate e rap se constrói, é preciso voltar às origens de Wesley Lucas, hoje com 26 anos, conhecido no cenário como Thug2Beats. Sua conexão com o rap começou cedo, dentro de casa, impulsionada pela influência familiar, comenta: “Comecei a ouvir rap pela minha irmã, o primeiro DVD da minha vida foi ela quem me apresentou,” ele conta, revelando a influência de Juliana em sua trajetória. O impacto foi instantâneo: a primeira música ouvida, que o marcou para sempre, foi “In Da Club” do 50 Cent.

Do hobby nasceu a arte, e da arte, o propósito. Atualmente, a produção musical é uma fonte de renda para o skatista, que atua em todas as etapas: desde a captação de áudio até a criação de batidas instrumentais. Sua jornada na música começou antes mesmo do skate, com a escrita de letras aos 10 anos, influenciada por lendas como 2Pac, Eminem e 50 Cent. Foi nas letras e nos beats que ele encontrou a primeira forma de expressar o que via nas ruas e foi justamente nessas ruas que outra paixão nasceu, sobre quatro rodinhas.

A ascensão no skate

Diferente da música, o universo do skate não foi amor à primeira vista para o rapper. Em um contraste com sua paixão imediata pela música, ele inicialmente via o esporte com desinteresse: “Não queria andar de skate, achava que era perda de tempo,” ele confessa.

No entanto, a influência e o apoio de seus amigos, como seu primo “Brown”, foram cruciais. O que começou como uma experiência casual logo se transformou em uma dedicação que o levou a conquistar destaque. Thug2Beats, como skatista amador, rapidamente se tornou um dos nomes mais fortes da Bahia, acumulando pódios importantes:

3º Lugar no Campeonato Baiano de Skate em 2025.

3º Lugar na Seletiva Nacional de Skate Park 2023 – Stella Maris, BA.

Vice-campeão Baiano de Mini Ramp em 2022.

Campeão do Campeonato Matense de Skate em 2017 (Mata de São João).

Campeão do Impacto Radical em Camaçari em Mini Ramp.

Entre suas maiores conquistas, destaca-se a chegada de Thug2Beats à elite nacional, levando o nome de Camaçari aos maiores palcos do skate brasileiro.

Ele foi o único baiano no pódio da Seletiva Nacional de Skate Park 2023, feito que garantiu sua vaga no Campeonato Brasileiro Amador, realizado em Curitiba (PR). A viagem marcou uma série de primeiras vezes em sua vida: a primeira vez voando de avião, a primeira vez fora da Bahia e também a primeira vez longe da zona de conforto, cada momento representava uma nova conquista.

Pouco tempo depois, Thug2Beats escreveu mais um capítulo histórico ao se tornar o primeiro camaçariense a disputar uma eliminatória do Skate Total Urbe (STU), o maior campeonato profissional de skate do país. Competindo ao lado de nomes consagrados como Pedro Barros, ele transformou a experiência em piada no palco de um stand-up, contando que se sentiu como o “Bahia de Feira jogando contra o Real Madrid”. Com bom humor, o skatista transformou a tensão da competição em risada.

Thug2Beats: do ódio à arte

Seu nome artístico é um manifesto inspirado no movimento social criado pelo lendário rapper Tupac Shakur, o T.H.U.G. L.I.F.E. (O ódio que você semeia nas crianças destrói toda a sociedade). O nome Thug2Beats traduz essa mensagem de resistência e esperança: ele usa as batidas (Beats) e a cultura de rua (Thug) para transformar o ódio em arte, mostrando que as pistas de skate e os microfones podem ser espaços de resistência, representatividade e sucesso para a nova geração baiana.

Sua história une esporte e cultura, valoriza o talento local e prova que a pista de skate de Camaçari também pode ser um palco.