Com mais mulheres praticando o esporte, o desafio é conseguir reconhecimento, profissionalização e patrocínios
Por Stéphanie Oliveira e Bruno Alves
Revisão: Antônio Netto
O crescimento no número de mulheres que escolhem o surf como prática de esporte está aumentando progressivo nos últimos anos. As esportistas começam a praticar por diversão e, em consequência, acabam se apaixonando pelo esporte e criando um vínculo para competir.
A surfista Carla Circenis iniciou um projeto com a intenção de atrair mais mulheres para o mar, em reportagens para o Conexão Bahia, informou que, inicialmente, o grupo continha apenas 20 mulheres e, hoje em dia, são mais de 170 mulheres em busca desse primeiro contato com o esporte.
A atleta baiana Kemily Sampaio, de 17 anos, relata que começou a surfar desde muito cedo e se apaixonou pelo esporte: “Meu primeiro contato com a prancha, foi quando tinha apenas seis anos, e conforme os anos passavam eu me encontrava no esporte. Logo aos 13 anos de idade passei a competir nosurfe desde então acumulo títulos nacionais”.
“Esse esporte me motiva cada dia mais a me profissionalizar, a alcançar meus objetivos e, diariamente, me ensina diversas lições. A melhor parte de competir no surf não é apenas ganhar, mas mostrar o meu progresso devido ao meu trabalho e dedicação”, afirma a surfista.
Com reconhecimento das esportistas no surf, que vem sendo conquistado a cada ano, o professor Armando Daltro, proprietário da Escola Armando Daltro Surf, conta que a modalidade tem se estruturado e organizado mais.
“Com reconhecimento do surf como modalidade nas Olimpíadas, atualmente o esporte se tornou mais organizado, acredito que com a popularização do surf, as oportunidades de investimento e trabalho aparecem para todos envolvidos na modalidade”, declara Daltro.
O professor da escola de surf relata que a representatividade feminina no esporte é muito importante para que outras mulheres comecem a praticar o surf: “É possível ver todos os dias mais mulheres no cenário do surf, seja sozinhas ou acompanhadas de seus pares, e também em escolas de surf”.
A jovem Vitória Mori, de 20 anos, conta que gostaria de se profissionalizar, porém encontra muitas dificuldades.
“Gostaria muito de participar de campeonatos, participei de alguns quando era criança. Com oportunidades escassas e a pandemia, não foi mais possível participar de campeonatos, mas se surgir oportunidade gostaria muito e, em consequência, me profissionalizar”, conta Mori.
Desafios no surf
“A principal dificuldade de um profissional do surf atualmente, é conseguir um patrocínio para custear uma equipe de alta performance, equipamentos e as viagens para treinamento e competições”, relata Daltro.
Além da questão do patrocínio, o professor e empresário denuncia mais um desafio para as mulheres no surf:
“No momento ainda existem mais oportunidades para os homens no esporte, por conta da prevalência de praticantes do sexo masculino. Contudo, com a ascensão das mulheres no surf, futuramente, é possível que, conforme o aumento do consumo por elas, ocorra um reinvestimento por parte das empresas. Algumas entidades já estão premiando homens e mulheres da mesma forma”.
“Para mim a maior dificuldade, além do êxito nas competições, é a questão do patrocínio, pelo fato de que empresários fecham muitas portas no esportes, por eu ser do sexo feminino. O olhar deles é diferente, e meu potencial é constantemente duvidado”, relata a surfista Kemily Sampaio.
A surfista denúncia: “Atualmente, tendo em vista um cenário, onde é necessário para as atletas femininas terem mais resultado que os atletas masculinos, para que consigam as mesmas oportunidades que os homens no esporte, por exemplo, é preciso que eu me esforce o dobro que um homem para conseguir um patrocínio”.
“Duvidam das nossas habilidades e performance, supondo que não conseguiremos alcançar os objetivos por conta das diferenças biológicas, devido ao estigma do sexo fragil”, completa a atleta com base em sua experiência.
Representatividade feminina no surf
“O surf além de me proporcionar uma boa saúde física, proporciona também uma conexão incrível com o mar e a natureza em si, sempre me estimulando a renovar as forças e trazendo uma energia surreal. É uma sensação difícil de explicar. Quem puder conhecer e praticar vai adorar”, convida Vitória Mori.
Já Kemily conta que frequentemente conversa com suas colegas de treino e professoras, sobre um possível cenário no esporte com mais meninas, e que cada esse dia chega mais perto.
A representação feminina no surf ganhou até expressão. No meio dos praticantes da modalidade o termo Crowd florido se refere ao momento em que o mar fica repleto de mulheres pregando onda, um evento considerado raro no surf.
“Em breve, o crowd vai ficar mais florido”, relata Kemilly, com esperança.
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