Cultura Digital, novas tecnologias e os impactos das mediações algorítmicas no âmbito da comunicação, design e da própria sociedade foram temas do evento que reuniu mais de 350 alunos
Por Catherine Marinho
Revisão: Antônio Netto
A Aula Magna dos cursos de Comunicação e Design da Unifacs aconteceu na manhã desta terça-feira (16) e contou com a presença do convidado Elias Bitencourt, professor e pesquisador (Poscom-UFBA), com a mediação dos professores da Unifacs, Antônio Netto e Camila Farias, e apresentação da coordenadora Danúbia Leal.
O cenário da Cultura Digital contemporânea é a grande pauta da palestra e chamou a atenção de mais de trezentos e cinquenta alunos dos cursos, que lotaram simultaneamente a sala virtual do BlackBoard, de forma remota.
De acordo com o pesquisador, entender o funcionamento do mundo digital na contemporaneidade é de fundamental importância para a compreensão do cenário em que vivemos.
Para Bitencourt, o ambiente digital não pode ser visto apenas como uma ferramenta “nichada”, mas sim como algo muito maior, atingindo a vida pessoal e coletiva dos indivíduos.
O pesquisador destaca ainda ao processo de reconfiguração do capital, pois está intimamente ligado à lógica de fazer comunicação.
“Estamos passando por um processo de reconfiguração bem significativo do capital, uma economia que está pautada em startups e modelos de dataficação, modelos de negócios baseados em monitoramento de dados. Precisamos entender as questões que o capitalismo de dados vem trazendo pro campo da comunicação e design”, pontua Bittencourt.
Capitalismo Industrial x Capitalismo Financeiro
Segundo Elias, antes estudava-se os impactos do sistema capitalista na comunicação, principalmente na criação de produtos, seguindo a lógica de comercialização. Já em um novo cenário digital, ocorre a “modernização do sistema vigente”, transformando-se no que o professor define como “capitalismo de dados”:
“A principal diferença desse capital especulativo é de transformar esse ‘industrial’ em algo que é digital, isso não tem a ver com digitalização, não é um processo de transposição, mas sim de dataficação, no sentido de transformar qualquer fenômeno em algo que é passível de interpretação”, explica Bitencourt.
Essa mudança, segundo o professor, trouxe mudanças perceptíveis no funcionamento da comunicação, do consumo e da própria sociedade, no âmbito individual e coletivo.
“A verdade sempre foi aquilo que você acredita, o problema é que os algoritmos agora sabem no que você acredita e lhe entregam verdades sempre muito convenientes”
Especulação e lucro
Para Bitencourt, “nosso modelo de pensar o lucro está muito pautado no capitalismo industrial. Os comunicadores acham que o lucro está em cima da publicidade, mas não é nada disso, o processo do lucro está na especulação”.
O modelo de negócio do capital financeiro é especular no sentido de buscar informações e criar parâmetros para conseguir identificar oportunidades e antever os riscos. O pesquisador reitera que “a maneira como nossas atividades estão sendo dataficadas e transformadas em padrões trazem grandes potências especulativas”.
Bitencourt exemplifica, a partir dos “unicórnios brasileiros” – startups que possuem avaliação de mercado acima de um bilhão de dólares – aplicativos muito recentes, como iFood e Nubank. Essas startups criam os “padrões de possíveis riscos e tendências os quais nem sabemos que existem”, completa.
Os “ismos-tretas”
Propagandacentrismo, Socialmediacentrismo, Antropocentrismo são os três neologismos que Bittencourt cria para pontuar alguns fenômenos como limitadores da busca de entendimento de novos cenários comunicacionais.
“Se a gente não entender como a infraestrutura está sendo construída, a gente não vai entender qual o papel da comunicação nessa infraestrutura, porque estaremos usando as velhas ferramentas para poder trabalhar com o que é novo”, explica o professor.
Os objetos estudados na cultura digital tem demandas próprias e linguagens específicas. Para assimilar a circulação de discurso em uma rede, a pessoa não deve se limitar ao texto, como pontua o pesquisador, “em uma rede social, o texto é pretexto, o que mais importa é a reação, estamos lidando com uma economia afetiva, da atenção”.
“Se eu construo um algoritmo e ele tem uma lógica específica, ele está trazendo modificações ainda mais profundas, está reconfigurando democracias, governos, meio ambiente”, alerta.
Tretas Coletivas
Estamos vivendo uma crise de identidade e de legitimidade institucional, em um contexto de vigilância ostensiva e uma falta de regulamentação do mundo digital, quem responsabilizar pela circulação de fake news?
Bitencourt ressalta: “verdade sempre foi aquilo que você acredita, o problema é que os algoritmos agora sabem no que você acredita e lhe entregam verdades sempre muito convenientes”.
Cabe também a reflexão de que não existe nenhum objeto sem uma intenção política por trás e cabe aos comunicadores se questionarem em relação a isso. Para o pesquisador “um objeto sem ideologia é uma utopia”.
Expectativas dos alunos
A aula inaugural de comunicação e design motivou a comunidade acadêmica da instituição na busca por novos conhecimentos, principalmente tratando-se do meio digital, que está em constante modernização, como ressalta Letícia Soares, estudante de jornalismo da Unifacs:
“A palestra com Elias foi muito interessante, ele explicou diversas dúvidas que eu tinha sobre questões de dados dos aplicativos e unicórnios brasileiros, fortaleceu o interesse que eu tinha nessa questão do algoritmo e do comportamento do consumidor no digital, logo após a aula dele fui buscar mais sobre o assunto”, declara Soares.
A estudante de jornalismo Clara Paixão ressalta que tem a expectativa de aprender mais sobre o tema. “Gostaria de mais palestras na área de comunicação para agregar e trazer questionamentos de marketing e novas redes sociais, porque é uma forma de nós estudantes entendermos melhor o processo”, relata a aluna.
A Aula Magna do curso de Comunicação e Design da Unifacs com o Professor Elias Bitencourt pode ser assistida na íntegra, clicando aqui.
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