Moradores do bairro Costa Azul relatam o descaso com a foz do rio, devido ao descarte irregular de esgoto e lixo
Por Beatriz Macêdo, Júlia Ramos e Karine Araújo
Revisão: Antônio Netto
Com 14 km de extensão, o Rio Camarajipe é o maior rio urbano de Salvador. Apesar de ser de um dos principais afluentes da cidade, o rio contribuiu para o abastecimento de água da capital baiana apenas até o final da década de 1970, em razão da péssima qualidade da água.
Mais de 50 anos depois, a situação da água do afluente ainda é crítica, isto porque a quantidade de lixo e esgoto irregular jogado diariamente no Rio Camarajipe impressiona moradores e transeuntes.
O rio, que nasce no bairro da Boa Vista do São Caetano e deságua no mar entre as avenidas Octávio Mangabeira e Professor Magalhães Neto, em Salvador, praticamente corta a cidade de ponta a ponta.
Embora possua todas as características para ser um verdadeiro cartão postal do município, o Camarajipe tem se tornado, na verdade, um grande empecilho para quem mora no entorno da sua foz.
Moradores insatisfeitos
Quem mora próximo ao conhecido Parque Costa Azul, onde o rio desagua, precisa lidar com o mau cheiro e a presença de insetos e roedores na região, problemas já recorrentes, e que acabam refletindo na qualidade de vida da população.
“É de ficar impressionada. Um parque bem localizado como esse, abandonado desse jeito. O cheiro de esgoto é forte demais. Não dá vontade nem de passear por aqui”, relata a aposentada Marivete Lisboa, de 70 anos, que mora no Costa Azul.
Caminhando pelo local, na tarde desta quarta-feira, a equipe de reportagem identificou uma grande quantidade de lixo, entulho e demais resíduos sólidos no entorno da foz do Rio Camarajipe.
Em paralelo a isso, também foi observado que o fluxo de visitantes no Parque Costa Azul já é bastante reduzido.
Qualidade da água
Um relatório técnico realizado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) em 2020 aponta que, das seis amostras de água coletadas de diferentes pontos do rio, cinco foram consideradas com qualidade péssima, fato que comprova a gravidade da poluição do rio soteropolitano.
O biólogo Cecil Fazolato, doutorando da Universidade Federal da Bahia (Ufba), garante que os impactos da poluição podem ir além do ecossistema.
“Esses problemas afetam diretamente as populações humanas, principalmente os serviços ecossistêmicos”, aponta o especialista.
Cecil enfatiza ainda que “apesar das propagandas políticas pró-ambiente, ainda estamos longe de ter planejamentos eficientes de descartes”.
Além disso, o biólogo considerou que o aprimoramento do comportamento do homem diante desta problemática “é um processo demorado, que demanda interagir diretamente na cultura da população”, concluiu Cecil.
A origem do problema
A fim de apurar a origem do lixo e esgoto despejados no Rio Camarajipe, a reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa), que se limitou a dizer que os resíduos tóxicos são resultado de ações clandestinas de “imóveis não ligados à rede pública”.
Questionada também acerca da existência de projetos em prol da recuperação das águas do Camarajipe, a Embasa garantiu que vem utilizando estratégias para captar e desviar os efluentes sanitários clandestinos, evitando assim que lixo e esgoto sejam jogados no rio.
Confira nota da Embasa na íntegra:
“A poluição do Rio Jaguaribe é decorrente da poluição causada por diversos fatores como lixo (resíduos sólidos), sujeira das ruas e também esgoto lançado clandestinamente por imóveis não ligados à rede pública de esgotamento sanitário, principalmente. De modo geral, as ligações clandestinas são realizadas nas redes de drenagem pluvial que levam a água das chuvas para os rios urbanos, cujo destino final são as praias. A responsabilidade de implantação, operação e manutenção das redes de drenagem pluvial é da prefeitura municipal.
Para diminuir a poluição na praia do Costa Azul, onde se encontra a foz do rio Camurajipe, a Embasa mantém uma captação em tempo seco (quando não chove), que tem a função de coletar e desviar os efluentes sanitários clandestinos lançados na rede de drenagem desse rio e conduzi-los até a estação de condicionamento prévio operada pela empresa. Essa ação evita que o lixo e o esgoto lançados no rio pela população cheguem à praia de Armação. Em época de chuva, isso não é viável devido ao grande volume de água do rio, que extravasa na captação em tempo seco e segue para a praia”.
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