Criado em 2013, o programa foca na segurança dos motoristas e otimiza o transporte de produtos agrícolas nas estradas vicinais do Oeste Baiano, por onde as cargas são escoadas

Mais de 200 caminhões e máquinas transitam pelas rotas das fazendas | ABAPA/Divulgação
Por Matheus Nogueira
Revisão e orientação: Kátia Borges
Cheiro de terra molhada é sinônimo de safra boa, pois é regando o plantio que se garante a colheita. Entretanto, garantir a qualidade da safra vai muito além da irrigação, implica em zelar pela qualidade do solo no qual a carga trafega até o destino final. Para isso, é preciso conter os excessos e reaproveitar os recursos naturais. Afinal, a erosão e o assoreamento são recorrentes em estradas vicinais e tais fenômenos prejudicam o fluxo logístico. Com o objetivo de mitigar esse problema, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) criou, em 2013, o Patrulha Mecanizada.
Com apoio do Instituto Baiano de Algodão (IBA), e em colaboração com o Fundo de Desenvolvimento Agrário (FUNDEAGRO) e com produtores rurais da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), o projeto tem como foco a pavimentação asfáltica e a terraplanagem das estradas vicinais que conectam Luís Eduardo Magalhães às rodovias, dando segurança à logística regional. Entre 2024 e 2025, o Patrulha Mecanizada pavimentou mais de 186 km. No total, foram mais de 320 km de estradas asfaltadas e 3.000 km de estradas recuperadas.
De acordo com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em 2023, a taxa de retorno financeiro do Patrulha Mecanizada correspondeu a R$ 4,04, o que significa que, a cada real investido no projeto, foram obtidos quatro vezes mais. A agilidade do tráfego e a economia de custos, relacionados à manutenção, auxiliam o investimento no setor. Paulo Lopes, gerente do Patrulha Mecanizada, explica que essa lucratividade tem destino certo. “O retorno vai para a sociedade. Seja para o produtor, a pessoa que tem a propriedade da linha, seja para a comunidade que é atendida por essa estrada, seja pelo comerciante que tem um posto de gasolina, restaurante ou pousada”.
Maquinário seguro
No processo de pavimentação e terraplanagem das estradas vicinais são utilizadas, de acordo com Paulo Lopes, escavadeiras, motoniveladoras, tratores, caminhões-pipa, rolos compactadores e usinas de microrrevestimento. “Nossas máquinas possuem controle e rastreio seguro. Os operadores são treinados, capacitados para operar com complemento segurança. Nossa operação é, basicamente, a compactação do terreno, até chegar na estrada. Lançar as camadas de materiais necessários para a resistência adequada ao tráfego até o asfalto”, explica.
Encarregado de manutenção do Patrulha Mecanizada, João Victor da Silva, 25 anos, diz que o trabalho vai muito além do operacional. “Esse é um projeto que gera desenvolvimento, fortalece o agronegócio e promove diversos benefícios sociais”. A frota dispõe de mais de 70 equipamentos, em sua totalidade, entre veículos, máquinas e implementos. O planejamento e a organização dos cronogramas de manutenção das estradas têm sido uma estratégia viável, segundo Silva.
O gerente do projeto explica que há uma fila para a execução dos trabalhos nas estradas próximas às fazendas. “Segue uma ordem de chegada: quem conseguiu criar sua associação, fazer o seu projeto, fica apto e tem a prioridade para ser atendido”, diz. Lopes acrescenta que a equipe da Patrulha Mecanizada nunca está parada, e nem tem planos de parar. “As estradas vão sendo concluídas e outras são iniciadas. São mais de uma década de fila para ser construída ainda, são mais de 1.000 km previstos ao longo dos próximos 10 anos”, observa.
Parcerias e expansão
Além das vicinais, o Patrulha revitalizou trechos de duas rodovias estaduais: 35 km da BA-458 (Rodovia Estrondo) e 60 km da BA-462 (Linha Alto Horizonte). A perspectiva é criar parcerias com o poder público para viabilizar a expansão do projeto, como avalia Alessandra Zanotto, presidente da ABAPA. “Nosso projeto já é uma realidade na Bahia, porém, não fazemos nada sozinhos. A última estrada pavimentada, com 68 km, é um exemplo. Foi uma parceria com a IBA, com os produtores e com o governo estadual, por meio do Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária (PRODEAGRO). Dependemos de parcerias sólidas como essa”, explica.

Para Alessandra Zanotto, presidente da ABAPA, a meta é expandir o projeto | EMBRAPA/Divulgação
A logística, de acordo com Zanotto, melhora não apenas a produção, mas também a vida dos trabalhadores. “Hoje temos colaboradores das fazendas que podem circular em rodovias que são pavimentadas e não em estradas vicinais precárias, como acontecia antigamente”. O desenvolvimento, como pontua a presidente da ABAPA, estende-se à preservação de água dentro das fazendas e à segurança no transporte.
Um dos beneficiados pelo projeto, o caminhoneiro Horácio Aquino ganha a vida transportando algodão pelas estradas do Oeste Baiano. Começou como encarregado em uma das fazendas da região e, com o tempo, comprou seu próprio caminhão e passou a trabalhar de forma autônoma. “Antigamente, era muito complicado. A região do Oeste da Bahia hoje é uma das mais privilegiadas, porque, a cada ano, as coisas melhoram. Há muita influência em torno da agricultura, e os agricultores se empenham para fazer o negócio andar”, avalia.

Autônomo, Horácio Aquino transporta algodão no Oeste Baiano | Foto: Matheus Nogueira
Processo de Terraplanagem
Segundo Gustavo Prado, diretor-executivo da ABAPA, o projeto foi iniciado com a finalidade de atender aos produtores de algodão que enfrentavam condições precárias de logística no Oeste Baiano. “Antes de começar o Patrulha, a Bahia tinha uma qualidade muito ruim de estradas vicinais (que ligam uma propriedade à outra), porque, na região, o relevo é muito plano. Por outro lado, existem as serras e, quando há chuva pesada nesses locais, a água desce junto às enxurradas e forma um leito análogo a um rio”, explica.
Barreiras de captação, contenção e desvios laterais da água da chuva são algumas das estratégias adotadas, privilegiando o aspecto sustentável, com o objetivo de direcionar a água a um local adequado. “Com nossas intervenções, aumentando o nível da estrada acima da lavoura, conseguimos ter sucesso, porque são formadas bacias de captação para a água ser filtrada”, explica, ressaltando que o Patrulha Mecanizada é um exemplo da força e da união dos produtores. E é assim que a cotonicultura movimenta a economia do país.
Para saber mais sobre a Patrulha Mecanizada, ouça o podcast “Caminhos do Algodão”, que traz relatos de trabalhadores rurais do Oeste Baiano e de integrantes da ABAPA.