Busca por patrocínio é a grande dificuldade dos grandes e pequenos atletas no Brasil
Por : Amanda Queiroz, Sabrina Cumming, Pedro Cardoso
Revisão: Antônio Netto
Chegando próximo ao mês dos jogos Olímpicos de 2021, em Tóquio, a busca por patrocínios esportivos aumenta, principalmente depois dos cortes de verbas e restrições causadas da pandemia.
Para um atleta ter um desenvolvimento bom em suas competições, além de bons equipamentos de treino, é necessário ainda uma equipe composta, geralmente, por psicólogos, nutricionistas, médicos, preparadores físicos e fisioterapeutas.
Todo esse custo, mais o investimento para as competições, deixa o processo para a profissionalização dentro do esporte inacessível para muitos atletas.
Para Caio Rocha, professor e atleta de jiu-jitsu, “conseguir um patrocinador que tenha todas as obrigações com o atleta é praticamente impossível”.
“O que conseguimos no jiu-jitsu é apoio. Então você vai ali, a pessoa te dá um suplemento, você vai aqui, ganha uma inscrição, um material para vender. Patrocínio são poucos atletas que conseguem, as empresas não estão aptas para patrocinar, devido a burocracia e crise econômica atual”, conta o professor de jiu-jitsu.
Existem programas de bolsas esportivas oferecidas pelo governo, que tem como objetivo garantir boas condições aos atletas brasileiros. E, se já é difícil para quem está nos jogos internacionais, para os atletas iniciantes é ainda mais complicado.
“O governo tem alguns projetos, para que o atleta seja inserido nas bolsas como o Bolsa Atleta ou Faz Atleta. Só que para o Bolsa Atleta, tem que ter ranking nacional. O Faz Atleta você tem que conseguir uma empresa que esteja disposta a abrir suas contas para o Estado, nem todas as empresas têm condição. O auxílio do governo é quase inexistente, é muito difícil conseguir algo deles”, relata Rocha.
Assim como o professor, Taiana Almeida, jogadora de futebol e fisioterapeuta, também sofre com a falta de bons provedores que financiem sua estadia no esporte.
A jogadora conta que já recebeu um auxílio esportivo do governo mas não durou muito tempo, então teve que procurar outros meios financeiros de auto custeio. E que grande parte dos atletas também trabalham por fora para suprir suas necessidades, além de outras dificuldades momentâneas.
“Uma dos obstáculos de ser atleta é manter a alta performance, conseguir ser patrocinada ou empresariada, quando os clubes não possuem patrocínio suficiente para custear as idas aos jogos e as cláusulas inadmissíveis contratuais. A maioria das vezes pede 40% do salário da atleta ou prende a jogadora por anos”, conta Taiana.
Na proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020 enviada ao Congresso Nacional, o presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), propôs que o investimento no esporte fosse de R$220 milhões. Praticamente metade do que foi proposto por Michel Temer (MDB) em 2019, R$ 431 milhões.
Para 2021, a LOA prevê R$ 292 milhões para programas de Esporte. Em comparação aos governos anteriores, os números ainda são muito distantes. Porém com a novidade da recomposição do orçamento do Bolsa Atleta, que neste ano atingiu a maior marca contemplados, 7.197 atletas, desde o início do programa em 2004.
Visibilidade não garante patrocínio
A brasileira Marta, eleita seis vezes como a melhor jogadora do mundo, tem um alcance de visibilidade e representatividade, mas este fator não garantiu a renovação contratual.
Desde então, a jogadora segue sem patrocínio por não concordar com os contratos oferecidos a ela, em razão das propostas não serem à altura do que Marta representa ao futebol mundial.
Esta dificuldade de visibilidade foi mencionada por Érika Coimbra, jogadora de vôlei da seleção brasileira. Em uma entrevista a um jornal, a atleta menciona a diferença de tratamento entre esportistas femininos e masculinos, e, mesmo sendo uma esportista experiente e com títulos olímpicos, ela se sente invisível aos olhos dos grandes patrocinadores.
“O que eu peço é visibilidade, tanto para o feminino quanto para o masculino. A gente tem o mesmo direito de ser olhada com mais carinho. O feminino está aí, batalhando há muito tempo, e ninguém olha para a gente com carinho, com os olhos que tem que olhar”, diz a carioca.
A falta de mídia e patrocínio, é a desmotivação dos atletas. Em 2019 Nathalie Moellhausen conquistou o título mundial de esgrima pela primeira vez pelo Brasil e, mesmo assim, para conseguir sobreviver no esporte tem que trabalhar por fora, mantendo uma empresa de produção de eventos.
“Falta conhecimento para entender como identificar os valores da marca com esse esporte. Passar essa mensagem faz parte da minha missão de campeã mundial”, cita a atleta.
Para Taiana, essa falta de visibilidade da mídia se estende também fora do esporte.
“Infelizmente o Brasil é um país preconceituoso em todos os meios de trabalho onde a mulher se destaca, e no futebol não poderia ser diferente. Marta, Formiga, Sissi, Pretinha são símbolo de luta e resistência na modalidade [futebol feminino]. Hoje estamos ganhando mais espaço graças a elas e outras pioneiras, porém precisamos sim de mais visibilidade, igualdade e respeito em qualquer área de atuação”, declara a jogadora.
Desistência dos esportes
A falta de incentivo financeiro acarreta na desistência esportiva de alguns atletas, ainda mais dos que estão no começo da jornada.
A esportista Taiana afirma que já cogitou na desistência: “Pensei em desistir várias vezes. Agora tudo é agente-empresário. Quando não se tem fica mais difícil de conseguir um clube bom, de carteira assinada”.
Caio Rocha, atleta de jiu-jitsu, relata que tem uma segunda profissão para poder viver seu sonho esportivo: “sou professor de Geografia, tenho esse trabalho para suprir minhas necessidades de vida, não é possível sobreviver apenas do esporte, ainda mais sem patrocínio”.
Rocha já viu alguns atletas e alunos, com grande potencial de crescimento na carreira, abandonarem o esporte pela inviabilidade financeira.
“O último atleta que tentei treinar, chegamos ao consenso que era melhor ele trabalhar, porque o que ele queria com o jiu-jitsu em termos financeiros, não tinha como ganhar. A academia não tinha condições de financiá-lo, não tinha patrocínio e ele tem uma filha para criar. Desistiu de treinar, de fazer parte do projeto. Infelizmente, ou trabalha ou vira atleta, aqui no Brasil você não tem como viver de esporte”, opina Rocha.
Diferença Salarial
Segundo dados do IBGE, no ano de 2016 a mulher ganhava 20,5% a menos que o homem no país, mesmo tendo maior formação de escolaridade.
No cenário esportivo, dados do portal Uol mostram que, em 2018, o campeonato brasileiro pagou às jogadoras R$ 120 mil, quando que aos jogadores masculinos foram pagos R$ 18 milhões, ou seja, 143 vezes a mais.
Uma lista da Forbes, divulgada em 29 de maio deste ano, aponta a diferença salarial entre homens e mulheres no esporte. Entre os 100 atletas mais bem pagos, só há dois nomes femininos na lista: as tenistas Naomi Ozaka, 29º posição com 30 milhões de dólares, e Serena Williams, na 33º posição.
Entretanto, a desigualdade de valores pagos por gênero no esporte não é o único fator negativo. Os times de futebol feminino não vendem seus direitos a transmissão de jogos para as emissoras, não tendo audiências para oferecer aos patrocinadores e não conseguindo atrair público para possíveis partidas.
“Raramente jogos femininos são transmitidos, a Globo transmite apenas jogos importantes no entendimento deles. Já a Band abraça o futebol feminino a mais tempo, exibindo atualmente o campeonato brasileiro feminino série A1 e A2”, relata Taiana.
A emissora Globo, visando o crescimento de mulheres no departamento esportivo fechou contrato aos direitos de transmissão do Brasileirão Feminino A1, a divisão de elite do futebol feminino nacional.
A TV Globo irá exibir, inicialmente, um jogo por semana no SporTV, seu canal esportivo na TV paga. Sendo a primeira vez da liga com exibição regular em alguma plataforma da Globo.
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