O distanciamento social não afetou apenas a aprendizagem como também a saúde mental de alunos e professores, que foram os principais atingidos por este novo cenário
Por Amanda Issa, Maria Clara Lyra e Samira Almeida
Revisão: Antônio Netto
Com a suspensão das aulas presenciais, por mais de um ano, devido ao isolamento causado pela pandemia do coronavírus, os problemas já existentes na sociedade brasileira se agravaram ainda mais.
A evasão escolar e falta de recursos tecnológicos para todos dificultaram, assim, o desenvolvimento do estudante como indivíduo social.
“Não há investimento do governo na escola pública, alunos não têm acesso à aulas online, não têm computador ou tablet, malmente um smartphone. Também não existe investimento na particular por parte do governo e do colégio”, opina a professora de Literatura, Raquel Dias.
“Tudo ficou por conta do professor: luz, internet, um notebook melhor, uma internet mais rápida. Só vi despesa, trabalho demais e ajuda nenhuma”, desabafa a professora.
De acordo com o estudo “Enfrentamento da cultura do fracasso escolar”, realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o Instituto Claro e Cenpec Educação, cerca de 5,5 milhões de estudantes brasileiros, entre seis e 17 anos, não tiveram acesso à atividades escolares em 2020.
Saúde mental
Outra questão que também se tornou alarmante durante este período é a piora no quadro mental dos alunos. O fechamento de escolas para promover o distanciamento social ocasionou no agravamento de problemas psicológicos, tais como ansiedade e depressão.
O estudante Juan Pablo, do Colégio Militar de Salvador, relata que teve a sua saúde mental diretamente afetada pela pandemia, já que foi forçado a se adaptar à uma nova rotina.
“Não me sinto preparado para um vestibular por conta do ensino horrível que tive no EAD [Ensino à Distância] de uma escola estadual. Se eu não correr atrás e estudar através de outros meios, vou ser prejudicado e ultrapassado por alunos das escolas particulares”, relata o estudante.
A falta de perspectiva sobre o futuro se torna comum neste período de quarentena, pois, assim como os estudantes, os educadores tentam compensar uma possível queda na qualidade da educação pela mudança repentina dos ambientes presenciais para as salas virtuais.
Evasão escolar
A falta de acesso à internet é realidade para mais de 17% (4,8 milhões) de estudantes brasileiros, entre 9 e 17 anos, segundo pesquisa realizada pela TIC Kids Online, em 2019, e divulgada pela Unicef. Os dados foram coletados entre outubro daquele ano e março de 2020.
O estudo aponta que alguns estudantes que não têm acesso à internet em casa, ainda conseguem acessar a rede em outros lugares, como escolas ou telecentros. Entretanto, nesta faixa etária, 11% não é possui internet em nenhum local.
Sem a garantia do direito básico à educação, os alunos não conseguem enxergar outra alternativa, a não ser deixarem as escolas, ocasionando em altos índices de evasão escolar.
“O MEC [Ministério da Educação], juntamente com institutos científicos, deveriam elaborar ações e diretrizes de compensação para execução de um novo plano de carga horária letiva, oferecendo acesso a uma plataforma educativa, online e extra-curricular, como forma de recuperação dos conteúdos”, sugere a cientista social, Valquiria Lyra, da Universidade Estadual da Bahia (Uneb).
Na Bahia
O governador da Bahia, Rui Costa, assinou um decreto, em março de 2020, que estabelecia a suspensão das aulas nas redes estaduais e privadas em todo o estado, válida por 30 dias. Medida essa para conter o coronavírus no território baiano, que já registrava 217 casos confirmados, segundo a Secretaria da Saúde (Sesab).
No entanto, em meados de abril, Rui Costa liberou a realização de eventos com capacidade máxima de até 50 pessoas enquanto as aulas presenciais continuavam suspensas.
Segundo Valquiria, a decisão não foi adequada para a situação de crise pública que a Bahia se encontrava, uma vez que os locais liberados recebem orientações prévias, passadas pelos órgãos fiscais, ao contrário dos ambientes escolares, que envolvem questões mais detalhadas.
“A liberação das escolas perpassa por questões muito mais delicadas, pois abrange os cuidados sanitários, a necessidade de reintegração social, o medo da contaminação dos alunos e professores e o estado psíquico de alunos e professores”, conta a cientista social.
Houve ainda uma tentativa de retomada das aulas presenciais nas faculdades promovida pelo ex-prefeito da capital baiana, ACM Neto, em outubro de 2020. Porém, com o aumento de casos da doença no estado e receio da contaminação, a medida foi suspensa.
A Bahia se encontrava, neste período, com 352.700 casos confirmados e 7.600 óbitos pelo coronavírus.
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