Por Caio Costa
Estudante de Jornalismo da UNIFACS
Um posto de gasolina no meio do cerrado. Assim o gaúcho Júlio Cézar Busato descreve a região onde hoje é localizada a cidade Luís Eduardo Magalhães quando chegou na Bahia, em 1987. O agricultor e sua família estavam entre os primeiros grupos de sulistas que desbravaram as terras do cerrado do oeste do estado e se firmaram na região para desenvolver a agricultura.
De lá para cá, o povoado que se formou no entroncamento da BR-242 com a BR-020 se desenvolveu e hoje é o município com um dos maiores crescimentos do PIB na Bahia e uma força empregatícia do agronegócio.
Com um aumento de 145% na riqueza gerada pela cidade nos últimos oito anos segundo dados do IBGE, Luís Eduardo Magalhães está entre os municípios que se destacam pela produção de algodão do estado.
Despontando como o ouro branco do oeste baiano, a região concentra 96% da produção da fibra no estado e conta com uma cadeia produtiva que gera cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos, segundo a Associação Baiana de Produtores de Algodão (Abapa).
Para Júlio Busato, que atualmente ocupa os cargos de presidência da Abapa e vice-presidência da associação brasileira, a história da produção do algodão na Bahia, a cotonicultura, divide importantes momentos com a história de Luís Eduardo Magalhães.
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A Abapa foi fundada no mesmo ano que a oficialização da cidade como um município, no ano 2000, com produtores obtendo um crescimento que acompanham o ritmo acelerado de desenvolvimento da região.
Gerando um valor bruto de produção estadual de R$ 4 bilhões na safra do período de 2018/ 2019 segundo a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), a alta produtividade consagra a Bahia como o segundo maior produtor de algodão do Brasil, o quarto maior produtor mundial.
Com uma área de cultivo em todo o oeste de 320 mil hectares, sendo aproximadamente 19 mil somente em Luís Eduardo Magalhães, a média de colheita foi de 330 arrobas por hectare na safra. “A expectativa do setor da região é de aumentar ainda mais a sua participação nos índices de exportação nos próximos anos”, afirma Busato.
GERAÇÃO DE EMPREGOS
A cultura do algodão impacta diretamente no surgimento de indústrias, lojas, revendedoras e a estabilização do comércio voltado para os produtos provenientes da cotonicultura. Com Luís Eduardo Magalhães obtendo um alto desenvolvimento em um curto espaço de tempo, o crescimento econômico atraiu uma migração de trabalhadores de outras cidades do estado em busca das oportunidades criadas pelos setores da agroeconomia, incluindo a produção do algodão.
A cidade teve um aumento demográfico de 46% nos últimos nove anos, com a população chegando a aproximadamente 89 mil habitantes.
Caio Pereira de Carvalho é um dos trabalhadores que migraram para a cidade. Nativo da região sul da Bahia, o jovem trabalha no Centro de Análise de Fibras, da Abapa, o maior laboratório de análise de fibras da América Latina. O centro faz análise visual e por equipamentos de High Volume Instrument (HVI) das fibras do algodão e é referência mundial na manutenção de qualidade.
Para isso, conta com uma equipe de 106 profissionais, segundo o gerente do centro Sérgio Brentano. “Vim para Luís Eduardo Magalhães porque soube das vagas de emprego que estavam surgindo na cidade por causa da agricultura. Chegando aqui, acabei conseguindo a oportunidade de trabalhar com o algodão”, conta o Caio de Carvalho que trabalha por pouco mais de dois meses na unidade.
Apesar da pluma ser o principal produto do algodão, o caroço é um importante subproduto que contribui com a cadeia produtiva. Com o Brasil figurando como o quinto maior produtor mundial do caroço, a Icofort é uma indústria voltada para a geração de óleo, línter, torta e farelo de algodão utilizados posteriormente na produção de produtos animais, industriais e nutricionais.
Com uma produção de 90% dos caroços da Bahia e uma meta de crescimento de 20% ao ano até 2024, a empresa conta com 86 funcionários somente no parque industrial de Luís Eduardo Magalhães.
Um desses funcionários é o Vitor Ramos, assistente administrativo do controle de qualidade e processo da Icofort. “Foi o meu primeiro emprego, eu tenho oito anos na empresa. É muito gratificante que o processo de esmagamento do caroço para retirada do óleo renda tantas oportunidades de emprego”, comenta o assistente.
DESENVOLVIMENTO DE OUTROS SETORES DA ECONOMIA
Vivendo números recordes em safras, os investimentos na cotonicultura financiam também o setor têxtil, o segundo que mais emprega no país, com a campanha nacional “Sou Algodão”, criada a três anos por agricultores com o intuito de promover o consumo no país de peças de roupas produzidas a partir da fibra, que para o uso têxtil costuma ter maior utilização fora do país que internamente.
Além dos empregos ligados diretamente ao cultivo e produção da cotonicultura, a atividade agrícola como um todo impacta indiretamente setores econômicos influenciados pela criação de uma infraestrutura na região para acomodar as necessidades da agricultura, gerando empregos e aquecendo a economia local.
Sem o turismo como uma fonte expressiva de renda, a hotelaria é um dos setores econômicos da região dependente do agronegócio. “Os hóspedes aqui do hotel que estão visitando Luís Eduardo Magalhães costumam estar na cidade a eventos ligados ao mundo agro, o que inclui a cotonicultura, que está entre os carros-chefes da produção na cidade”, opina o Ubiratan Santos, recepcionista do hotel Paranoá que acredita ser um dos impactados pelos empregos indiretos gerados pela agricultura.
“Eu ocupo este cargo por quase três anos e dou total crédito a existência da vaga que eu exerço a agroeconomia, é o que move a questão monetária da cidade”, completa o Ubiratan.