Colunista do Jornal Correio comenta sobre dificuldade do sistema em entender a reparação social
Por Jeferson Santana
Revisão: Carolina Papa
Acontece nesta segunda-feira (26), mais uma live do Ciclo de Debates sobre jornalismo. Ministrada pela professora dos cursos de comunicação da Unifacs, Kátia Borges, a palestra desta semana tem como convidada a colunista do Jornal Correio, Flávia Azevedo.
Em uma conversa descontraída, Azevedo fala sobre o processo de empoderamento feminino na sociedade, a figura do jornalista durante a pandemia do novo Coronavírus e as perspectivas acerca do futuro da profissão.
QuantA
Sucesso entre os leitores, e alvo de duras críticas e polêmicas por parte dos mais incomodados com a temática, Azevedo fala também sobre os impactos causados pela sua coluna QuantA, no Jornal Correio.
De volta ao jornal após quase 20 anos, a colunista relembra a produção de artigos de opinião e o processo criativo do projeto, junto à editora-chefe do jornal, Linda Bezerra.
“Já havia conversado com Linda Bezerra, no fim de 2017. A coluna já existia, mas ela não tinha nada a ver com mulher. Era uma coluna de generalidades aos finais de semana. Pensei, vamos fazer uma coluna feminista, que seja um espaço para que as mulheres falem de si. Sobre pessoa que vende brigadeiro, a discussão é sobre deixar o cabelo grisalho ou ter filhos. É para ser um espaço onde a mulher esteja, onde o feminino esteja”, conta.
Segundo Azevedo, a abordagem relacionada ao feminismo tem relação com assuntos presentes em seu cotidiano. Paralisado desde o início do período pandêmico, em março deste ano, o espaço já tem previsão de retorno.
“Não fiquei legal para manter como estava. Voltamos com ela agora em novembro, no mais tardar em dezembro”, relata.
Carreira
Contando um pouco sobre a carreira, a jornalista cita a dificuldade de assimilação acerca do conteúdo desenvolvido, muitas vezes reproduzida de maneira inconsciente pelo público.
“Eu ouvi coisas engraçadíssimas, como: “por que você não chama um homem para falar sobre o que ele acha sobre as mulheres”. A gente tem um mundo onde ainda é majoritariamente dominado por homens, uma coluna no jornal está incomodando? Há uma dificuldade em entender o que é reparação, como há no sistema de cotas”, avalia a comunicóloga.
Criticando o patrulhamento violento e contraditório, sofrido nos primeiros momentos após a publicação de alguns artigos, a jornalista conta que chegou a sofrer um princípio de infarto, mas que aprendeu a ignorar comentários.
“Precisei me separar dos textos. Comecei a ler [um texto de 2017] e senti taquicardia, lendo opinião de pessoas que eu nem conhecia. [Hoje] ajo como se não fosse comigo, senão a pessoa pira em algum momento. Aprendi a me proteger”, comenta Azevedo.
A colunista ainda cita que é bem receptiva às críticas, no entanto, a pandemia reverberou alguns sentimentos antes contidos.
“Ninguém é obrigado a gostar do que a gente posta. É horrível todo mundo gostar, é paupérrimo, porém, a gente tem vivido um momento que estourou com a pandemia, passar a odiar alguém que você não conhece”, lamenta.
Readaptação ou nem tanto
Ainda na live, a escritora falou sobre o impacto do isolamento social na sua rotina de trabalho.
“Eu já trabalhava em casa, uma história longa e pessoal, que acabou me levando para o interior da Bahia. Eu já tinha o ritmo e adoro”, revela.
De acordo com a redatora, existia um descompasso que foi superado graças à pandemia. “Eu ia até o jornal para viver o lugar, porque era uma delícia. Sentia-me excluída. A mudança foi essa me sinto mais incluída na equipe”, fala.
Papel no combate à pandemia
Para Azevedo, o seu papel como comunicadora foi exercido de maneira ferrenha durante os primeiros momentos do novo coronavírus. No “pelotão da frente”, como citou no debate, a jornalista revela que a busca por dados e informação é uma ocupação ética da profissão.
Futuro da profissão
Por fim, a jornalista ainda falou sobre suas expectativas em relação ao futuro do jornalismo dentro desta visão de novo mundo, ou para muitos, “novo normal”.
“Acho que esse futuro está sendo desenhado. A gente precisa desenhar um prognóstico maior do que a gente tem. Os desafios do meio, da desinformação e do cale-se. Do que falar, onde falar e o que pode falar. O desafio do contraditório, se eu estou abrindo um precedente para me calar, também é melhor que todos falem”, comenta Azevedo.
Concluindo a fala, a redatora citou uma das situações que mais te irrita no atual momento. “O que me incomoda é que pessoas que falam sobre liberdade de imprensa, militam para que outros se calem. A gente está de um jeito que não estamos conseguindo discordar, porque discordar virou uma coisa horrorosa. Eu sou de um tempo que nos abraçamos depois de discordar, e lindo mudar de ideia também, ser impactado pelo discurso do outro”, finaliza.
Sobre Flávia Azevedo
Jornalista, produtora e mãe, Flávia Azevedo é colunista do Jornal Correio desde 2017. Redatora da coluna QuantA, a jornalista aborda temas relacionados a conquistas femininas.
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