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A pressão que os jovens sofrem, para sempre terem bons resultados, pode prejudicar o psicológico e a vontade pelo esporte
Por Igor Santos Lima
Revisão por Felipe Moreira
A busca por bons resultados escolares, vista por muitos como um incentivo ao aprendizado, tem se transformado em fonte de ansiedade e esgotamento entre estudantes. Desde os primeiros anos da escola, crianças são expostas à cultura da competição, na qual notas e prêmios definem quem é considerado “capaz”.
De acordo com psicólogos, essa pressão por desempenho começa cedo e se intensifica ao longo da trajetória educacional. “O aluno aprende a associar seu valor pessoal às notas que tira, e isso cria um padrão de autocrítica muito forte”, explica a psicóloga educacional Marina Lopes.
Na adolescência, o vestibular e a comparação com colegas ampliam o sentimento de cobrança. Muitos estudantes relatam medo de decepcionar os pais e vergonha de falhar. O problema se agrava na universidade, onde as exigências se multiplicam: boas médias, estágio, iniciação científica e produção acadêmica.
“O cansaço virou rotina. Se eu descanso, parece que estou ficando para trás”, diz Ana Ribeiro, 21 anos, estudante de Engenharia. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME), mais de 60% dos universitários relatam sintomas de ansiedade e 40% afirmam já ter pensado em desistir do curso.
Especialistas apontam que o modelo educacional baseado em resultados estimula o desempenho, mas deixa pouco espaço para o erro e para o aprendizado genuíno. “A escola deveria formar pessoas criativas e críticas, não apenas competidores”, afirma o professor de pedagogia Carlos Mendes.
Movimentos recentes dentro de escolas e universidades têm tentado mudar essa lógica, valorizando projetos colaborativos e avaliações contínuas. A proposta é colocar o foco no processo, e não apenas no resultado.
Para muitos jovens, essa mudança representa um alívio. “Aprender devia ser um prazer, não um teste constante”, resume Ana. Enquanto o sucesso continuar medido apenas por notas e troféus, o peso da vitória continuará caindo sobre ombros cada vez mais cansados.
Na universidade, o sonho de liberdade e autonomia muitas vezes dá lugar a uma nova forma de cobrança. Se antes o foco eram as notas escolares, agora o estudante precisa provar competência em múltiplas frentes: boas médias, participação em estágios, projetos de pesquisa, monitorias e até produção de artigos científicos.
A competição, que parecia terminar com o vestibular, apenas muda de cenário. O ambiente acadêmico, cada vez mais voltado para o mercado de trabalho, transforma o aprendizado em uma corrida por currículos impecáveis. “É uma pressão silenciosa, porque todos parecem dar conta, e você não quer ser o único que não consegue”, conta Lucas, 22 anos, aluno de Direito.
Muitos estudantes relatam dificuldade em equilibrar estudo, trabalho e vida pessoal. O cansaço emocional e físico se acumula, e o medo do fracasso é constante. De acordo com levantamentos recentes de universidades brasileiras, crescem os casos de ansiedade, depressão e burnout entre universitários — principalmente nos cursos mais concorridos.
Além disso, a busca por reconhecimento acadêmico pode afastar os jovens do prazer de aprender. “A faculdade deveria ser o espaço da descoberta e da experimentação, mas o excesso de cobrança transforma o conhecimento em obrigação”, afirma a professora de Psicologia Educacional, Renata Souza.
Ainda assim, muitas instituições têm começado a repensar suas práticas, criando programas de apoio psicológico, flexibilizando métodos de avaliação e incentivando atividades que promovam bem-estar. A mudança é lenta, mas essencial para que o sucesso acadêmico não custe a saúde mental de uma geração.
