
Professor em sala de aula / Foto: José Cruz – Agência Brasil
A data, marcada para celebrar o educador, também revela os desafios de uma categoria que enfrenta desvalorização, baixos salários e desigualdade diante aos avanços tecnológicos
Por Maria Clara Andrade
Revisão Anna Gherardi
No dia 15 de outubro é celebrado o Dia dos Professores, profissão que é tão importante e que forma todas as outras da sociedade. Mas, no cenário atual, com avanços tecnológicos cada vez mais frequentes, essa data levanta uma questão primordial: qual é o lugar do professor em uma sociedade em que as inteligências artificiais parecem oferecer respostas instantâneas para quase tudo?
Durante décadas, o professor foi visto como a principal fonte de conhecimento. Com o avanço da internet e, mais recentemente, das IAs, essa centralidade se deslocou. Hoje, um estudante pode obter explicações, resumos, e até aulas completas sem sair do celular. Esse cenário, embora traga oportunidades de aprendizado, reforça a sensação de que o papel do educador se tornou “menos necessário’’.
Na prática, a tecnologia acabou por acentuar um processo de desvalorização que já vinha sendo sentido. Baixos salários, condições de trabalho precárias e a perda de prestígio social estão entre os maiores desafios da categoria. A imagem do educador como figura central da formação humana foi sendo substituída por uma lógica mais imediatista, que valoriza a rapidez das respostas — mesmo que superficiais — em detrimento da construção do pensamento crítico.
“Eu sinto que, a cada dia que passa a profissão está sendo mais desvalorizada, sofremos cobranças da SEC, da direção da escola, cobranças de uma maneira geral. Para conseguirmos um aumento, um reajuste ou qualquer outro direito é uma luta […] e no final a culpa é sempre do professor, né? Ele que não sabe dar uma aula boa’’, diz Renata Portella, professora da Rede Estadual.
Com o avanço acelerado da tecnologia, às escolas públicas ganharam mais desafios, já que a grande maioria possui uma carência de recursos tecnológicos. Em muitas regiões do país, professores ainda improvisam com recursos limitados, usando o próprio celular ou material comprado do próprio bolso para tentar aproximar os estudantes das ferramentas tecnológicas.
“Infelizmente, lá no colégio temos poucos recursos. tem algumas salas que possuem TV, tem os chromebooks que já tem mais de dez anos, então já estão ultrapassados […] Para trazer uma melhor qualidade para as minhas aulas, comprei vários equipamentos como: Cabos HDMI, Monitor de computador, etc. Recentemente, comprei um mini projetor, para poder dar aula nas salas que não possuem televisão, lá na escola temos só três salas adaptadas com TV’’, cita Renata.
Enquanto parte da sociedade discute os riscos da inteligência artificial substituir ou até apagar a profissão docente, alguns professores enxergam a questão de forma diferente. Para eles, as IAs chegaram não para competir, mas para contribuir com o processo de ensino e ampliar o acesso ao conhecimento. Muitos precisaram se adaptar a essa nova realidade, desconstruindo antigas formas de ensinar e descobrindo novas maneiras de tornar as aulas mais dinâmicas e conectadas com o presente.
“Enxergo de uma forma positiva, em que a tecnologia utilizada em sala de aula pode trazer interatividade entre o conteúdo e o aprendizado. Acredito que a nossa profissão não pode desaparecer, mas vamos nos ajustar de acordo com as inovações tecnológicas que vão surgindo a cada dia.’’, diz Tatiana Santos, professora da Rede Estadual.
Em meio a tantos desafios, ainda há algo que permanece firme: o amor e a dedicação de quem escolheu ensinar. Mesmo diante da desvalorização e das incertezas da profissão, os professores continuam sendo a base que sustenta o aprendizado e o futuro de tantas gerações. Por trás de cada aula, há esforço.
“Valorizar a educação é investir no futuro que queremos construir. O professor não apenas ensina matérias, ele é formador de opiniões e ele molda cidadãos capazes de inovar, questionar e transformar. Se queremos um Brasil mais justo, próspero e com soluções para os desafios complexos de hoje, precisamos garantir que os professores tenham as condições, o reconhecimento e as ferramentas necessárias para realizar seu trabalho!’’, fala Tatiana.
“Por mais difícil que seja, é uma profissão linda, onde podemos transformar a vida dos nossos alunos desde a infância até a fase adulta. É uma profissão que para mim é de grande importância, porque por trás de todas as profissões que existem, já passou um professor. É uma linda profissão, por mais difícil que seja e que precisa ser valorizada’’, diz Renata.
O professor não é apenas transmissor de conteúdo: é mediador, guia, incentivador. É ele quem provoca reflexões, ensina a questionar, ajuda a construir o pensamento crítico. Nenhuma inteligência artificial pode substituir a experiência humana de ensinar, que envolve afeto, empatia e a capacidade de compreender contextos sociais e emocionais
Neste Dia dos Professores, a reflexão é clara: a tecnologia pode e deve ser uma aliada, mas jamais uma substituta. Valorizar os educadores é reconhecer que, sem eles, nenhuma ferramenta tecnológica tem sentido real dentro da formação humana.