Por Jamile Silva, com Maria Alice Souza
Estudantes de Jornalismo da UNIFACS
Foto: Marcos Dias
O desenvolvimento econômico das cidades do Oeste baiano deve-se ao crescimento do agronegócio na região, elas são conhecidas pela produção dos cultivos de milho, soja, café, como também algodão. Esse que tem crescido e tomado espaço no cenário não só brasileiro, mas também mundial.
Segundo a ABRAPA (Associação Brasileira de Produtores de Algodão), no Brasil, o oeste da Bahia ocupa o segundo lugar na cultura do algodão, perdendo apenas para Mato Grosso, já no mundo é o 4° maior produtor, ficando atrás da China, Índia e Paquistão.
Na área de exportação, o Brasil pode tornar-se pela primeira vez o segundo maior exportador dessa matéria prima, tendo 40% da safra exportada para países asiáticos como China, Vietnã, Coreia do Sul e Indonésia.
Segundo Júlio Cesar Busato, presidente da Abapa, para que a cotonicultura baiana avance no ambiente internacional de exportações os produtores tem investido em tecnologia e especialização para os trabalhadores de todo os processos envolvidos. A safra de 2018/19 pretende produzir no total 2,8 milhões de toneladas. A área utilizada para o plantio é de 331.028 hectares.
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Esse negócio tornou-se o gerador de renda e principal empregador nas cidades da região por possuir duas safras anuais. Segundo a Abapa (Associação Baiana de Produtores de Algodão), ao total há 10.000 pessoas envolvidas nas etapas de plantio à comercialização, já que envolve produção e transporte, além de órgãos de regulamentação e fiscalização.
O algodão é uma planta que é totalmente utilizada e pouco se desperdiça. Ao passar pela Usina de Beneficiamento, separa-se a pluma do caroço. Nesse processo se tem 50% de caroço, 40% de pluma, 2% de fibrilha e 8% de casca e pó, todas essas partes são utilizáveis e servem de matéria-prima para outros derivados, além da fibra do tecido.
COMMODITIES DO ALGODÃO
Segundo Henrique Zanotto, Gerente da algodoeira Zanotto Cotton “O algodão é uma planta que não se perde nada, e tudo tem valor agregado”, por essa característica de 100% de usabilidade seus produtos derivados ampliam a economia no setor, tendo em vista como esse insumo é aproveitado para outras linhas de produção. A sua versatilidade aponta diversos públicos alvos além das indústrias têxteis que é o seu principal destino da planta.
As empresas de beneficiamento separam a fibra do caroço e depois as algodoeiras vendem o produto para as indústrias que fazem o esmagamento do grão. A Zanotto realiza esse procedimento que consiste na separação da fibra e das sementes por processos mecânicos, a algodoeira é parceira da Abapa, gerando empregos e colaborando diretamente com micro agricultores da região, a unidade realiza todo operacional para os produtores que não possuem usina própria.
A separação adequada dos dois produtos é essencial para evitar a contaminação da pluma pelo óleo existente no caroço do algodão, pois uma possível contaminação prejudica a qualidade das fiações e o produtor pode ter perda na comercialização.
Fernanda Zanotto, sócia e proprietária da Zanotto Cotton, ressaltou a importância do processo de beneficiamento na prevenção a contaminação, “Fio contaminado não consegue tingir, não dá acabamento e gera um efeito dominó. Se não há um bom manuseio da Lavoura o produto consequentemente terá uma qualidade inferior e na usina não fazemos milagre. Conseguimos limpar, mais produto contaminado a máquina não consegue tirar, quanto mais contaminação, menos valor tem o algodão.”
A atuação da empresa é sazonal, funcionando por um período de cinco meses de junho até novembro, além da separação do grão e pluma, ela também é responsável pelo carregamento dos produtos.
A usina de beneficiamento é a última etapa produtiva do algodão que começa desde o preparo do solo, o plantio, a colheita. Entretanto é a partir do final do ciclo, que dá-se início a utilização dos recursos do algodão, para fabricação de materiais diversificados.
Muito além da Pluma utilizada nas indústrias têxteis, o caroço do algodão, pouco conhecido, também é uma importante matéria-prima para a manufatura de novos produtos em diversos setores.
Segundo Cleber Desiderio (34), Gerente de produção da Icofort, empresa responsável pelo procedimento de separação do caroço da pluma e transformação dos derivados, tem capacidade de processar mais de 250mil toneladas de caroços por safra e 150mil toneladas de óleo vegetal, fornecendo produtos para grandes redes nacionais e internacionais.
O óleo vegetal de algodão é mais saudável que os óleos tradicionalmente usados nas casas (como o de soja e semente de girassol),fornecem um óleo rico em vitaminas D e E, reduz inflamações por conta do ômega 3, além disso, tem suas propriedades contidas em temperatura de até 180°C. Cleber ressalta que “é possível retirar até 75% do óleo que tem no grão”.
A comercialização do óleo refinado comestível para a indústria alimentícia, resultou em uma carteira de clientes com empresas renomadas de fast-food, tendo como maiores compradores as regiões Sudeste e Sul.
O óleo bruto é utilizado para produção de biodiesel. A NASA (Administração Nacional do Espaço e Aeronáutica) usa produtos derivados do algodão para combustíveis de foguete.
O Linter (pequenas fibras localizadas na semente do algodão) tem aplicação na fabricação de diversos produtos como papel moeda, e na indústria hospitalar, como na produção de tecidos cirúrgicos e algodões hidrófilos.
Na agropecuária, a torta, subproduto da retirada do óleo existente no grão do algodão, usada para a área de alimentação dos animais fornecendo alto teor proteico e colaborando diretamente com a qualidade de gordura no leite das vacas.
Já o farelo do algodão, é produzido pela moagem da torta tem sido um aliado na nutrição dos animais ruminantes. É possível encontrar o farelo com casca –em média 30% de proteína bruta – e o sem casca – 43% de proteína bruta -.
A utilização dos derivados do algodão na agropecuária tem se tornado comum pois esse caroço é rico em nutrientes, sendo também uma opção mais econômica, custando menos que o farelo de soja. No Brasil, as regiões Norte e Nordeste são os principais consumidores dos produtos para nutrição animal.
A cotonicultura movimenta a economia no estado gerando cerca 4 milhões como segundo maior produtor do Brasil e a cidade de Luís Eduardo Magalhães avançou de acordo com a demanda do agronegócio.