Atendimentos prestados a população negra / Foto: Alejandro Zambrana
Campanha mobiliza profissionais de saúde para demandas específicas da população negra, buscando a equidade
Por Gabriele Sá
Revisão por Alana Bitencourt
A Mobilização Pró-Saúde da População Negra, campanha criada desde 2007, por organizações do movimento negro e de trabalhadores da saúde para lembrar que, apesar dos avanços conquistados na área, ainda persistem as desigualdades raciais. Esse movimento tem como objetivo aumentar a visibilidade para as necessidades de saúde dessa população que diariamente lida com o racismo estrutural da sociedade.
Ações acontecem em bairros e comunidades em todo o país, para informá-los sobre seus direitos e ampliar o debate com gestores, profissionais de saúde e a população em geral sobre racismo e suas relações com a saúde pública.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a maioria do povo negro vive em locais insalubres, sem saneamento básico e tem uma alimentação irregular por não conseguir comprar alimentos nutritivos. Dessa forma, estão mais vulneráveis a doenças infecciosas. Além disso, existem algumas doenças genéticas que são mais comuns entre os negros, como hipertensão arterial, diabetes tipo II, entre outras. O acompanhamento médico é necessário devido à gravidade dessas patologias, mas nem sempre essas pessoas têm acesso aos serviços de saúde de qualidade.
Dra. Alva Helena de Almeida, enfermeira, militante e uma das idealizadoras da Articulação Nacional de Enfermagem Negra (ANEN), discute sobre o cotidiano das pessoas negras e a saúde pública.
“Eu acho que o foco da saúde da população negra é exatamente esse: pensar no conceito ampliado de saúde, que fala em moradia, trabalho digno, renda, posse da terra, educação, etc. Quando chegam aos serviços, é preciso que os profissionais olhem para esse indivíduo e vejam sua trajetória social para compreender o resultado desse processo de vida-adoecimento, e dar para ele uma atenção compatível com as suas necessidades. Falar da saúde da população negra no país é falar de mais da metade da população”, disse.
O acesso restrito dessa população a serviços de saúde de qualidade, tanto para a saúde física quanto à saúde mental, levou à criação, em 2009, da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) pelo Ministério da Saúde. A implementação tem como foco reduzir essas desigualdades étnico-sociais e combater o racismo em instituições de saúde e serviços ofertados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Por essa razão é que há ocorrências de casos de maior gravidade e pior evolução entre os negros. Então, a Política Nacional foi pensada justamente para alertar e responsabilizar o Sistema de Saúde para ofertar à população negra, de forma diferenciada, uma atenção à saúde compatível com os indicadores revelados/existentes. Daí o conceito de equidade, ofertar de forma diferenciada, de acordo com as diferentes necessidades: dar mais a quem tem menos”, finaliza a Dra.
Racismo ambiental e saúde pública
As mudanças climáticas aumentam os riscos ambientais, afetando desproporcionalmente populações vulneráveis e acentuando disparidades em saúde
No Brasil, a escravidão somada à ausência de políticas de reparação levou à periferização da população negra, que passou a ocupar predominantemente áreas mais afastadas dos centros urbanos ou regiões de risco, como encostas de morros e margens de rios. As desigualdades de exposição a fenômenos ambientais nocivos estão associadas a esta distribuição espacial desigual da população negra.
Segundo o Censo Demográfico de 2022, embora sejam fenômenos de escala ampla, estas dimensões ambientais manifestam-se de forma acentuada em regiões metropolitanas devido à concentração populacional e, consequentemente, maior poluição atmosférica, formação de ilhas de calor e necessidade de áreas verdes para mitigar impactos negativos sobre a saúde.
Por conseguinte, a cobertura arbórea, além de atenuar temperaturas elevadas, está associada à melhora da saúde mental e bem-estar, reduzindo a prevalência de doenças crônicas
Bruna Borges, pesquisadora e ativista, aborda como esse racismo influencia a vida dessa população em seus locais de moradias e a luta pela equidade ambiental.
“O racismo ambiental no Brasil resulta de padrões sistemáticos de segregação espacial que concentram populações negras em áreas ambientalmente degradadas. Enfrentar essa realidade exige reconhecimento político do problema, compromisso com políticas territorializadas e participativas, e alocação de recursos que priorizem as populações historicamente marginalizadas. Somente com ações integradas e estruturais será possível avançar em direção à justiça ambiental e reduzir as profundas desigualdades na exposição a riscos climáticos e ambientais que afetam a população negra brasileira”, afirma.
