
Foto: Mário Cravo Neto
Com curadoria de Mário Edson, proprietário do M.E. Ateliê da Fotografia, e colaboração da artista Viga Gordilho, a exposição celebra o legado de Mãe Stella de Oxóssi, destacando sua importância como líder espiritual e símbolo da resistência afro-brasileira.
Por Anna Clara Góes
Revisão Marcelly Ferreira
A exposição Meu Tempo é Agora, em cartaz no M.E. Ateliê da Fotografia, gerenciado por Mário Edson, no bairro do Santo Antônio Além do Carmo, chegou a Salvador no dia 11 de abril para celebrar o centenário de Mãe Stella de Oxóssi (1925–2018), uma das maiores referências da espiritualidade afro-brasileira, autora de nove livros e membro da Academia de Letras da Bahia.
Nascida em 1925, Maria Stella de Azevedo Santos foi iniciada no Candomblé aos 14 anos, em um dos terreiros mais tradicionais do país, o Ilê Axé Opô Afonjá, localizado em Salvador (BA). Enfermeira de formação, tornou-se a quinta iyalorixá da casa e foi pioneira ao publicar livros e artigos sobre o Candomblé, buscando desmistificar a religião e promover o respeito às culturas de matriz africana.

Foto: Mário Edson
Sua trajetória é celebrada na mostra como parte do Projeto Imortais, idealizado por Mário Edson, que homenageia personalidades marcantes das artes e da cultura.
“Já homenageamos nomes como Frida Kahlo, Clarice Lispector, Milton Nascimento… São pessoas com trabalhos muito relevantes, marcantes dentro da história sociocultural e artística, não só no Brasil, mas no mundo”, explica o fotógrafo. Segundo ele, a recepção do público tem sido surpreendente: “Recebemos visitantes do mundo inteiro, inclusive mães de santo que vêm de outros estados para conhecer o trabalho dela.”
A relação entre Mário e Mãe Stella foi marcada por afeto e respeito mútuo. Em 2018, eles colaboraram quando o fotógrafo produziu um calendário em que apresentou uma releitura dos Orixás.“Não queria personificar Orixá; eu queria elementos, em cada foto, que lembrassem os Orixás. E ela foi a pessoa ideal, com um olhar apurado e um saber equilibrado. Ela me acolheu muito bem e ficou super satisfeita com o resultado da história”, relembra.
Com obras de 30 artistas convidados, um dos destaques da exposição é a obra “100 Cartas de Afeto”, da artista plástica Viga Gordilho. Resultado de um trabalho desenvolvido ao longo de um ano, cada carta possui sete camadas, representando os sete mares, os chakras, as cores do arco-íris, as notas musicais e outros elementos sagrados. “Sempre me interessei pela simbologia da proteção. Nessas camadas, coloco amuletos, folhas sagradas, pauzinhos mágicos… tudo que me ajuda a construir um escudo espiritual”, conta a artista.

Artista Viga Gordilho ao lado da sua obra 100 Cartas de Afeto \ Foto: Viga Gordilho
A obra é inspirada por experiências vividas por Viga em países como África do Sul, na região de Mpumalanga, e na Coreia do Sul, onde recebeu a bênção da ialorixá para realizar essas travessias. “Mãe Stella me abençoou em muitas dessas viagens. Sempre pedi a proteção dela antes de atravessar o mar. São cartas de proteção, onde eu expresso minha gratidão pelas bênçãos recebidas”, afirma.
A conexão entre Viga Gordilho e Mãe Stella de Oxóssi teve início nos anos 1990, quando a artista foi convidada por uma amiga para realizar atividades artísticas com crianças no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá. A ialorixá foi responsável por escrever a orelha do primeiro livro de contos de Viga, intitulado “Onde se esconde o cinza luminoso — gesto que a artista recebeu como uma espécie de licença simbólica para tratar da cultura africana. “Fiquei muito feliz, porque senti que aquilo era uma permissão para falar sobre a cultura africana. Ela era uma mulher forte, altiva, concentrada. Uma rainha. Suas palavras eram poucas, mas profundas”, descreve.

Arte de Júlia Comarella
Mais do que uma homenagem, a exposição Meu Tempo é Agora celebra a força histórica de Mãe Stella, reafirmando seu legado por meio de memórias e obras que mantêm viva a sua presença.
Serviço
Exposição: Meu Tempo é Agora – Centenário de Mãe Stella de Oxóssi
Local: M.E. Ateliê da Fotografia – Ladeira do Boqueirão, Salvador (BA)
Quando: 11 de abril a 31 de maio de 2025
Visitação: Segunda a sábado, das 16h às 19h
Entrada gratuita