Professores trazem suas perspectivas sobre o filme, analisando as relações filosóficas, religiosas, sociais e econômicas sob o olhar da época do lançamento e o cenário da sociedade atual.
Por Fernanda Bruno*
O clássico de 1999 dos irmãos Wachowski, “Matrix” é o assunto da live apresentada pelos professores Amanda Aouad, Antônio Netto e Paulo Alcântara da Unifacs, nesta sexta-feira (24/04).
“Matrix”, como os professores constatam, se caracteriza como um filme que vai além dos moldes de produção cinematográfica da época. Com uma mescla do padrão hollywoodiano e dos filmes considerados “cult”.
O filme traz uma proposta de enredo que possui tanto ação, quanto reflexão, conceitos que, até então, eram separados. Para os professores, “uma quebra de padrões estéticos, comunicacionais e cheio de inovações para sua época”.
Segundo Alcântara, “propõe-se um novo mundo, no qual o nosso é considerado falso”. Uma junção de fatores sociais e econômicos que o levou a ter um forte impacto. “A cultura digital já estava em pauta, além do desenvolvimento do universo cyberpunk ter ocorrido na mesma época”, explica.
O professor comenta a gravação de algumas cenas, com o efeito “Bullet time”, em que Neo, personagem principal, se esquiva das balas e que se tornou um efeito visual inovador, ditando tendências cinematográficas.
“O estágio da tecnologia na época era completamente diferente do atual. A cena é uma verdadeira engenharia de filmagem”, afirma Alcântara.
Referências filosóficas e religiosas
Há ainda uma mudança no perfil do herói. “Antes era o atleta”, conta Aouad, “agora, quem vai ser o herói é o Neo, que é um hacker, um nerd. Ele vive no seu próprio mundo e vai ser o escolhido”, conclui.
De acordo com os professores, o filme traz uma série de referências filosóficas, como o Mito da Caverna de Platão. “Quem conhece o mundo real e volta para a caverna, é considerado louco pelos outros”, explica Alcântara.
As referências também partem para o campo da religião. Conforme relata Aouad, Matrix traz a ideia de um messias, “o escolhido”, que “voltará para nos salvar dos males do mundo e trazer a redenção”, relata a professora.
Além dos cinemas
A narrativa de “Matrix” é construída de forma que vários universos se complementam em diferentes mídias, conhecida como transmídia. A história, além do filme, se desenvolve em jogos, animes e HQ’s.
“Dentro desse universo midiático, cada elemento vai complementar a narrativa. Isso vai criando a necessidade de consumir todos os meios para uma nova experiência narrativa”, explica Netto.
“O ser humano é um vírus”
“Matrix é essa velha briga: máquina versus humanidade”, conta Aouad.
“As máquinas são a perfeição, enquanto os humanos, a imperfeição. O filme propõe esse dilema: a humanidade é um vírus que destrói o mundo?”, indaga Aouad.
A professora faz a correlação entre esse ponto do filme e a pandemia do novo coronavírus, em que o isolamento social tem proporcionado relatos de menores índices de poluição e um “respitar do mundo”, como relatam os professores.
“O coronavírus nos pôs para repensar o próprio sistema”, analisa Netto. “Estamos repensando situações como rotinas de trabalho e o consumo excessivo”, exemplifica.
“A Matrix está dando bug”, brinca Alcântara. “É hora de escolher a pílula vermelha ou azul: queremos conhecer a verdade ou continuar vivendo nessa sociedade imposta?”, questiona o professor.
Unifacs Lives
Durante o isolamento social, a Unifacs está realizando uma série de transmissões ao vivo, chamada de Unifacs Lives, com professores e especialistas, nos diversos segmentos e áreas, para fornecer conteúdos educacionais e de entretenimento ao corpo acadêmico.
Sobre os Professoras da live:
Profa. Amanda Aouad é crítica afiliada à Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), é doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom / UFBA) e especialista em Cinema pela UCSal. Roteirista profissional desde 2005, é co-criadora do projeto A Guardiã, além da equipe do Núcleo Anima Bahia. É ainda professora dos cursos de Jornalismo. Relações Públicas e Publicidade e Propaganda da Unifacs e da Uniceusa. Atualmente, faz parte da diretoria da Abraccine como secretária geral.
Prof. Antônio Netto é docente na Universidade Salvador (Unifacs) nos Cursos de Jornalismo, Comunicação e Marketing, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas. Especialista em Ciências da Comunicação (UNL-Portugal). Foi colunista de tecnologia e meios digitais na Rádio CBN Salvador. Tem ampla experiência internacional no mercado de comunicação, tanto social quanto empresarial, atuando em importantes órgãos da área em Portugal (SIC) e Alemanha (Deutsche Welle).
Prof. Paulo Alcântara é diretor, fotógrafo e produtor audiovisual a mais de 20 anos. Especializou-se em direção de fotografia pela Septima Ars Escuela de Cine (Madri/Espanha) e em Cibercultura pela École Supérieure de Beaux-arts de Genève (Genebra/Suiça). É também doutorando e mestre em Cultura e Sociedade (IHAC/UFBA) onde desenvolve pesquisa sobre o audiovisual contemporâneo e professor na UNIFACS, onde coordena projeto de extensão em produção audiovisual e é membro do comitê de qualidade acadêmica da Universidade.
*Sob supervisão de Antonio Netto, Professor de Jornalismo da UNIFACS e Coordenador da AVERA.