Conheça o projeto que exalta a liturgia Jeje-Nagô
Por Camila Oliveira
Revisão: Fernanda Abreu
Idealizado pelo professor e escritor Mawó Adelson de Brito, “Sà Hùn, cantando para os Voduns do Jeje Savalou” é um projeto composto por um e-book e um CD-virtual, que tem como objetivo fortalecer o processo de construção da identidade do negro como cidadão afro-brasileiro e a sua religião.
Esse trabalho visa contar que a herança cultural africana tem como suporte línguas dotadas de léxica e semântica.
“Observando igualmente que a academia tem uma dificuldade estrutural quanto a ‘leitura’ das nossas liturgias, resolvemos avançar com a nossa própria narrativa”, explica Brito.
No e-book, o escritor apresenta cânticos escritos e registrados em língua Fon (Fòngbè) e Língua Iorubá (èdè Yorùbá), traduzidas para o português. Já o CD-virtual, é composto por esses cânticos litúrgicos específicos dos ritos, procedidos em um Templo Jeje Savalou.
O professor Mawó conta que a ideia da junção do e-book com o CD-virtual é fundada no preconceito que as religiões de matrizes africanas sofrem na sociedade.
“Para desmistificar a falácia espalhada, talvez de forma maldosa, segundo a qual, nós não sabemos o que estamos dizendo quando cantamos para nossas divindades. Então, nós escrevemos os cânticos em suas respectivas línguas originais, gravamos, traduzimos e disponibilizamos as respectivas letras e traduções no corpo do e-book”, revela o autor.
O projeto é inteiramente digital e tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia).
Sobre o uso das redes sociais como ferramenta de divulgação da sua obra, o escritor afirma que “Sinônimas de comunicação imediata e circulação de conteúdo, as redes sociais transformaram radicalmente a forma pela qual interagimos, abrindo, por exemplo, espaço para discussões polemicas de todo e qualquer escopo”.
Importância cultural
A luta contra uma realidade de marginalização social e política do afrodescendente acontece desde o período pós-escravocrata.
Para o professor e historiador Jaime Nascimento, a escravidão no mundo destituiu as pessoas negras de sua humanidade, negando a sua religião e cultura.
“A importância do candomblé quanto religião é enorme. É preciso lembrar que é uma religião, que ao longo da colonização no Brasil foi demonizada e satanizada porque era a religião dos seres humanos que foram escravizados” explica Nascimento.
As lutas de resistência dos povos africanos e afrodescendentes, ao longo dos anos, tiveram como objetivo a manutenção das suas tradições, fé e religiosidade. Hoje, é através da divulgação de obras que retratem esse tema que a contribuição dos negros é debatida na sociedade.
“Conhecer essa religião e o modo de pensar o mundo e a divindade é libertar aquela pessoa do preconceito que foi colocado na cabeça dela por uma divulgação de uma inverdade e mentira”, afirma o historiador.
Mesmo diante de informação, o professor afirma que desafios ainda são encontrados pela religião de matriz africana.
“O candomblé sempre vai sofrer algum tipo de censura. Colocar na Internet, e, principalmente, gratuitamente, esses produtos e meios de informação como livro ou CD, que explique sobre as divindades, é importantíssimo para romper o preconceito e, mais que tudo, para instruir”, comenta Nascimento.
O e-book “Sà Hùn, cantando para os Voduns do Jeje Savalou” está disponibilizado nesse link.
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Produção e coordenação de pautas: Márcio Walter Machado