Entenda como os profissionais da imprensa precisaram se reinventar em meio à pandemia da covid-19
Por Evelyn da Paixão, Gabriela Domingos e Helena Cardoso
Revisão: Antônio Netto
A pandemia causada pelo novo coronavírus, vem promovendo impactos sem precedentes na área de comunicação, desde os riscos à saúde enfrentados pelos jornalistas na cobertura diária ao esgotamento mental e físico dos profissionais.
Diante da crise sanitária, o jornalismo foi uma das atividades profissionais que se tornou essencial. Para atender essa necessidade, comunicadores se expõem diariamente para fazer com que a notícia chegue às pessoas.
“O medo de ser infectado é latente, ao menos em mim, que, por ser asmática, estou no grupo de risco. Sem dúvida alguma o repórter que esteve em atividade nas ruas durante essa crise sanitária não será o mesmo depois dela”, relata Tailane Muniz, repórter correspondente freelancer do Jornal Estadão, em Salvador.
O meio digital
Com o distanciamento social, o meio digital se tornou uma das principais ferramentas para o jornalismo. O jornalismo digital tem crescido de forma expressiva na América Latina, principalmente desde o início da pandemia da covid-19.
Segundo a pesquisa conduzida pela Provokers e encomendada pela organização filantrópica Luminate, o consumo através das plataformas de jornalismo digital representam 59% de todo o consumo de notícias no Brasil.
A partir deste crescente domínio das plataformas digitais, como fontes primárias de notícias e informações, os jornalistas precisaram se adaptar para usar o meio digital como plataforma e ferramenta de trabalho.
“O Google Docs, Microsoft Teams, Zoom, Skype, tudo isso vem sendo ferramentas que ajudam muito no processo. Hoje é comum, mas antes ninguém imaginaria que pudéssemos trazer entrevistas assim para o estúdio de televisão e para o estúdio de rádio”, afirma Pedro Sento Sé, apresentador e comentarista da Record TV Itapoan.
“Isso virou rotineiro, a gente faz entrevista com governador, prefeito, infectologista e qualquer outro tipo de fonte por plataforma de videoconferência. Não só o jornalismo teve que evoluir, mas o setor de Tecnologia de Informação, para fazer com que isso funcionasse no estúdio”, acrescenta o apresentador.
Segundo Sento Sé, o uso do meio digital é uma mudança estrutural para os veículos de comunicação, pois cria um dinamismo maior para o jornal.
Fake News, a onda de desinformação na pandemia
Pesquisa realizada pela Avaaz, aponta que sete em cada 10 brasileiros acreditam em pelo menos uma notícia falsa sobre a pandemia. Com a multiplicação de notícias, a desinformação induzida se tornou um risco à saúde da população.
Através das plataformas digitais, notícias falsas são criadas e disseminadas. Mas o impacto desses conteúdos tem como consequência o questionamento da credibilidade dos veículos de comunicação.
“O papel do jornalista, nisso tudo, segue sendo o mesmo: apurar, apurar e apurar. A gente tem a obrigação, agora triplicada, porque o jornalismo contribui diretamente para a democracia e a manutenção do estado de direito”, afirma a repórter Tailane Muniz.
O trabalho dos jornalistas é fundamental para garantir o exercício da cidadania, por essa razão o jornalismo se compromete a trazer notícias sólidas, filtradas, checadas e checadas novamente, com base em evidências e nos fatos.
Novos desafios da rotina jornalística
Diante do cenário pandêmico, jornalistas se veem tendo que driblar todas as dificuldades emocionais e físicas para levar informação de credibilidade e em tempo hábil para ser noticiado nos seus respectivos veículos de comunicação.
O radialista Ivis Macêdo, que trabalha diariamente com boletins de trânsito para a rádio Brazilian Traffic Network (BTN), explica como foi se adaptar a esse cenário.
“Foi o maior desafio, pois se antes as informações eram apuradas presencialmente através de um vôo de helicóptero, hoje a empresa instalou os equipamentos nas nossas casas e acessamos um mapa específico que informa os pontos de maior fluxo ou sobre algum acidente, e ficamos em contato direto com os órgãos responsáveis”, relata Macêdo.
Apesar da carga horária de trabalho ser basicamente a mesma, as mudanças na agenda dos veículos de informação e os novos desafios de trabalhar em casa, podem ocasionar uma sobrecarga aos jornalistas.
Além do desafio logístico trazido pela pandemia, foi necessário reinventar o modo de trazer as notícias e abordar a crise sanitária. O apresentador Pedro Sento Sé conta que foi necessário trazer outras histórias dentro da pandemia, mostrar as superações das pessoas e realizar a cobertura de outras pautas diárias da cidade.
Mecanismos e cuidados para evitar o covid-19
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) disponibilizou uma série de procedimentos e orientações que foram adotadas pelos profissionais e pelas empresas para evitar a exposição à doença, conforme recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O uso de máscara e a higienização é fundamental e cientificamente comprovado para a prevenção da doença. No setor jornalístico esses cuidados foram redobrados, visto que, muitos deles vão às ruas diariamente em busca da informação para os telespectadores, leitores ou ouvintes.
“Ao chegar na rádio a temperatura é aferida e a higienização com álcool é feita. A partir de agora cada locutor tem a sua própria espuma de microfone e fone de ouvido de uso pessoal. Também é feita a higienização dos equipamentos e das mesas após o uso”, explica o radialista Ivis Mâcedo.
Sento Sé pontua que “nas ruas o uso de máscara é indispensável, o uso de microfones duplos, sendo um da fonte e o outro do repórter foi implantado, fazendo com que o repórter não precise dividir o microfone. Depois de cada entrevista é feita a higienização dos equipamentos”.
“Manter a distância da fonte também é algo que a gente aprendeu a lidar, e isso foge muito do que costumava acontecer numa cobertura comum, antes da pandemia. Também não é fácil sair de casa, estar nas ruas em contato com pessoas diversas sem que haja aquela ansiedade ao retornar”, descreve a repórter Tailane Muniz.
Mesmo diante dos impactos da pandemia na cobertura jornalística e na vida pessoal dos profissionais, os jornalistas entrevistados acreditam que o trabalho da imprensa está sendo de extrema importância nessa crise sanitária, portanto indispensável para o momento que vivemos.
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