Por Záfya Tomaz
Estudante de Jornalismo da UNIFACS
Considerado o ouro branco da Bahia, o algodão tem atraído a atenção de diversos setores para a região Oeste do estado. Apesar de sua aparência frágil, as lavouras alcançam grandes proporções, fazendo com que sua cadeia produtiva empregue milhares de pessoas.
A exportação de algodão bruto representa um incremento de US$ 375 milhões por ano na balança comercial, cerca de 4,2% do total exportado pela Bahia. No Brasil, a cotonicultura gera cerca de US$ 1,7 bilhão por ano em exportações.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em relação a 2018, a estimativa da produção de algodão cresceu 39% na Bahia. Tais números tem atraído migrantes e imigrantes para as terras baianas.
Entretanto, o local que hoje é símbolo da riqueza do agronegócio, há três décadas era uma vastidão de mata de cerrado nativa, de poucos donos e quase sem valor comercial.
Há 20 anos, o produtor Fábio Ricardi veio com sua família do Paraná, visando a produção de algodão. Atualmente, é proprietário de uma das maiores fazendas de Luís Eduardo Magalhães. “Aqui era tudo mato. Naquela época, ninguém queria vir pra cá. Me chamavam de louco por abandonar minha terra”, conta o empresário.
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As políticas públicas e a parceria com associações e produtores foram essenciais para a consolidação do sucesso da cotonicultura na região ao longo dos anos.
INCENTIVOS
Segundo Fábio, iniciativas como o Programa de Incentivo à Cultura do Algodão da Bahia (Proalba), têm sido importantes para o desenvolvimento do oeste baiano e implantação de novas lavouras. “Quando a carga fiscal diminui, todo mundo quer pagar, porquê vai estar protegido pela Lei. Os benefícios fiscais são ótimos para manter a atividade competitiva”, relata.
De acordo com o Relatório Técnico Descritivo da Proalba, os reflexos positivos deste desempenho na economia estadual, notadamente nas regiões produtoras, são visíveis.
“Saltamos de uma produção decrescente para uma produtividade e qualidade surpreendentes, em que as ações conjuntas da iniciativa privada e do Governo do estado da Bahia têm sido essenciais para a equalização dos problemas e para a definição de soluções”, afirma.
“Se a gente não tivesse os benefícios fiscais, a área de algodão da Bahia não seria um quinto do que é hoje”
– Fábio Ricardi
O uso da tecnologia e dos agrotóxicos tem sido um dos fatores que permitem a produção em larga escala. Para Cléber Desidério, gerente de produção de uma indústria de processamento de caroço de algodão, sem o uso desses insumos, os grandes produtores não teriam potencial competitivo.
Segundo o Proalba, o modelo adotado na produção do algodão preza pela correta gestão ambiental e social. Graças ao programa Manejo de Pragas e Doenças, o uso de defensivos é racional, reduzindo os custos e os impactos ambientais.
As características físicas e ambientais também são fatores atrativos do local. A presença de água no subsolo e as estações climáticas bem delimitadas permitem que o agricultor siga um calendário anual de produção. Parte do aquífero Urucuia, o segundo maior país, está no Oeste da Bahia.
Além disso, o Rio Corrente e o Rio Grande, afluentes do Rio São Francisco, também compõem a região, que se torna rica em recursos hídricos. Os campos de produção imensos, tecnologia avançada e agricultura de precisão, dividem espaço com cenários de uma natureza única. Os produtores têm o compromisso de manter 20% dessa área preservada.
DESTAQUE NACIONAL
Segundo a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), a região oeste planta 96% da produção de algodão da Bahia, que é o segundo maior produtor da fibra no Brasil, atrás somente do Mato Grosso. Recentemente, o estado teve 75,6% de sua produção de algodão certificada como sustentável pelo Programa Algodão Brasileiro (ABR) da Abapa, que atua com o licenciamento pela entidade suíça Better Cotton Iniciative (BCI).
Em relação à safra passada, houve um crescimento de 15% na produção e de 25,5% de área cultivada, alcançando os 331.028 mil hectares. “Com o trabalho desenvolvido nas lavouras pelos produtores de algodão, estamos consolidando uma cadeia produtiva que vem gerando ainda mais riqueza e desenvolvimento, principalmente para o Oeste da Bahia”, afirma o produtor Júlio Cézar Busato, presidente da Abapa, entidade que implementa, desde 2000, ações em prol do desenvolvimento da cotonicultura na Bahia.
A associação conta com projetos como o Programa Fitossanitário, que ajuda no monitoramento e controle do bicudo e outras pragas do algodoeiro, e o projeto de Responsabilidade Socioambiental. Ambos têm participação essencial no sucesso produtivo da região.
“O resultado do trabalho dos cotonicultores baianos, que também investem na obtenção de certificação sustentável e na confiabilidade da qualidade da fibra, pode abrir mais espaço para o algodão baiano no mercado internacional”, afirma Busato.
Segundo estimativas da Companhia Nacional do Abastecimento, este ano os cotonicultores brasileiros devem colher mais de 4 milhões de toneladas de algodão em caroço e 2,7 milhões de toneladas de pluma. A produção nacional deve atingir um novo recorde, alcançando um patamar 34,2% maior do que no ano passado. O país já está entre os cinco maiores produtores do mundo, ao lado da China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
DESENVOLVIMENTO
Acima de tudo, a cotonicultura trouxe desenvolvimento para a região oeste, que antes era subutilizada. De acordo com dados apresentados no estudo “Projeções do Agronegócio, Brasil 2018/19 a 2028/29”, desenvolvido pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e pela Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a produção do algodão baiano vai aumentar 20,5% nos próximos 10 anos.
No mesmo período, as exportações da commodity devem crescer 43,4%.
Segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), além da grande aptidão para o agronegócio, sobretudo no que se refere à produção de grãos, municípios como Barreiras, Correntina e Luís Eduardo Magalhães desenvolvem, simultaneamente, importantes e predominantes atividades ligadas ao setor de serviços, as quais se vinculam às suas especializações econômicas.
Para a maioria dos produtores, esse é só começo e ainda há espaço para investimentos.
“A cotonicultura precisa de gente de coragem, pra encarar. É uma cultura de alto custo, mas para quem se dispõe a trabalhar e investir no solo, consegue grandes resultados”, afirma Fernanda Zanotto, proprietária de uma unidade de beneficiamento do algodão. Fábio Ricardi também acredita no potencial de expansão do oeste baiano.
“Nós estamos ainda no começo da estrada. A gente tem muito o que ganhar para o estado e para o país. E isso só se consegue com desenvolvimento humano e financeiro. Em cima da agricultura e das atividades básicas sempre vem o resto do desenvolvimento. E isso você vê em muitos países ricos”, destaca o produtor.
Do cultivo da pluma à produção de confeccionados de tecidos e malhas de algodão, a cadeia emprega diretamente algumas centenas de milhares de pessoas, gerando uma massa salarial anual de vários bilhões de dólares, sem falar do setor têxtil, o segundo que mais emprega no Brasil. Por diversos fatores, a cotonicultura merece atenção especial.
Com certeza, o ouro branco do cerrado baiano ainda trará muitas alegrias para quem continuar acreditando no seu potencial.