Produtores e indústria no estado adotam práticas sustentáveis para um futuro agrícola mais limpo e rentável
Por: Allan Carvalho
Em meio às extensas paisagens do Oeste da Bahia, um movimento sustentável está tomando cada vez mais forma. A cotonicultura, tradicionalmente conhecida por suas vastas plantações e significativa contribuição econômica, está passando por uma transformação sem precedentes.
Impulsionados pela necessidade de um planeta mais sustentável e pela crescente demanda global por práticas agrícolas ecologicamente corretas, produtores agrícolas e todo ecossistema da cotonicultura estão redefinindo o modo como o algodão é cultivado.
Com inovações sustentáveis, a Bahia não só está fortalecendo sua posição como líder na produção de algodão, mas também está pavimentando o caminho para um futuro agrícola mais verde.
No coração do Oeste baiano, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, a Fazenda Santa Isabel, pertencente ao Grupo Franciosi, emerge como um exemplo deste movimento de inovação agrícola. Com a sustentabilidade e a modernização tecnológica como pilares, a propriedade se posiciona na linha de frente das práticas agrícolas do futuro.
João Neto, engenheiro agrônomo e líder da equipe agrícola da fazenda, destaca os desafios enfrentados: “Estamos empenhados em reduzir o uso de pesticidas e otimizar a gestão dos recursos hídricos”.
Em uma região onde a agricultura é tanto um pilar econômico quanto cultural, a conservação da água torna-se imperativa. A consciência sobre a importância de preservar nascentes e mananciais é evidente entre os agricultores locais.
Uma das iniciativas mais emblemáticas é a dedicação à preservação das Áreas de Preservação Permanente (APPs). Em zonas próximas a corpos d’água, os produtores estabelecem faixas de proteção, em estrita conformidade com a legislação, formando barreiras naturais que resguardam rios e nascentes. Esta prática não só combate a erosão, mas também assegura a qualidade hídrica.
Além das APPs, há um compromisso sólido com a manutenção de reservas legais nas propriedades. Estas áreas, muitas vezes repletas de vegetação nativa, atuam como corredores ecológicos, fomentando a biodiversidade e facilitando a circulação da fauna regional. É uma estratégia que reverbera também no equilíbrio ecológico e na conservação da flora baiana.
A abordagem da Fazenda Santa Isabel é emblemática. “Monitoramos toda a nossa irrigação, buscando a eficiência hídrica”, diz Neto, citando o sistema de pivôs de irrigação como um exemplo de inovação. “Se detectarmos uma falha em uma tubulação, podemos intervir imediatamente, tudo diretamente do nosso escritório.”
Essa gestão remota não só conserva água, mas também otimiza o uso de pesticidas. A fazenda investe em tecnologia de ponta, como análise de dados em tempo real, sensores e drones. Estas ferramentas proporcionam uma abordagem mais otimizada ao uso de insumos, tornando a agricultura mais eficiente e ecológica.
Para João Neto, a tecnologia é inegociável na agricultura contemporânea. “Ela não só nos ajuda a reduzir o uso de pesticidas, mas também a maximizar a produtividade e minimizar os impactos negativos ao meio ambiente”, conclui.
Do campo para a indústria
Na Bahia, a Algodoeira Zanotto Cotton, que realiza o beneficiamento do algodão, também se destaca na inovação sustentável.“A busca pela sustentabilidade na agricultura é uma prioridade crescente em todo o mundo, e nós estamos na vanguarda da adoção de práticas ambientais responsáveis”, afirma Henrique Borges, Gestor Agrícola da Algodoeira Zanotto.
Uma das iniciativas mais notáveis destas práticas é o reaproveitamento de plástico na indústria. Parte deste material é utilizado no envelopamento de caroços de algodão durante o carregamento, essenciais para prevenir derramamentos e a consequente proliferação de ervas daninhas nas estradas.
Borges explica que “por se tratar de um plástico virgem, é de alto valor agregado para as indústrias”. Por isso, parte do material é direcionado para processos de reciclagem, promovendo uma extensa reutilização de recursos que, em tempos passados, poderiam ter sido simplesmente descartados, acarretando consequências ambientais negativas.
Outra medida de sustentabilidade implementada pela Zanotto Cotton está na prática do descarte consciente dos resíduos do algodão, por meio de compostagem. O processo resulta em um composto que é reincorporado ao solo, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos e promovendo uma agricultura mais limpa.
“Com esse descarte é feita a compostagem e essa compostagem é agregada à nossa terra. O que acontece é que a gente utiliza menos adubo químico e passa a usar mais adubo orgânico”, explica Borges.
Além das práticas sustentáveis no campo, a indústria de beneficiamento de algodão também investe em energia limpa. Segundo dados de 2020, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), aproximadamente 35% do consumo de energia elétrica do país é atribuído à indústria.
Uma das ações mais impactantes da Zanotto Cotton foi a instalação de uma usina fotovoltaica. “Foi um dos nossos primeiros passos rumo à sustentabilidade. A usina atualmente tem capacidade de um Megawatt (MW), e temos planos de ampliá-la para 1.3 Megawatt ainda este ano”, revela Borges.
Em termos comparativos, um MW de energia gerada pela Usina Solar Fotovoltaica é o suficiente para abastecer cerca de 1.500 casas.
De acordo com o gestor, esse investimento não só otimiza os custos operacionais, mas também contribui significativamente para a redução da pegada de carbono da propriedade, que tem um grande consumo de energia das máquinas que fazem o beneficiamento do algodão.
Ascensão sustentável na produção de algodão
A Bahia tem se destacado no cenário nacional como um dos principais polos de produção de algodão, rivalizando com gigantes tradicionais do Centro-Oeste. Atualmente, o estado é o segundo maior produtor de algodão do país, ficando atrás apenas de Mato Grosso, impulsionado principalmente pela produção algodoeira do Oeste baiano.
Para se ter uma noção da potência produtiva do país, segundo dados da Abrapa Associação Brasileira dos Produtores de Algodão e Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 1996/1997, o Brasil ocupava a posição de segundo maior importador de algodão do mundo, uma época em que a produção local ainda estava em crescimento.
Através de investimentos em tecnologia, pesquisa e práticas sustentáveis, o país se tornou um polo de produção de algodão de alta qualidade. Em 2021/2022, o país alcançou o feito impressionante ao se tornar o segundo maior exportador de algodão do mundo.
Esse salto produtivo é fruto de investimentos contínuos em pesquisa e inovação tecnológica, que estão redefinindo a abordagem dos agricultores baianos ao cultivo da fibra.
A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) desempenha um papel fundamental na promoção e no desenvolvimento da indústria do algodão na Bahia. Fundada em 2000, a Associação tem atuado para representar os interesses dos produtores de algodão e promover práticas agrícolas sustentáveis na região.
Em declaração, o presidente da Abapa, Luis Carlos Bergamaschi, enfatiza a importância da cooperação entre os produtores, o governo e outras partes interessadas para garantir um ambiente propício ao crescimento da indústria do algodão na Bahia:
“O nosso compromisso é promover boas práticas agrícolas, o uso eficiente dos recursos naturais e a inovação tecnológica para aumentar a produtividade e a qualidade do algodão produzido no estado”.
A sinergia entre produtores, entidades de pesquisa e empresas do segmento tem sido a chave para essa revolução verde. Parcerias estratégicas estão sendo desenvolvidas para criar variedades de algodão mais resistentes e adaptadas ao clima baiano. Estas novas cepas têm o potencial de minimizar a dependência de agroquímicos, otimizando os rendimentos dos agricultores.
Mas os frutos dessa inovação sustentável transcendem os campos de algodão. A diminuição na utilização de químicos e a gestão consciente da água reverberam positivamente nos ecossistemas locais.
Além disso, a produção de algodão sustentável abre portas para mercados internacionais que buscam produtos ecologicamente responsáveis, o que pode impulsionar a economia da Bahia.