Entre os desafios estão a negligência de clubes com as divisões de base ao despreparo físico e psicológico dos atletas
Por João Grassi, Bruno Luis e Murilo Sampaio
Revisão: Antônio Netto
Ser um jogador de futebol profissional é a ambição de milhares de crianças espalhadas pelo Brasil, mas é preciso muito treino, esforço e paciência. Alguns jovens acabam tendo suas carreiras prejudicadas por problemas como preparação física, adaptação, perda de foco e conflitos com empresários ou dirigentes.
O Brasil enfrenta deficiências na formação de jogadores profissionais por conta da negligência de alguns clubes com as divisões de base, isso de acordo com José Cortez, professor de futebol e futsal da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE – USP) e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol e Futsal (GEPEFFS).
“Poucos são os clubes que investem em profissionais competentes para trabalhar nas categorias de base”, diz Cortez.
Alguns profissionais envolvidos com categorias de base também citam o imediatismo como um grande fator influenciador no insucesso da formação de jogadores. Leonardo Vitorino, ex-treinador de base do Al Gharafa-QAT diz:
“No Qatar, tive tempo de trabalho. Pude desenvolver um trabalho sabendo que não haveria troca de presidente, interesses políticos de grupo A ou grupo B, ou oposição e situação, porque o clube tinha dono, então fica muito mais fácil porque você pode executar um trabalho sério e a longo prazo”.
Vitorino acredita que é preciso modificar a estrutura do nosso futebol e a forma com que nossos futuros talentos são trabalhados nas categorias de base.
Os empresários, a cultura do futebol de resultado, até mesmo na base, e a priorização de jogadores altos e fortes para levar vantagem no corpo entre os garotos, ao invés de trabalhar a qualidade técnica, são alguns dos principais problemas.
Foco e disciplina
No meio futebolístico, um dos grandes desafios é manter o foco e a disciplina, um dos grandes segredos para o sucesso dos grandes jogadores.
A dificuldade para lidar com a carga excessiva de treinos, hábitos saudáveis e estilo de vida de um atleta profissional são desafios para o desenvolvimento dos jovens que querem se profissionalizar.
João Pedro Ribeiro, ex-lateral do Bahia, conta sobre as dificuldades vividas após a saída do Tricolor, que optou pela não renovação do seu contrato. João era uma das grandes promessas do clube e um dos poucos da sua categoria que chegou a vestir a camisa da seleção brasileira de base.
“Foi um momento difícil que eu pensei que nunca iria chegar, o momento de rescindir meu contrato com o Bahia. Tudo que aconteceu foi por culpa minha, por eu ter perdido o foco. O que me atrapalhou mais foi sair pra balada quando não era o momento certo. Deixei subir um pouco à cabeça a questão de estar bem no clube”, relata João Pedro.
Para o jogador de meio campo do Bahia, Jeferson Douglas, é de suma importância ter uma boa alimentação para atingir os objetivos dentro das quatro linhas. Jeferson entende que uma dieta correta é um dos principais pontos para manter a preparação física.
“A alimentação ajuda em todos os aspectos físicos. Para você estar no seu peso ideal precisa que a sua alimentação esteja certa. Para poder aguentar uma partida de futebol tem que estar com a alimentação certa”, relata Jeferson.
Problemas com empresários
Outro fator que impacta na carreira de jovens jogadores é a influência de empresários e agentes, que muitas vezes são pessoas de confiança dos jogadores, mas acabam levando os jovens a tomar decisões ou fazer escolhas nem sempre corretas.
Recentemente, o atacante Daniel Cruz, destaque do sub-20 do Bahia, teve problemas com a renovação do seu contrato após diversas exigências feitas por seu empresário, Marcelo Pacheco.
A diretoria do Tricolor já havia encerrado negociações e estava pronta para renovar o vínculo do jogador, mas acabou desistindo por conta dos novos pedidos de Pacheco, que supostamente não estariam no acordo inicial entre as partes.
Daniel agora busca um novo clube, mas acabou perdendo chances de aparecer no time profissional, numa temporada em que o Esquadrão utilizou muitos jogadores jovens na disputa do campeonato estadual.
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