Com ênfase na obra “Gabriela, cravo e canela”, o grupo discutiu temas como sexismo, regionalismo e a importância de políticas públicas
Por Felipe Lessa
Revisão: Frederico Sólon
Como parte da Rota Gastronômica Amado Sabores, da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) 2022, moradores do Centro Histórico de Salvador e convidados se reuniram neste domingo (6), na Panificadora Santo Antônio, para uma manhã de discussões literárias e socioculturais.
A reunião, ministrada pelo professor e proprietário do estabelecimento, Anderson Freitas, contou com a presença de membros do corpo discente e do coordenador do curso de Administração da Unifacs, Adriano Hora.
Para entender a manifestação literária no cotidiano da comunidade, a AVERA esteve presente no evento e conta com exclusividade o desenrolar das atividades.
Debatendo Jorge Amado
Anderson Freitas explica que por meio de um sorteio realizado entre os empreendimentos participantes do evento Amado Sabores, a panificadora foi contemplada com a obra “Gabriela, cravo e canela“, mais especificamente na figura de Nacib, interesse romântico da protagonista.
“A literatura é uma base de sustentação para um processo de educação. Eu, enquanto professor, penso que a leitura, seja ela de ficção, estudo de caso ou de um artigo acadêmico, é importante para o desenvolvimento do ser humano. A obra de Jorge Amado corrobora, desde a década de 1960, o que nós ainda vivenciamos”, afirma Freitas.
O professor infere que ainda hoje “pouco se fala do empoderamento da figura de Gabriela”, uma vez que na obra de Amado, pautas sociais como sexismo e feminismo já eram discutidas.
“A obra é tão rica! Na leitura do livro, fala-se também da xenofobia que o Nacib sofre, sobre o coronelismo, a exaltação do regionalismo… por mais que Gabriela seja a personagem central da trama, ao redor existe tantos desdobramentos que eu penso que eles precisam ser exaltados também”, completa o professor.
Vivendo Jorge Amado
Matheus Moreira (24) atuou como palestrante no evento. Formando de Economia na Unifacs e morador do bairro de Plataforma, o universitário compartilhou a significância da obra de Jorge Amado na sua vida pessoal por meio da obra Capitães de Areia.
“Literatura está presente na minha vida há muito tempo. A tia que me criou era professora de português, e por morar em uma região periférica, a leitura atuou como rota de escape. Então inserir a comunidade na discussão [literária] é muito importante pra mim”, explica Andrade de Araújo.
Moreira argumenta que “a importância de Gabriela é entender a importância da região fora do eixo Salvador”, porque Jorge Amado era “um mestre em trazer a baianidade” na narrativa de seus livros.
O presidente da Associação do Centro Histórico Empreendedor (ACHE), José Iglesias Garcia, também esteve presente na reunião. Iglesias comenta a importância de eventos que priorizam o crescimento intelectual.
“Essa movimentação, na qual você traz um público que tem fome de cultura, aquece e movimenta a região, que carece desse tipo de evento. Não somente Gabriela, temos que discutir Jorge Amado, que talvez seja um dos maiores escritores da língua portuguesa”, pontua Garcia.
O presidente acrescenta que “talvez uma boa parte da nova geração nem conheça muito sobre as obras de Jorge Amado” e que o evento promovido pela Flipelô possa atiçar a curiosidade desse grupo.
Com reflexões pertinentes acerca da cena cultural soteropolitana, o encontro garantiu que o objetivo do palestrante, de inserir a comunidade na discussão, fosse cumprido.
“Debater literatura é debater o amanhã. É uma arte que nunca vai morrer”, finaliza.