Anajara Tavares autografou exemplares de seu livro na abertura da Favela Literária, espaço organizado pela Universidade Salvador (Unifacs) na Expo Favela Innovation 2024 | Foto Divulgação
Por Isac Elisson
Revisão Kátia Borges
Durante o evento, na tarde da última sexta-feira (27), a escritora baiana lançou a segunda edição de seu livro de poemas, editado pela Organismo/Segundo Selo
Após participar da Bienal do Livro Bahia 2024, da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) e da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô), a escritora Anajara Tavares levou seu livro, Unguento, publicado pela editora Organismo/Segundo Selo, para a Expo Favela 2024. A tarde de autógrafos marcou a abertura do espaço Favela Literária, organizado pela Unifacs.
“É sempre importante a gente estar nos espaços falando do nosso trabalho, principalmente para mim, enquanto uma escritora periférica, uma mulher negra que escreve, que está sempre na condição da margem, daquele corpo que não escreve, daquele corpo que não produz intelectualidade”, comenta.
Sobre sua obra, que chega à segunda edição, Anajara diz não ter modéstia. “É um livro maravilhoso. É uma obra à qual eu me dediquei e que tem me trazido essa resposta da potencialidade, do encantamento e da sua força. A devolutiva do público é muito positiva”. Com a temática do afeto, Unguento reflete vivências e percepções, com a força de uma história pautada na ancestralidade.
“Somos corpos aviltados, corpos a que foram negados todos os direitos. O meu exercício na minha literatura é devolver humanidade para mim e para os meus. Na minha condição de mulher negra escritora, essa palavra que eu escrevo é, principalmente, para mim. Daí é o meu diálogo com o mundo através da palavra poética”, explica.
Denúncias
Para Anajara, ainda há muito a ser dito. “Temos muitas denúncias a fazer, muito grito a ser dado, muito rasgo a ser feito, devido às violências e ao contexto racial que vivemos. Mas, sobretudo, precisamos nos ofertar afeto. Só existimos, hoje ainda, porque temos afeto entre nós, a despeito da violência. Então, a minha narrativa, ela se centra na afetividade entre nós. Afeto entre nós é urgente”, completa.
Como autora e organizadora de coletâneas, Anajara Tavares se considera uma “operária da literatura”, pois, mesmo com a ausência de holofotes, reconhece a importância do que é produzido e o quanto a escrita de pessoas pretas é uma potência. “A literatura é uma grande ferramenta de formação de imaginário. A possibilidade de futurar ou de mitigar as violências sobre as quais nossos corpos estão submetidos em uma sociedade racializada”.
Palavra-corpo
Com uma história marcada pela “palavra-corpo”, a autora cita os saraus realizados nas comunidades periféricas da cidade como espaços literários e afetuosos de acolhimento. Anajara indica alguns para os amantes da poesia e da literatura em Salvador, como o Sarau Bem Black, o Sarau da Onça, o Sarau do Agdá e o Sarau do Jaca, entre outros.
“A gente precisa se reunir, se aquilombar em espaços para que a gente continue existindo. Os riscos são imensos. Mesmo George Washington, que é um artista da palavra, da cena artística de Salvador há mais de 20 anos, continua sendo o principal alvo das violências dessa mesma cidade. Então, o que a gente faz? A gente tem se organizado, se movimentado, para estar existindo dentro da literatura”.