A roda de rimas foi realizada com o intuito de mostrar o estilo freestyle, com a rima e a pichação, como forma de expressão artística
Por Juliana Brito
Revisão: Antônio Netto
Na segunda-feira (29), foi realizada uma roda de rimas na cantina do Campus Tancredo Neves da UNIFACS. O momento foi organizado pela estudante do 1° semestre de Publicidade e Propaganda, Alana Amaral, e contou com a presença dos estudantes Bert e Costal e do MC Max B.O.
Durante a roda, foi realizada ainda uma instalação artística surpresa, do artista LVC Vandalismo.
“Eu tive a ideia dessa intervenção porque acredito que a rua seja um grande palco de comunicação, seja a parte visual como a arte de LVC, mas também a arte representada pela roda de rima, através de Max B.O. e os estudantes Bert e Costal”, conta Amaral.
Bert conta que é importante mostrar que a rima é uma forma de expressão e sustento.
“A roda teve uma importância muito grande pela questão de mostrar como acontece o movimento de rima, pelo menos um pouquinho. Que existem pessoas aqui que fazem rima, que se sustentaram e sustentam fazendo rima. É uma forma de arte, de crítica social e de se expressar bastante importante que nós jovens temos hoje e é bom trazer para o âmbito da faculdade, para as pessoas que não conhecem e acham que está muito distante delas”, comenta Bert.
“Na verdade, a rima está muito perto delas e para mim, pessoalmente, também teve um significado muito importante, porque eu estou há bastante tempo na faculdade e foi a primeira vez que eu rimei aqui. Então, para mim, teve esse sentimento especial também”.
Costal complementa expressando a alegria de poder rimar na presença de amigos e colegas.
“Foi importante também mostrar um pouco de algo que fui muito tempo, de mostrar meio que um trabalho para mim. De estar aqui com meus amigos. A maioria do pessoal não sabia que eu rimava e foi o primeiro contato que tiveram comigo rimando”, relata Costal.
“Eu acredito que é bom trazer essa cultura para o âmbito da faculdade, porque pelo que eu vejo, não é um lugar que tem muita dessa questão cultural, dessa mobilização cultural”.
A roda de rimas contou também com uma instalação artística surpresa, do artista LVC Vandalismo. Alana explica que ela e sua equipe precisavam escolher uma obra e um especialista para comentar sobre ela no evento. No fim, a obra que escolheram foi o “verme” de LVC Vandalismo, que é muito conhecido.
“Ele realiza essa pichação por toda a cidade de Salvador e tem um objetivo por trás disso, que é a de pegar ambientes que são às vezes esquecidos, etc. e deixar sua marca. Do tipo: ‘Passei aqui, eu estou vendo’ e as pessoas acabam se identificando de certa forma. Ele também vende roupas, camisas do verme e é muito legal a questão da representatividade envolvida”, explica Amaral.
Alana conta que Max B.O. foi o especialista escolhido para comentar sobre a obra de LVC.
“Escolhemos Max porque ele também atua nas artes plásticas. E para mim não há especialista maior que uma pessoa que está diretamente ligada às ruas. Max, além de ter ligação com as artes e as artes plásticas, é considerado um líder nacional do freestyle. Foi ele que encabeçou toda essa trajetória até aqui”, esclarece Amaral.
“Ele sempre teve essa questão das rimas de freestyle. Max era apresentador de um programa em que ele entrevistava as pessoas rimando, na Rede TV. Ele também foi apresentador do programa Manos e Minas por alguns anos na TVE. Enfim, ele é uma figura muito importante para a configuração do rap nacional, principalmente na questão das rimas de freestyle”.
Sobre LVC Vandalismo, Alana conta que sua equipe trouxe a questão da pichação porque a arte não necessariamente tem a ver com o “politicamente correto”, comentando que a arte traz essa questão do protesto enraizado.
“Quando a gente fala, por exemplo, de Basquiat e Banksy, que são figuras que são conhecidas internacionalmente, em que a gente nem precisa estar levando para um patamar internacional para falar da importância, aqui dentro de Salvador temos, por exemplo, lendas urbanas da década de 90 de gente muito boa e importante para esse ramo”, reflete Amaral.
“Mas assim, quando falamos de Basquiat e Banksy, estamos falando de figuras que estão dentro das universidades, sendo citadas por professores e etc., pelo alcance que tiveram. Basquiat, nem preciso falar, e Banksy não tem a sua identidade revelada até os dias de hoje, tem essas exposições, mas ninguém sabe ao certo quem é.”
Alana explica que LVC é como Bansky, que não releva a própria identidade.
“LVC vende as roupas e se direciona aos clientes, mas não podemos divulgar a sua figura de forma tão ampla em rede social”, conta Amaral.
“Por esses motivos, a pichação é uma instalação artística configurada como vandalismo, mas por exemplo, o grafite não é visto da mesma forma. O grafite, por muitas vezes, é colocado em espaços em que não poderiam existir, mas ele agrada os olhos das pessoas. Ainda que exista um protesto, o grafite agrada aos olhos e a pichação está ali para incomodar”.
Max B.O. explica que a importância de estar presente e participar da roda de rimas é fortalecer o trabalho dos estudantes, além de apresentar a rima como uma possibilidade de comunicação.
“Os MCs de improviso são uma nova vertente da oralidade brasileira. Eu sempre falo isso: que o improviso é o primo ou irmão mais novo do repente, da embolada, do samba de partido alto e da trova (que são modalidades de improviso), que chegaram um pouco antes com outras pessoas e outras regiões do Brasil”, ensina B.O.
“Então, o freestyle, que é a rima de improviso que a gente desenvolve, é o priminho mais novo que já veio de avião, que veio dos Estados Unidos e que a gente desenvolve já há algum tempo”.
Max explica que a cultura hip hop fará 50 anos neste ano (40 anos, no Brasil) e revela que faz parte dessa cultura desde 1992.
“A primeira vez que eu fiz um improviso foi em um campeonato de música que tinha na minha escola. Quando eu fiz aquele improviso, eu ainda não tinha nem ciência do freestyle. Eu fui conhecer o freestyle mais pra frente, perto de meados de 98, começo de 99. Naquela época, eu improvisava porque era o que eu escutava da minha família, do repente pernambucano”, relembra B.O.
“Então, é importante estar mostrando esse trânsito da nossa palavra, da nossa oralidade, da nossa prática de oratória. E por falar em prática de oratória, fiquei contente de estar aqui fazendo parte dessa história”.