Pelé e David Beckham. Foto: Shawn Ehlers/Wireimage
Grandes nomes da história do futebol mundial são reconhecidos e aclamados em todo o planeta, mesmo por aqueles que não acompanham o esporte. Mas por que esses atletas deixaram de ser pessoas comuns?
Por Lucca Anthony
Revisão Laís Cruz
A modalidade foi criada como uma comemoração inglesa pós-guerra, no século XVII e continuou sendo praticado no país. Com o tempo, evoluiu e se espalhou para outros países Por ter regras claras e fáceis, além de ser um esporte acessível que não requer muitos recursos para começar, a modalidade conquistou muitos praticantes.
Para aqueles que assistiam, as partidas eram fluidas e imprevisíveis, cheias de reviravoltas que podiam favorecer um time em um minuto e mudar completamente no seguinte. Assim, o esporte foi se espalhando, conquistando adeptos e entusiastas, e se transformando na cultura que conhecemos hoje.
Em entrevista ao portal Avera, Dino Furacão, ex-atleta brasileiro dos anos 80 e 90, que teve passagens pelo Bahia, Santos e uma carreira internacional rica, foi questionado sobre o tratamento dos fãs quando o encontravam e pediam autógrafos. “Quando as pessoas se destacavam no clube de forma positiva, há essa busca do torcedor por um autografo, uma camisa do clube, porque é uma lembrança que ele vai ter de você, do jogo, do campeonato que foi ganho e isso além de ser muito importante é especial, é um tratamento muito bom. Por outro lado, você as vezes perde sua privacidade com sua família, em um dia que você quer relaxar e fugir do futebol, e muitas vezes você é reconhecido na rua e se for por um torcedor rival, vai ouvir provocações e variados xingamentos.”
A estrela de Pelé:
Entre todos os atletas que já praticaram e ainda praticam futebol, nenhum foi tão impactante para se criar “amor pela bola”, como Edson Arantes do Nascimento, popularmente conhecido Pelé.
Pelé transformou a maneira como o esporte era praticado, trazendo em sua bagagem dribles, domínios práticos e chutes acrobáticos, em uma época em que esses movimentos e estilo de jogo eram extremamente raros.
Justamente por isso, Edson conseguiu ressignificar a percepção do mundo em relação aos atletas e à seleção brasileira. Vale lembrar que o futebol é um esporte europeu e a grande mídia focava apenas na Europa. Após a ascensão do camisa 10 da seleção, atletas da América do Sul e do Brasil, como Dino Furacão, passaram a ganhar destaque.
Pelé não apenas transformou a imagem da seleção no cenário internacional, mas também dentro do próprio país. Após o Maracanazo, quando o Brasil perdeu o mundial para o Uruguai em 1950, a população “abandonou” a seleção. Diante desse trágico acontecimento, que afetou algo que amava, Edson, ainda criança, prometeu a seu pai que traria a Copa do Mundo para o Brasil.
E cumpriu essa promessa: o ídolo brasileiro conquistou três Copas do Mundo, em 1958 (aos 17 anos), 1962 e 1970, tornando o Brasil o primeiro país a ganhar três títulos. Com o alto reconhecimento internacional, quando a FIFA (órgão mundial do futebol) abriu as portas para patrocínios, milhares de marcas desejavam estampar seus logos na camisa canarinha.
Pelé é reconhecido como o Rei do Futebol. Segundo Christina Philippou e Sarthak Mondal, da Interesse Nacional, a fama internacional do camisa 10 era tão grande que, mesmo após sua aposentadoria, ele utilizou sua imagem em grandes campanhas publicitárias, como a da Coca-Cola, aos 60 anos.
O esporte virou entretenimento:
O futebol foi tão aclamado que se tornou uma forma de entretenimento por si só. É um dos poucos trabalhos em que o empregado pode ganhar mais que o empregador. Estrelas como Neymar recebem salários exorbitantes porque são os protagonistas de um espetáculo que envolve cada vez mais dinheiro.
Uma grande prova de que o mundo do futebol é extremamente lucrativo é que, segundo alguns insiders, a FIFA lucrou cerca de 40 bilhões de reais na Copa do Mundo de 2022. Esse lucro se deu através da venda de ingressos, merchandising, shows durante o campeonato e a venda de produtos.
A princípio, o “boom” monetário deve-se a David Beckham, ex-jogador que, nos anos 2000, deu o pontapé para transformar o futebol em algo além de um esporte, tornando-se parte da indústria do entretenimento.
David Beckham e os anos 2000:
Com o início da globalização e do comércio digital, as empresas começaram a buscar jovens para se tornarem seus ‘rostos’ e cativar o público. Nesse contexto, David Beckham se tornou a galinha dos ovos de ouro na era do futebol-negócio, pois, além de sua beleza invejável, era carismático e, o mais importante, jogava muito bem, atuando como um verdadeiro ‘showman’ dentro de campo.
Beckham foi um dos, senão o jogador mais midiático da história. Ele revolucionou a forma como se faz marketing de um atleta, ultrapassando os limites do futebol a tal ponto que até mesmo pessoas que não são adeptas do esporte conhecem o inglês, mesmo após sua aposentadoria. André Bizek comentou que, quando morava na Inglaterra em 2004, David era onipresente, anunciando todos os tipos de produtos e sendo visto como a solução para os problemas do Reino Unido.
Um exemplo notável é a ida do meio-campista para a liga dos Estados Unidos (MLS), que chocou o mundo ao deixar o Real Madrid, dos ‘galácticos’, para se juntar a um campeonato considerado menos relevante. Os dirigentes depositaram grandes esperanças nessa contratação, e David catapultou o perfil da liga. Entre sua chegada em 2007 e sua saída em 2012, o número de times na MLS aumentou de 12 para 19, e o merchandising cresceu 231% ao longo dos cinco anos de contrato. Esse impacto foi mais forte e duradouro do que a chegada do próprio Pelé aos Estados Unidos em 1975.
Porém, com todo o estrelato que o britânico e outros futebolistas têm, a mídia e os fãs cobram resultados, especialmente quando as coisas não vão bem. Dino Furacão, questionado sobre isso, afirmou: “A mídia geralmente trata o atleta, com o que ele produz. Se o atleta está tendo um bom desempenho dentro de campo, a mídia o apoia em tudo. O problema é quando vem os resultados ruins, a mídia começa a cobrar, entrando as vezes na vida pessoal do atleta. O clube se destacando e o jogador também, a imprensa e os torcedores levam isso para o lado positivo, mas se o clube começa a ir mal, se vem o lado negativo.”
O futebol é um esporte belo, uma orquestra com 22 jogadores em campo, que são os próprios maestros da partida. É essa magia que o torna encantador: em apenas 90 minutos, há pura emoção e mudanças de expectativa. Simples seres humanos conseguem fazer uma multidão e um grande mercado enlouquecerem. Em menções honrosas, na modalidade, atletas como Diego Maradona, George Best e Bobby Charlton também moldaram o esporte como ele é hoje, atraindo uma multidão de fãs a acompanharem e se apaixonaram pelo jogo.