O time de futebol feminino do Corinthians conquistou em setembro o 6° título do Brasileirão feminino em uma final disputada contra o São Paulo | Foto Divulgação
As “Brabas”, como são conhecidas, são as maiores campeãs da competição e mantêm uma sequência hegemônica de sete finais seguidas
Por Maiane Ferreira
Revisão Laís Cruz
Os caminhos percorridos pelo futebol feminino do Corinthians são repletos de altos e baixos, cheios de desafios, até chegar a um modelo de gestão responsável e comprometida em promover a equidade. Ao todo, as jogadoras já conquistaram 18 taças, incluindo Libertadores, Copa do Brasil e títulos estaduais.
O time teve início em 1997, quando Alberto Dualib, o presidente da época, juntou mulheres que eram modelos em uma agência. Apesar de não ser profissionalizado, o futebol feminino do Corinthians revelou Milene Rodrigues, a “Rainha das Embaixadinhas”, que também foi a maior transferência do futebol feminino até 2020, em uma movimentação de 290 mil dólares.
Porém, o time não se sustentou e foi desativado em 2008/2009 e encerrou as atividades. Em 2016, começou a engrenagem para a glória, e o time feminino foi reativado juntamente com o Audax (antes mesmo da obrigatoriedade imposta pela CBF aos times brasileiros de terem o futebol feminino ativado).
Essa parceria gerou bons frutos, principalmente pelas pessoas que dirigiram esse projeto, entre as quais estava Cris Gambaré, que na época tornou-se diretora de futebol do Corinthians. Outro nome importante foi Arthur Elias, técnico do time, que foi um pilar nessa nova gestão inteligente e estratégica. Ainda na parceria com o Audax, o Corinthians foi campeão da Copa do Brasil em 2016 e da Libertadores em 2017. A partir daí, o Corinthians decidiu seguir gestão própria.
A mulher que revolucionou o Corinthians?
Cris Gambaré, empresária, conselheira e amante do esporte foi a maior responsável pelo sucesso das “Brabas”. O processo de mudança que começou internamente alcançou grandes feitos e quebrou preconceitos. Na gestão de Cris, o Corinthians investiu e repatriou diversas jogadoras de alto nível, como Tamires, Erika, e Gabi Zanotti.
Em pouco tempo de gestão própria, os frutos já foram colhidos, como a conquista do Campeonato Brasileiro de 2018. No ano seguinte, as meninas empilharam mais dois títulos: a Copa Libertadores e o Campeonato Paulista. Em 2020, ano em que ganharam novamente o Brasileirão A1, o Corinthians se tornou o primeiro clube do Brasil a profissionalizar totalmente todas as relações jurídicas com o futebol feminino do timão.
E com isso, a CLT, direitos de imagem, multa rescisória e todas as questões contratuais foram seguidas no mesmo molde do futebol masculino, o que representa um salto gigantesco e um exemplo para os demais clubes. Esse passo elevou de forma substancial o patamar, assegurando dignidade e condições para as atletas.
A partir desse ponto, a hegemonia se concretizou. As meninas somaram mais 12 títulos, entre 2020 e 2024, entre essas taças estão a conquista do tetracampeonato da Libertadores, hexacampeonato do brasileiro A1 e o bi da Supercopa.
Grandes projetos
Além de montar bons elencos, profissionalizar contratos, a gestão de Gambaré promoveu campanhas de marketing assertivas. Com isso, as atletas conseguiram patrocínios, e além disso, usaram as campanhas para transmitir mensagens de conscientização contra o preconceito existente no meio.
A campanha “Cale o Preconceito”, em 2018, gerou impacto. As atletas entravam em campo com frases machistas, como: “Futebol feminino só vai ser bom quando acabar”, “Lugar de mulher é na cozinha e não jogando futebol” estampadas nos uniformes. A partir daí, o Corinthians convidava os patrocinadores a estampar suas marcas sobre o local, com o lema: “Patrocine nosso time e cubra todo esse ódio com a sua marca”.
Em outra campanha realizada com a Nike, foi lançada uma camisa única do futebol feminino, na cor roxa, que bateu recordes de vendas ainda no lançamento.
O sucesso do futebol feminino do Corinthians também se sustenta no abraço da torcida. O timão detém o maior público na América Latina no futebol feminino e lidera quatro das cinco maiores médias de público no futebol brasileiro. Em 2023, na final do Brasileirão contra a Ferroviária, havia 42.556 pessoas na Neo Química Arena. No mês passado, na final contra o São Paulo, também no Brasileirão, o público foi de 44.136 pessoas presentes, o que representa mais uma quebra de recorde na modalidade.
Referência positiva
Neste ano, os principais times do estado baiano, Bahia e Vitória, também tiveram alguns avanços em relação à administração do futebol feminino. O Bahia conseguiu o acesso ao Brasileirão A1, além do título do Brasileirão A2. Neste mesmo ano, o Esquadrão inaugurou novo CT para as atletas. Logo, isso representa que o clube está caminhando para uma gestão mais séria do futebol feminino.
Já no Vitória, as meninas conquistaram o acesso para o Brasileirão A2 neste ano. Além disso, o Leão da Barra transmitiu alguns dos principais jogos do futebol feminino no seu canal do YouTube, a TV Vitória. Nos últimos meses, podemos notar também uma tentativa de independência midiática para o futebol feminino, tentando manter as redes sociais próprias só para o futebol feminino.
Apesar desses avanços, os times baianos precisam de mudanças estruturais, de dentro para fora, e, por conseguinte, de mais investimentos voltados para as atletas, assim como o Corinthians. Além disso, é importante ter mulheres responsáveis à frente desses projetos, como Cris Gambaré. Também é necessário um movimento de acolhimento da torcida BAVI, como um incentivo para o futebol feminino baiano.