Ainda pouco conhecida, a equoterapia, ou terapia assistida por cavalos, é um método complementar e disciplinar de fisioterapia e psicoterapia, que utiliza o animal como instrumento de tratamento terapêutico e melhoria na qualidade de vida dos praticantes.
Em Salvador, através do apoio logístico do esquadrão de montada da Polícia Militar (PM), há 28 anos a Associação Bahiana de Equoterapia (Abae) foi fundada sob a presidência de Maria Cristina Guimarães Brito.
A fundadora teve como principal motivador para o projeto seu filho Yuri Brito, portador de paralisia cerebral, que necessitava desse atendimento. “O Yuri faz o protagonismo do projeto”, diz a presidente da associação.
O tratamento
A equipe multidisciplinar composta por fisioterapeutas, coordenadores físicos e psicólogos trabalham em conjunto com os animais para fazer a reabilitação da parte motora, como controle de tronco e exercícios que ajudam no equilíbrio.
Existe um motivo particular para ter o cavalo na prática dessas atividades, pois “o movimento de andadura tridimensional do cavalo se iguala ao movimento de caminhada do ser humano, estimulando o cérebro do praticante”, afirma Aloysio Herwans, licenciado pleno em educação física e ex-comandante da cavalaria.
Com a diversidade do público atendido, o que inclui suas patologias, é necessário adaptar o tratamento ao praticante, dessa maneira a equipe de profissionais precisa traçar um plano de treinamento, desenvolvendo atividades voltadas às necessidades de cada um dos beneficiados pelo projeto.
O tratamento inclui pessoas com síndrome de down, autismo, hipertonia, que é a tensão muscular exagerada, hipotonia, que se trata da diminuição do tônus muscular, entre outras.
Os profissionais ressaltam ainda que esse trabalho deve ser complementado pelos pais, realizando atividades em casa, visando alcançar resultados ainda melhores.
Além dos benefícios físicos, percebido muitas vezes a partir da segunda sessão, é possível notar a evolução emocional dos praticantes, pois o trabalho realizado pelos profissionais desenvolve a independência, confiança e interação social.
“Chega me arrepio, é muita gratidão a Deus, por Cris [Cristina Guimarães], por tudo que ela fez, por tudo que ela lutou por cada criança, antes mesmo de conhecer cada uma. Minha filha começou a andar aqui. É só gratidão”, relata emocionada Raiana Medina, mãe de Rayza Medina, que é autista e portadora da Síndrome Angelman, doença genética que afeta os nervos.
Vendo o desenvolvimento dos filhos, os pais têm esperança ao ver a melhora da autoestima e interação com outras pessoas na mesma situação, gerando uma rede de apoio, com a troca de experiência entre eles, seja nos grupos de whatsapp ou nos encontros durante a prática das atividades promovidas pela instituição.
Sobre o projeto
A Abae é uma organização sem fins lucrativos, não governamental, criada em filiação à Associação Nacional de Equoterapia (Ande) e em parceria com o Esquadrão de Polícia Montada de Salvador.
O Centro de Equoterapia de Salvador fica próximo ao Parque de Exposições Agropecuário de Salvador, Itapuã.
Desde sua concepção, em 1993, o projeto tem beneficiado gratuitamente crianças e adolescentes com deficiências psicomotoras e neurológicas. Atualmente na Abae são acolhidos de forma direta 150 praticantes e seus familiares, explica Maria Cristina Guimarães Brito.
Yuri Brito (38), o precursor e primeiro praticante do método na Bahia, costuma dizer que é o “culpado” pelo projeto, e sonha que este seja um caminho no qual os praticantes encontrem a liberdade e independência, assim como ele.
“A equoterapia significa 90% do que eu sou”, afirma Yuri, que é hoje graduado em publicidade e pós-graduado em Política e Estratégica.
Equoterapia e Covid-19
Até então, a Abae não recebeu nenhum praticante de equoterapia que teve complicações em decorrência da Covid-19, mas os profissionais responsáveis pela prática contam que a prática pode ajudar nessa reabilitação.
A equoterapia pode auxiliar no tratamento da melhora da perda de memória recente, problema que afeta 63% dos pacientes que tiveram a infecção do coronavírus, dados publicados no site da Uol.
“Podemos traçar um planejamento de atividades, como jogo da memória, palavras cruzadas ou outras atividades lúdicas para fazer com o participante em cima do cavalo e assim exercitar a memória”, afirma a fisioterapeuta Liliane Brito
Apesar da escolha de manter a associação em funcionamento, todo o centro está tomando o devido cuidado para garantir a segurança dos profissionais e praticantes seguindo as medidas impostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), incluindo mudanças no cronograma de atividades.
A realização de programas virtuais vem suprindo os encontros presenciais, dentre eles: consultas online, instruções para atividades em casa, com reuniões semanais, tema de interesse familiar, para as famílias trocarem experiências e se ajudarem.
Mais sobre a Abae
“A Abae sobrevive de doações e investimentos dos meios públicos e privados”, conta Maria Cristina. “E estamos precisando de novos materiais e pensando fazer uma reforma no centro”, de modo a ter condições para receber mais praticantes.
Infelizmente, a Abae ainda é um centro pequeno, que não consegue acompanhar nem 50% das pessoas interessadas no tratamento, segundo relatos da fundadora.
São mais de cinco mil pessoas na lista de espera atualmente. Por conta da grande procura, o centro precisa desligar os praticantes que completam dois anos e meio de tratamento para que mais pessoas sejam tocadas pelas melhorias que a equoterapia proporciona.
Reconhecida pelo Conselho Nacional de Medicina, a Equoterapia é extremamente eficiente, pois tira o praticante do ambiente de quatro paredes, e como diz Yuri, o incentivo de melhora é bem maior. No centro de Equoterapia, o praticante tem contato com o sol, o vento, a areia, outras pessoas e, claro, os animais.
Para entrar em contato com a Abae, basta acessar o site: abaebahia.org.br e visitar a conta do instagram do centro: @abaeequoterapia.
Caso você queira dar um passo a mais e ajudar a Abae a alcançar mais pessoas que precisam desse serviço, é possível doar qualquer valor para o Pix do centro de Equoterapia: abaebahiaorgbr@gmail.com.
“Juntos somos mais fortes”, incentiva D.Maria Cristina com a esperança de que o projeto cresça ainda mais, alcançando assim todos que necessitam do tratamento.
Repórteres: Ana Luiza Castro, Eliosvaldo Nunes Júnior, Helena Pamponet Vilaboim, Lucas Herwans Vilar Souza, Maria Clara Ribeiro de Almeida
Revisão: Antônio Netto