Considerada uma das mentes mais brilhantes, abaixo dos 30 anos, pela revista americana Forbes, Karine Oliveira pretende mudar o mercado através da educação empreendedora
Por Douglas Santana, Edvânio Júnior, Matheus Souza, Monique Hellen e Silvana de Pinho
Revisão: Antônio Netto
Com o intuito de mostrar que o empreendedorismo pode ser uma alternativa de sucesso e uma solução para o desemprego, a Wakanda Educação é uma empresa que oferece imersões práticas, mentorias e cursos com conteúdos que traduzem o mundo dos negócios em uma linguagem ímpar, representativa e popular do soteropolitano.
A empresa foi fundada por Karine dos Santos Oliveira (28) (@karinewakanda), nascida e criada no bairro do Engenho Velho da Federação, em Salvador, graduanda em Serviço Social e Técnica em Viabilidade Econômica pela ITCP-UCSal (Universidade Católica do Salvador).
Num contexto onde existem mais de 12 milhões de desempregados no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a baiana mudou a realidade de vários negócios, com projetos para empreendedores que desejam alcançar o sucesso.
“A Wakanda nasceu como um negócio de impacto social, porque dentro da minha área de atuação, antes de criar a Wakanda, eu já trabalhava há cinco anos em assessoria de pequenos negócios e sempre voltado para a geração de renda coletiva, que a gente chama de economia solidária”, relata.
“Hoje, algumas englobam a economia criativa. Então, sempre trabalhei de forma a impactar toda aquela população que estava à margem da sociedade, sejam eles Quilombolas, comunidades indígenas, mulheres negras e pessoas que moram em áreas periféricas em geral”, completa Oliveira.
A empresária conta que o foco do seu negócio é, principalmente, a capacitação de públicos que precisam empreender por necessidade.
“Eu trouxe isso para a Wakanda, foi uma escolha estratégica, porque todo mundo que trabalha com empreendedorismo quer trabalhar com grandes empresas, mas ninguém olhava para quem empreende por necessidade. Foi assim que surgiu a Wakanda, como este Quilombo para atender toda essa galera que muitas das pessoas não enxergavam, mas que são essenciais para a construção de toda uma sociedade”, conta Oliveira.
Criado em 2018, o projeto foi juntamente lançado com o filme da franquia Marvel, “Pantera Negra”, e, por isso, a analogia com nome “Wakanda”, que representa um país fictício do continente africano. Desde então, o negócio já impactou cerca de mil empreendimentos periféricos.
“O estalo de abrir a empresa veio justamente quando assisti ao filme. Eu era graduanda em Serviço Social, em 2018, quando tive a ideia do que viria a ser a Wakanda, em um projeto da faculdade. Me apaixonei pelo que tinha escrito. Tinha saído empolgadíssima do cinema, após assistir ao filme do Pantera Negra e achei que Wakanda não podia ser só um lugar fictício”, explica a CEO da Wakanda Educação.
Sua maior referência foi sua mãe, que por sua vez, fazia um processo de empreendedorismo semelhante ao feito atualmente por Oliveira.
“As pessoas que mais me inspiram são: Katia Santos, que é minha mãe, pela história, pela trajetória e pela linguagem dela; outras pessoas que me inspiram são a Camila Farani, Nina Silva, Monique Evelle, por serem negras e empresárias. Ambas de idades diferentes, em contextos diferentes, mas que simplesmente foram lá e abriram as portas para que eu estivesse por aqui”, declara Oliveira.
Foi através deste projeto voltado para educação que Oliveira encontrou uma saída e uma verdadeira arma para ajudar a derrubar pouco a pouco os obstáculos. A CEO da Wakanda foi eleita uma das mentes mais brilhantes, abaixo dos 30 anos, pela revista americana Forbes.
“Ser nomeada pela Forbes foi a realização de um sonho, acho que é ponto auge. Isso foi muito representativo para mim e minha comunidade, também para os meus empreendedores. É a validação das validações. Você está realmente na Forbes e a partir disso ninguém teve mais dúvidas de que a minha metodologia funciona, que é extremamente importante”, ressalta.
“Foi surreal conquistar isso no apagar das luzes de 2020 e a gente soube usar isso de forma muito assertiva. Conseguimos acessar grandes empresas, como Linkedin, Visa, Natura e etc. Tudo isso graças à Forbes. Para uma menina da comunidade, do Engenho Velho de Brotas, sair na capa dessa importante revista e continuar morando lá, é o ponto auge de tudo”, orgulha a empresária.
Afroempreendedorismo – o trançado de milhões
O empreendedorismo acaba sendo uma alternativa para garantir o sustento. Foi esse o caso de Graziele Carrascosa. Sócia de uma empresa que precisou fechar após dificuldades financeiras, foi no artesanato inspirado no mar e no trançado de cabelos que encontrou a chance de voltar às suas origens, garantindo uma renda para seu sustento.
“O que me levou foi a necessidade. Eu passei por um tempo de luto, eu trabalhava numa empresa, era sócia de uma empresa. E com o advento do governo atual, o empreendimento acabou tendo que tomar novos rumos e, assim, apesar de muita luta da gente tentar manter de pé, a gente não conseguiu se manter na sociedade, e eu tive que sair. Nisso eu me vi meio que caindo num buraco”, conta Carrascosa.
“Voltei para as minhas origens, que estão associadas ao empreendedorismo, porque minha mãe sempre empreendeu. Como ela própria me disse, sempre correndo atrás. Então eu voltei para essas bases, porque sabia que dali eu poderia ter sustento”, explica a empreendedora.
O trançado é uma forma de empoderamento das mulheres negras contra a cultura do alisamento capilar. Recentemente, tem ganhado muitos adeptos e adeptas interessados em mudar o visual, ao mesmo tempo que não deixam de exaltar suas raízes.
“Depois de um momento, que retornei teoricamente à estaca zero, vivi esse momento de refletir, de digerir isso, como forma de me alavancar novamente, ressurgir e criar rumos. Eu voltei a fazer coisas que gostava e me faziam bem. Eu sempre gostei de trançar o meu próprio cabelo, então fiz vários penteados diferentes na minha cabeça. Caminhava na praia pela manhã, fazia minhas reflexões ao som do mar e ouvindo o som das conchas. Isso me ajudou a voltar a pensar nessa possibilidade: por que não trançar cabelo?”, conta.
“Então eu voltei. Através de uma vaquinha, fiz um curso de trança e fui trabalhando nisso, conhecendo mais essa área. Como gosto muito de conchas, acessei esse lugar para construir acessórios para cabelos com conchas. Fui mexendo nesse lugar das possibilidades e avançando”, relata a empreendedora.
A partir disso surgiu a Acal Mar (@_acal.mar), a empresa de Carrascosa que, junto com seu companheiro Rogério Oliveira, produz biojoias e produtos artesanais com objetos coletados do mar, como as conchas.
O casal produz peças que personalizam o penteado através do trançado. A empresa contou com o apoio da Wakanda Educação, que a ajudou a despertar esse lado empreendedora e a garantir sua própria renda. Atualmente, Carrascosa é Coordenadora de projetos na Wakanda.
“Após esse processo do luto e feito o curso de trança, comecei a colocar meu trabalho em prática. Fui tentando trançar, investir em acessórios e num bate-papo através do Instagram com Amanda, da Grana Preta (@granapretaoficial), ela me indicou para fazer o curso da Wakanda”, explica.
Carrascosa se inscreveu e uma imersão presencial de três dias com a Wakanda:
“O objetivo inicial era potencializar o meu empreendimento. Foram três dias maravilhosos, porque eu descobri que era possível, que minha ideia era boa. Na época, a empresa se chamava R&G, que são as minhas iniciais e do meu companheiro, Rogério, mas não sentia uma conexão com aquilo que eu queria apresentar”.
Após a experiência, Carrascosa se inscreveu para fazer arte do banco de talentos da Wakanda Educação e foi escolhida por Oliveira para ser coordenadora de projetos da empresa.
“Fiquei surpresa naquele momento, pois é mágico trabalhar nesse lugar onde faz com que os olhos das pessoas brilhem, fazendo com que a gente sinta a potência real. Eu gosto muito, de verdade, e fico feliz com todos os empreendimentos alavancados pela Wakanda”, conclui Carrascosa.
O empreendorismo nos trilhos
Para além do transporte de milhares de pessoas por dia, em Salvador e Lauro de Freitas, a CCR Metrô Bahia (antiga Companhia de Concessões Rodoviárias) busca apoiar o comércio local, através de cursos e projetos.
Em 2021, a empresa firmou uma parceria com a Wakanda Educação, através do projeto “Acelerando Seu Corre”, um projeto online com três fases desenvolvidas nas áreas de gestão financeira: corre, vendas no digital e planejamento.
Cerca de 350 empreendedoras baianas já haviam sido beneficiadas com capacitação profissional a partir desse projeto, que é um dos finalistas do Prêmio Todos pela Sustentabilidade, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Através do projeto proposto pela fundadora e CEO da Wakanda, Karine Oliveira, o Instituto CCR se tornou parceiro nesta empreitada, e iniciou no 1º semestre de 2021 o Acelerando seu corre 1. Com o grande sucesso do projeto, realizamos no 2º semestre o Acelerando seu corre 2.
O projeto é patrocinado pelo Instituto CCR e realizado na região da CCR Metrô Bahia, auxiliando no desenvolvimento de pequenos negócios, principalmente de mães, mulheres, empreendedoras por necessidade, ou seja, pessoas que têm esses negócios como a única fonte de renda da família”, explica Luana Xavier, analista de sustentabilidade da CCR Metrô Bahia.
A intenção da CCR Metrô Bahia é dar seguimento ao projeto em parceria com a Wakanda, com o “Acelerando seu corre 2”, após os bons resultados na primeira realização.
Oliveira deu mais detalhes sobre os números dessa colaboração:
“Na primeira edição do Acelerando, 70% das famílias possuíam renda familiar de até dois salários mínimos e na segunda edição, 83%. Também proporcionamos aos 10 finalistas de cada projeto a divulgação presencial dos seus negócios em uma das nossas estações de maior circulação de clientes e divulgamos em mais de 500 telas digitais, no nosso sistema”.
E complementa: “Atualmente, uma das dez finalistas do Acelerando Seu Corre 1, a Amanda da ‘Marargila’, é nossa parceira de negócios e comercializa seus produtos na estação Brotas, através de um projeto da CCR Metrô Bahia, o Nos Trilhos do Empreendedorismo”.
De acordo com a CCR, no total foram 570 pequenos negócios acelerados, 60 mentorias realizadas por lideranças da CCR e parceiras da Wakanda e 8 premiações, oriundas do valor simbólico, arrecadado nas inscrições.
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