A história musical da baiana vai além do samba e do axé. Conheça novos artistas de Salvador que apostam em outros ritmos musicais
Por Tairone Amélio
Revisão: Fernanda Abreu
Conhecida pelo forte movimento da alegria, da origem do samba à terra do axé, a Bahia também fascina em outras sonoridades.
A musicalidade dessa terra se espelha na diversidade dessa gente, e como já se cantarolava na música: “O quê que a baiana tem?”. A MPB, a bossa nova tem, o tropicalismo e o arrocha também… o que mais essa terra tem?
O histórico musical de Salvador revela muitos nomes que marcaram o som e influenciaram gerações brasileiras. Como a manhã e o carisma único do sambista Dorival Caymmi, revelando o que a baiana tem.
A filosofia do “maluco beleza”, Raul Seixas, e seu conhecimento de dez mil anos atrás, sem deixar a terra parar. O andar com fé de Gilberto Gil, mandando aquele abraço à rainha do Faraó soteropolitano, Margareth Menezes, fazendo esbanjar brilho de beleza.
Abrindo mais a roda, a ferveção dos anos 80 vibrou o carnaval de Sarajane e sua mistura em ritmo louco de reggae no embalo caribenho. Fazendo do jeitinho que ela gosta, Nara Costa mostrou toda a sensualidade sofrida do romantismo da morena do Rio Vermelho, arrochando ao som das percussões de Carlinhos Brown.
A sonoridade desses ritmos revela características únicas da terra de todos os santos, particularidades que só o dendê tem. Talentos espalhados pelas ruas soteropolitanas que estão aí e os que estão para surgir.
Nasce uma nova geração
Aflorando essas novas gerações, estão a cantora e compositora Thalita Evangelista e o guitarrista e compositor Filipe Souza, destacando outras musicalidades de Salvador.
Dona de uma sonoridade suave, a cantora carrega em sua natureza, um estilo pop rock simplificado, com performances variadas, que demonstram uma mistura divertida da MPB ao gospel, numa performance leve de rock’n roll.
“Nasci em um lar muito musical, meu pai sempre tocou instrumentos, minha mãe cantava na igreja. Meu pai colocava fones de ouvido na barriga de minha mãe quando ela estava grávida”, diz Evangelista.
Senhor de um metálico carregado, o guitarrista Filipe Souza enraíza em sua vivência o heavy metal, oriundo das garagens e subterrâneos urbanos, com riffs pesados e rápidos dos estilos deathcore com trap-metal.
“Tocar, fazer qualquer coisa relacionado com a música, para mim, é sempre um “passatempo”, nunca perda de tempo”, fala Souza.
Donos de gostos parecidos e estilos bastante diferentes, os artistas se entregam ao mundo da música, cada um a sua maneira.
Carregada de uma leveza cheia de graça, Thalita Evangelista tem paixão por tudo relacionado à sétima arte e seu gosto musical é um reflexo da diversidade artística que lhe caracteriza, contando com nomes como Coldplay, Beatles, Queen, Diante do Trono, Supercombo, Banda do Mar, Mallu Magalhães, Marcelo Camelo, Bandas de Reggae, entre outros.
“Um pouquinho de cada passa pela minha identidade, essa mistura me representa muito! Não gosto de dizer que sou eclética, porque tem coisas que eu não gosto, costumo dizer que eclético é sem critério e eu tenho bastante. Gosto de ouvir música boa, isso de diversos gêneros, aprecio muita coisa de samba a rock’n roll pesado”, acrescenta Evangelista.
Exorcizando seus demônios e elevando seu espírito aos deuses do metal, Filipe Souza ama tudo do universo do rock e do heavy metal, tendo como preferência estilos como o deathcore e metalcore, agregando em seu repertório pessoal sons como Ghostemane.
“Existem dois cantores que são das duas vertentes que eu tenha trabalhado ultimamente, que é do trap e metal. A do trap, uma de minhas maiores influências é o Ghostemane, é um gringo que faz um som que é um trap misturado com metal, que daí veio a ideia também de eu fazer um estilo de som similar”, fala Souza.
Thalita, que segue carreira solo, tem grande apoio de familiares e amigos. Inclusive, alguns chegaram a formar um grupo, incluindo seu irmão, para tocar com a cantora. Compartilhando canções de sua autoria e covers pelo Youtube, ela lançou um álbum intitulado “Primário” e o single “Eu Quero Ser Feliz”.
Filipe, que tem projetos individuais e já lançou a demo KavitraX – Escória, agora integra a banda “Solomon Kane”, um grupo ainda novo, mas que já conta com mais de trinta composições e apresenta uma sonoridade do metal moderno agregando alguns gêneros do heavy metal, tendo foco nos estilos de som do Deathcore e do Metalcore.
O processo da pandemia fez com que muitos dos projetos de Thalita Evangelista e Filipe Souza passassem por transformações para se adaptar. A cantora optou por ter uma maior interação nas redes sociais e o grupo do guitarrista adiou sua estreia no cenário alternativo.
Em um ponto em comum, os músicos concordam sobre a realidade da indústria musical soteropolitana e a falta de incentivo aos atuais e novos artistas que destoam do padrão compositivo da musicalidade midiática de Salvador.
Uma visão bastante pessimista que relaciona esse menosprezo não somente por parte das grandes produtoras, mas também das políticas de apoio cultural, que dificultam a visibilidade desses outros estilos musicais, relatam Thalita e Filipe.
“Sinto dificuldade na indústria musical baiana por uma questão cultural. Quando vai para outras vertentes, como a minha, indo para o pop, rock e gêneros alternativos, existem menos espaços. A indústria quer lucrar e o lucro está onde tem maior consumo. Mas existem sim, aqui, muitos artistas alternativos incríveis, como a Maglore, que ganhou o Brasil”, relata Evangelista.
“Sinto muita dificuldade pelos motivos que a gente consegue escutar e ver na TV, consegue perceber nos olhares que, porque faço um som que não é de matriz baiana, de origem brasileira, um som estrangeiro e que a galera não dá, de certa forma, muito valor. Apesar de que a cena de metal rock’n’roll baiana é extremamente forte, grande, mas ficam ocultas nas mídias tradicionais”, completa Souza.
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Produção e coordenação de pautas: Márcio Walter Machado