Por Amanda Souza
Estudante de Jornalismo da UNIFACS
É comum pensar que um jovem de 19 ainda não viveu grandes experiências. Na maioria dos casos, são pessoas que ainda estão morando na casa dos pais, preparando-se para entrar na universidade e buscando a primeira grande oportunidade profissional. Mas, como dizem, há exceções para toda regra.
Um jovem de nome Luís Eduardo Magalhães é um exemplo desse ponto fora da curva. Nasceu para o mundo justamente quando decidiu sair da casa dos pais para viver a sua nova realidade: a de município. Quando deixou de fazer parte de Barreiras, LEM, como é chamado, não passava de um ponto de apoio da BR 242. Hoje, 19 anos depois, é a capital baiana do agronegócio.
Localizado no extremo oeste da Bahia, terra do cerrado que já se confunde com os estados da região Centro-Oeste do país, o município de Luís Eduardo Magalhães tem se destacado como uma das cidades que mais crescem no país. É a principal referência da região Matopiba, fronteira agrícola do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O secretário de agricultura da Bahia, Lucas Costa, destaca as potencialidades da cidade. De acordo com ele “a agricultura é pujante, diversificada e de grande produtividade, possuindo grandes áreas irrigadas, já a pecuária é de alta qualidade tanto na área genética como tecnológica, como em demais municípios do Oeste”, pontua.
Décima maior economia do estado, a renda per capita do município é uma das maiores do país. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2016 o PIB per capita era de R$ 48.937,78.
A receita do crescimento e desenvolvimento acelerado da cidade, no entanto, não é segredo. A terra de chão batido e tons marrons, com a expansão agrícola, passou a receber indústrias voltadas para a produção de grãos.
Como pontua o titular da pasta agrícola no estado, “o agronegócio da Bahia sobressai no processo de desenvolvimento econômico do Estado, sendo responsável por 23,5% do seu Produto Interno Bruto (PIB), 32,5% do total de ocupações de mão de obra do agronegócio e 51% das exportações”.
O destaque desses esses números vai para o oeste do estado, onde cidades como Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério são referências no setor agrícola, movimento a economia da Bahia e fortalecendo o agronegócio como força motriz da região.
A vinda de indústrias, máquinas e produtores para a região e a expansão do agronegócio se deram pelos bons frutos de três culturas: hoje, a soja, o milho e o algodão são os principais commodities agrícolas do oeste da Bahia.
Apesar de a soja ser o carro chefe dessa expansão, outro grão está tomando a cena pelo bom aproveitamento. O algodão é a segunda maior cultura da região e vem apresentando excelentes resultados, principalmente pelo seu caráter sustentável.
A região é a segunda maior produtora de algodão do país. De acordo com dados da Secretaria de Agricultura da Bahia, em 2018, a Bahia foi responsável por 44,48% da produção total de grãos do Matopiba. Desse número, a cultura do algodão herbáceo rendeu 1.247.641 toneladas.
Em 2019, apesar da previsão de queda da safra baiana de grãos, dados do IBGE apontam que o algodão teve destaque positivo com crescimento de mais de 2,2% em relação ao ano passado.
A CULTURA
Pensando no potencial produtivo do algodão, muitos produtores da região têm apostado na cultura desse grão que, em função da inserção de tecnologias de ponta no mercado, tem se destacado por ser 100% aproveitado no processo de cultivo e beneficiamento.
Com o avanço da cultura, o Brasil recuperou a condição de exportador da pluma de algodão. De acordo com a Secretaria de Agricultura da Bahia (Seagri-Ba), o produto do algodoeiro baiano é exportado principalmente para Coreia, Turquia, Malásia, Portugal, Cingapura, Itália e Japão.
Sucesso no setor de exportação, os produtores passam, então, a dar mais atenção a cotonicultura. Como destaca o produtor Fábio Ricardi, proprietário da Fazenda Savana, em Luís Eduardo Magalhães, o trabalho é árduo e dura, em média, 12h por dia.
Ele pontua que, em sua propriedade, cerca de 160 pessoas são beneficiadas diretamente durante a safra. “A cultura do algodão, hoje, proporciona três vezes mais empregos que a de soja e milho, por exemplo/”, afirma.
Os bons ares que o algodão tem levado ao oeste baiano traz bastante otimismo aos produtores. Ricardi vê uma grande oportunidade no futuro já que, para ele, a região é bastante favorecida. “Nós temos um futuro enorme na região por causa da altitude, disponibilidade de água no subsolo. Isso é raro de encontrar. Com energia e tecnologia esse potencial pode ser quadriplicado”, garante.
O produtor ainda destacou a importância dos benefícios fiscais para a expansão da atividade. “Os benefícios são ótimos para manter a atividade competitiva. Sem os incentivos, essa área não seria o que é hoje”, afirma.
Um desses programas é o PROALBA, programa que concede incentivo de até 50% do ICMS na comercialização do algodão no mercado interno. Para isso, o produtor deve atender alguns requisitos tecnológicos, fitossanitários e de qualidade que são estabelecidos pelo programa.
A produção do algodão em Luís Eduardo Magalhães usa tecnologias de ponta. Fábio destaca que os produtores já estavam usando a melhor tecnologia disponível. No mundo a cotonicultura é baseada em agriculta familiar. “É só no Brasil, Argentina e nos Estados Unidos que há produção em alta escala, com corneta mecanizada e em grande volume. A nossa agricultura já é de ponta, por isso estamos tendo sucesso”, conta.
O grande problema da cultura é a praga. O bicudo-do-algodoeiro é considerado a principal praga da cotonicultura na América e é o pesadelo dos produtores. Os bichos de mandíbulas afiadas perfuram o botão floral e a maçã dos algodoeiros.
Para o combate, os produtores fazem uso de baterias com defensivos para matar o inseto. As fazendas são monitoradas e, quando a praga é identificada, os índices de controle estabelecidos pela ciência agronômica são avaliados. Se os níveis forem atingidos, serão necessárias pulverizações para eliminar a praga.
Ricardi garante que as pulverizações não agridem e nem comprometem a qualidade do produto. De acordo com ele, esse processo é fundamental para manter os bons números da safra. Por isso, o método é utilizado dentro dos níveis de controle e apenas quando necessário.
A preocupação com o meio ambiente também é um pilar na produção do algodão na Bahia. Segundo Júlio Cézar Busato, presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), cerca de R$ 11 bilhões são investidos em preservação. 20% da área de propriedades corresponde ao requisito de reserva ambiental.
AA Abapa é a responsável pela promoção do algodão baiano nos mercados nacional e internacioal. A história da associação, que nasceu em 2000, se confunde com a de Luís Eduardo Magalhães, onde em sedes de centro de treinamento e laboratórios que medem a qualidade da fibra do algodão.
Todos os setores da cadeia produtiva do algodão são atendidos pela Abapa. Isso inclui não só a pesquisa científica e os rigorosos testes de qualidade da fibra, mas cuidado com a logística de comercialização, o desenvolvimento de todos os profissionais envolvidos no processo e a produção sustentável.
O RESULTADO
O algodão produzido na Bahia é de fibra média e utilizado num consumo intensivo, como camisaria e jeans. Dentro do básico, produto é sucesso. Muito além da pluma, tudo é aproveitado desde que sai da lavoura. O produto principal do algodão, a pluma, sai da colheita e vai para uma usina de beneficiamento, onde é transformado na matéria da indústria têxtil.
Fernanda Zanotto, sócia proprietária da Zanotto Cotton, usina de beneficiamento em Luís Eduardo Magalhães, o principal objetivo é aproveitar o máximo da fibra. “Tudo aqui é aproveitado, nada da pluma vai embora. O descarte do processo de beneficiamento vira ração animal e compostagem e a gente consegue fechar o ciclo”.
Mas não só a pluma tem um destino. O caroço do algodão produz uma série de subprodutos. Na cadeia produtiva, a pluma sai da lavoura para o beneficiamento e o caroço para a indústria, onde é 100% aproveitado.
Sem gerar resíduos sólidos, o caroço do algodão, em processo de beneficiamento, é capaz de ser transformado em produtos variados, como a torta e o farelo de algodão, produtos de alto valor proteico utilizados na nutrição animal. Há ainda a produção de óleo extraído do caroço que pode ser utilizado em cozinha.
Mas o principal derivado do caroço do algodão é o linter, fibras retiradas da superfície do caroço que são destinadas a fabricação de placas de vídeo, viscose, papel moeda e telas de LCD e LED. Na Icofort, empresa com sede em LEM responsável pelo beneficiamento, são produzidas cerca de 7000 toneladas se linter – e quase tudo é exportado para o Japão.
Os resultados do algodão são excelentes e contribuem muito para o desenvolvimento do oeste da Bahia. Considerada a “galinha dos ovos de ouro” pelo potencial agrícola, o caráter sustentável da produção baiana deu ao oeste baiano a chance de ser o ponto de partida para criação do selo que garante a qualidade e a origem do algodão no país, o Pure Brazil Cotton.
Olhar o passado e ver como em menos de 20 anos o agronegócio foi capaz de erguer uma cidade com elevados números de crescimento é um combustível para pensar no futuro que e a agricultura pode proporcionar ao oeste da Bahia.
Apesar dos poucos 19 anos, Luís Eduardo Magalhães é exemplo de que a responsabilidade em seus três pilares, a econômica, a social e a ambiental, pode semear, mesmo numa terra praticamente improdutiva, desenvolvimento.
Ola bom dia..Preciso de um contato direto um produtor de soja